DOM PEDRO

Nova pista toma lugar de figueira centenária

Corte de árvore centenária para obras ocorre há uma semana e foi feita com licença da Cetesb

Patrícia Azevedo
24/05/2013 às 08:53.
Atualizado em 25/04/2022 às 14:43
Operários com motosserras e machados cortam o que ainda sobra da antiga figueira, de dez metros de diâmetro e seis de altura, que era referência às margens da D. Pedro ( Edu Fortes/ AAN)

Operários com motosserras e machados cortam o que ainda sobra da antiga figueira, de dez metros de diâmetro e seis de altura, que era referência às margens da D. Pedro ( Edu Fortes/ AAN)

A imponente figueira que indicava, às margens da Rodovia D. Pedro I, o caminho para a PUC-Campinas e Parque das Universidades, foi completamente arrancada pela concessionária Rota das Bandeiras. A retirada da árvore, que tinha pelo menos dez metros de diâmetro e seis de altura, está sendo feita de forma lenta e já dura uma semana. Ainda ontem, pelo menos três homens munidos com motosserras trabalhavam para retalhar a base do tronco da árvore, um processo que a natureza demorou mais de 100 anos para construir. “É uma tristeza, essa árvore era centenária, estava incorporada à paisagem da região”, comenta a engenheira agrônoma e pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais da Unicamp, Dionete Santin.

A concessionária Rota das Bandeiras afirma que a retirada da árvore é necessária para a ampliação das faixas de rolamento da Rodovia D. Pedro, e diz que tem as licenças ambientais necessárias emitidas pela Cetesb para suprimir a vegetação da área.

Quem passa diariamente pelo local, porém, sentiu o vazio na paisagem. “É uma tristeza muito grande passar por aqui e não ver mais a árvore. Era uma paisagem que eu via todos os dias indo para o trabalho”, comenta a secretária Carla Aparecida Góes.

A universitária Rafaela Mendes diz que entende a necessidade de ampliar a rodovia, mas não deixa de ficar triste por causa da retirada. “Não vai ser a mesma coisa passar por ali e não ver a árvore. É uma tristeza”, diz.

Dionete explica que a árvore demorou várias décadas para chegar ao tamanho que tinha antes de ser cortada. A Ficus elástica ou figueira, é também conhecida como falsa-seringueira e emite raízes a partir de todos os galhos. “Essas raízes servem para escorar a copa, surgem como fios que ficam dependurados nos galhos e depois se fixam no solo e se desenvolvem uns ao lado dos outros, formando verdadeiros pilares de sustentação da copa, que normalmente é ampla e pesada”, explica Dionete.

A especialista conta que as raízes vão se desenvolvendo e aumentando em diâmetro, também ficando justapostas ao tronco principal e entre si conferindo aspecto de um enorme tronco. “Essa espécie carrega consigo um verdadeiro projeto de engenharia que lhe permite ir fazendo a sua ampliação em diâmetro do tronco e da copa, garantindo de forma segura e inteligente a sua sustentação através daquelas raízes escoras. É uma grande perda”, afirma a especialista.

Dionete lamenta a retirada da árvore, mas reconhece que a medida se fazia necessária para as obras de construção da marginal. “É triste, mas a cidade está travada, tem congestionamento todo dia na D. Pedro. Eu moro ali perto, é um choque na diferença da paisagem, vai ficar um vazio, mas tem algumas coisas que infelizmente o progresso acelerado impõem.”

Compensação

O processo de retirada da árvore, que fica na altura do Km 134 da rodovia, começou na última sexta-feira e deve ser concluída apenas amanhã. A compensação ambiental da vegetação suprimida foi feita no mês de fevereiro. Cinquenta estudantes da Escola Estadual Professor Adiwalde de Oliveira Coelho participaram do plantio de 3,9 mil mudas no Instituto Agronômico de Campinas (IAC).

Arborização

Especialistas ouvidos pela reportagem consideram que a figueira não é uma árvore nativa e não está ameaçada de extinção. Eles dizem, no entanto, que a compensação pelo corte dela deveria ser feita em vários bairros da cidade onde não há arborização.

Os restos da figueira, explica a concessionária Rota das Bandeiras, serão triturados e transformados em biomassa para a geração de energia.

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