meio ambiente

Nova Odessa faz 'alquimia' ecológica

Segundo o diretor, Chiaradia já trabalhava com a técnica em uma fazenda em Agudos (SP) e tinha resultados positivos que mostravam a eficiência

Adriana Giachinni
08/08/2019 às 09:46.
Atualizado em 30/03/2022 às 22:23

Após três anos de estudo e investimentos de quase R$ 2 milhões, a Prefeitura de Nova Odessa e a Companhia de Desenvolvimento de Nova Odessa (Coden) inauguraram ontem a primeira Usina de Compostagem de Lodo de Esgoto da RMC (Região Metropolitana de Campinas). Por ela, será possível tratar os resíduos de lodo da rede de esgoto e transformar em fertilizante orgânico, para uso em praças, parques, jardins e áreas de reflorestamento do município. A usina começou seu funcionamento em 1º de julho e tem capacidade para produzir até 160 toneladas de adubo por mês. “Acreditamos que já no primeiro mês estaremos bem próximos desse número”, disse Ricardo Ongaro, diretor presidente da Coden. A busca por uma forma alternativa na destinação para esse material teve início em 2015 quando a cidade, de aproximadamente 60 mil habitantes, passou a contar com 100% de tratamento de esgoto. “Com isso, aumentou muito a demanda de lodo e consequentemente o custo do município para o descarte dele. Assim começamos a buscar alternativas e ficamos sabendo dessa técnica por um engenheiro da cidade, o Jonas Jacob Chiaradia”, conta Ongaro. Segundo o diretor, Chiaradia já trabalhava com a técnica em uma fazenda em Agudos (SP) e tinha resultados positivos que mostravam a eficiência do novo modelo. “Os benefícios são inúmeros, principalmente para o meio ambiente. Mas é importante dizer também que a partir de agora estamos seguindo o que determina a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Brasil, 2010), que proíbe o aterramento de resíduos orgânicos, tal qual lodos de esgotos sanitários, determinando que esse material seja reutilizado antes da disposição final no ambiente.” Antes do funcionamento da usina, todo o lodo de Nova Odessa era depositado em aterros sanitários, gerando um custo mensal em torno de R$ 50 mil. “Isso sem falar nos gastos com energia e também no fato de que o lodo, apesar de centrifugado, é composto por 80% de água, o que gera muita umidade nos aterros. Com o tratamento, a água é evaporada, o lodo junto com o material de poda vira aduba e ainda podemos reciclagem o lixo que vem dos rios. É o que chamamos de circuito fechado.” Orgânico O adubo orgânico de Nova Odessa, segundo o diretor do Coden, é ideal para a agricultura de itens como café, laranja ou eucalipto, entre outros, sendo um material rico em nutrigênio. "Nós temos a intenção de comercializar esse produto futuramente o que, além de gerar renda para a cidade, ajuda na conscientização da população. Eu penso que devemos ficar feliz por cada consumidor que optar pelo nosso adubo 100% orgânico deixando os que utilizam produtos químicos como um ganho para o meio ambiente". Nesta semana, o prefeito Benjamin Bill Vieira de Souza (PSDB) mostrou-se otimista com o avanço da cidade. “É um projeto arrojado e inovador na região, que vai tornar nossa Estação de Tratamento de Esgoto 100% sustentável. Hoje, coletamos o esgoto da cidade, tratamos e o devolvemos para o Ribeirão Quilombo em forma de água limpa. Agora, com a usina, também vamos transformar o lodo em adubo”, avaliou. Como funciona A usina de compostagem funciona num barracão de 1.250 metros quadrados, construído na área da ETE Quilombo, Estação de Tratamento Esgoto coletado no município. A compostagem consiste na mistura do lodo de esgoto com restos de podas de árvores e substâncias químicas, como óxido de cálcio e calcário. A licença para operação da usina foi emitida no final de junho pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo). Ongaro destaca que a usina aumenta a participação do município na preservação do meio ambiente e abre a possibilidade para a criação de um novo produto. "Nós produzimos água tratada para quase 60 mil pessoas e estamos fazendo testes com água de reuso em empresas. Com a compostagem, teremos adubo orgânico, que também poderá ser comercializado", explica Ongaro. A Coden pretende comercializar o adubo orgânico (fertilizante orgânico composto classe "D") para o uso agrícola, criando também uma nova fonte de receita para o município. Para isso, a companhia vai buscar a certificação orgânica no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A ETE Quilombo trata, em média, 130 litros de efluentes por segundo e gera aproximadamente nove toneladas de lodo por dia. Estudo da Embrapa indica excelência da matéria-prima Com dados apresentados no ano passado, uma pesquisa conduzida pela Embrapa, em cooperação com a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), do Rio Grande do Sul, confirmou que o lodo proveniente de estações de tratamento de esgoto é excelente matéria-prima de substrato para mudas, por exemplo. No estudo, iniciado em 2015, foram apresentados resultados de produtividade de fitomassa entre 10% e 20% superiores quando comparados a alguns substratos comerciais utilizados como referência. Além de excelente para as plantas, a utilização do lodo, destacou o estudo da Embrapa, promove uma destinação limpa a esse resíduo, contribuindo para a sustentabilidade ambiental. Porém, esse trabalho-piloto, que foi realizado em solo gaúcho com lodos de quatro diferentes regiões do estado, alertou pra o fato de que esses resíduos não podem ser aplicados diretamente no solo ou substrato, sob risco de contaminação. Por isso, é importante o tratamento desses lodos. Os Lodos de Estação de Tratamento de Esgoto (Letes) são gerados a partir da biomassa microbiana que decanta durante o processo de tratamento do esgoto bruto, no qual os microrganismos decompositores e a própria matéria orgânica digerida do esgoto se acumulam no fundo dos tanques das Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs). Esse lodo é rico em nitrogênio, fósforo, cálcio e magnésio, e contém ainda vários micronutrientes, mas oferece risco à saúde humana se não for desinfetado corretamente. Além dos processos conhecidos e normatizados pela legislação brasileira para a higienização de Letes, a pesquisa da Embrapa segue avaliando o processo de carbonização para que ele seja melhor utilizado no meio agrícola. A pesquisa coletou e caracterizou física, química e biologicamente os resíduos de Estações de Tratamento de Água (ETAs) nos municípios de Gravataí, Rio Grande e Santa Maria; e de ETEs em Passo Fundo, Rio Grande e Santa Maria. O pesquisador coordenador é Adilson Luís Bamberg. SAIBA MAIS Conhecida como o processo de reciclagem do lixo orgânico, a compostagem transforma a matéria orgânica encontrada no lixo em adubo natural. Podendo ser utilizado na agricultura, e assim substituindo os produtos químicos, em jardins e plantas. O processo também contribui para a redução do aquecimento global. Isso porque este material quando entra em decomposição, seja nos lixões ou aterros sanitários, gera o gás metano, um dos principais causadores do efeito estufa.

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