Lojas de rua, shoppings e cultos religiosos reabrem hoje ao público, das 11h às 19h, com 25% da capacidade de lotação (Diogo Zacarias/ Correio Popular)
O sentimento entre os comerciantes de Campinas é de desconfiança e incerteza diante da nova fase de flexibilização gradual da quarentena que se inicia hoje. O comércio local não demonstra estar animado com a chamada "fase de transição" — anunciada pelo prefeito Dário Saadi (Republicanos) —, que diminui as restrições aos serviços não essenciais durante as próximas duas semanas. Com a reabertura, lojas de ruas e shoppings ficam autorizados a funcionar das 11h às 19h e a receber um público de até 25% da capacidade do local.
Ontem, na véspera do início da nova fase, a vendedora Ísis de Oliveira, 23 anos, que trabalha em uma loja de variedades na Rua 13 de Maio, no Centro, admite que está com "receio" da reabertura gradual.
Ela conta que a loja teve que dispensar seis funcionários desde o início da pandemia do novo coronavírus. Com a reabertura no fim do ano passado, dois trabalhadores foram recontratados, mas logo tiveram que ser demitidos novamente devido ao fechamento nas últimas semanas. "Tem sido muito difícil para nós. É muita incerteza, especialmente por conta das demissões. Espero que, dessa vez, a reabertura ocorra de fato e permanente. Nós nos preparamos para voltar a receber o público e para seguir as medidas sanitárias", relata.
Próximo da loja de Ísis, há quem está ainda mais pessimista quanto à possibilidade do comércio realmente ser mantido aberto e poder atender os clientes. Para Renata Ferreira, 25, a fase de transição deve durar somente duas semanas. "Acredito que só vamos ter essa reabertura agora por conta do Dias das Mães, que é um período mais forte de vendas. Mas assim como foi no Natal, acho que logo teremos que fechar de novo", opina.
A teoria sobre a reabertura temporária para o Dias das Mães também ganhou força entre as lojas da Avenida Francisco Glicério. Aline Correa dos Santos, 25, trabalha em uma loja que vende artigos variados. A vendedora afirma estar "confusa" com o abre e fecha do comércio em Campinas. Ela reconhece a necessidade da quarentena "para barrar a transmissão do vírus", mas afirma que tem sido bem difícil realizar vendas suficientes para a sobrevivência do negócio.
"Eu confesso que estou bastante confusa. Sinceramente, acredito que, no próximo mês, vai fechar tudo de novo. Assim como foi no Natal, em que pudemos abrir, acho que só estamos voltando agora por conta do Dia das Mães. Logo, teremos que fechar e isso complica a vida de quem depende das vendas", conta.
Apesar da maioria dos comerciantes se mostrar desconfiada, há também quem esteja otimista com a reabertura. Andreia Oliveira, 40, é gerente de uma loja de artigos para casa na Avenida Glicério. Ela conta que os fechamentos determinados ao longo da pandemia comprometeram o faturamento da loja, porém, comemora por não ter precisado demitir nenhum funcionário. Embora considere "tudo muito incerto" com a nova reabertura, a gerente mostra confiança.
"É importante voltar a receber o público, pois o cliente quer tocar no produto e sentir o material e tecido da cortina, lençóis e colchas, por exemplo. Apesar da incerteza, estou confiante sim. Acho que, acima de tudo, devemos acreditar que as coisas vão melhorar", exalta Andreia.
O abre e fecha do comércio ao longo da pandemia foi um erro, na visão de Flaviano Ferreira, 41, proprietário de uma loja de capas e artigos para celulares. Segundo ele, "não há confiança" de que agora a reabertura será permanente. Flaviano critica as restrições ao comércio e classifica como "hipocrisia" as medidas de restrição.
"Não acho que essa reabertura está garantida. O certo era ter fechado tudo, todos os setores, sem exceção. A gente teve que fechar para evitar a transmissão, mas vemos os bancos funcionando normalmente. Eles não recebem o público, que fica aglomerado em filas enormes na porta", critica.
Na Rua Doutor Quirino, o clima era de um misto de confiança e crítica. Para Adriana Bueno, 45, vendedora em uma papelaria, o sentimento é de "esperança". Ela conta que desde o início da pandemia, o faturamento da empresa caiu de 30% a 40%. Segundo Adriana, a continuidade da fase de transição e a total reabertura dependem da população de Campinas.
"Estou torcendo para que possamos seguir, pelo menos, com essa autorização de atendimento de 25% da capacidade dentro da loja. Se essa fase vai permanecer, é algo que depende do povo, de evitar aglomerações e respeitar as medidas", diz Adriana, que também fez uma crítica aos critérios de fechamento na cidade.
"Precisamos que as pessoas tenham consciência do que é necessário fazer, mas também é importante falar que há muita contradição dos governos, já que vemos muitos ônibus lotados todos os dias", destaca.