QUADRO PREOCUPANTE

Nos primeiros dez dias de 2024, Campinas registrou 134 casos de dengue

Mais da metade dos episódios ocorreu no Jardim Eulina, que na quinta-feira (11) foi alvo de uma “operação de guerra” promovida pela Prefeitura para combater a doença

Edimarcio A. Monteiro/ edimarcio.augusto@rac.com.br
12/01/2024 às 08:45.
Atualizado em 12/01/2024 às 08:45

Na operação realizada no Jardim Eulina, um dos bairros de Campinas que apresentam alto risco de transmissão da dengue, a Prefeitura utilizou drones para identificar a existência de possíveis criadouros do Aedes aegypti nos quintais das residências (Alessandro Torres)

Campinas registrou 134 casos confirmados de dengue nos dez primeiros dias de 2024, média de um a cada pouco menos de 2 horas. O balanço foi divulgado na quinta-feira (11) pela coordenadora da Vigilância Sanitária Norte, Daniela Hilbert Krutinsky, no lançamento do que a Prefeitura batizou como "operação de guerra" contra a doença, promovida na região do Jardim Eulina, que concentra a maioria das notificações positivas. No Centro de Saúde do bairro, que atende outras áreas próximas, ocorreram 74 registros este ano, o equivalente a 55,22% do total.

Esse quadro foi classificado como "preocupante" pelo prefeito Dário Saadi (Republicanos), que acompanhou na quinta-feira (11) o início das ações. "Nós tivemos no ano passado o sexto ou sétimo maior número de casos da história. A situação é preocupante sim, por isso estamos aqui hoje. A Prefeitura está mobilizada para poder conscientizar, para poder trabalhar com a população", afirmou. A cidade contabilizou 11.118 casos confirmados e três óbitos pela doença em 2023 - dados parciais até quarta-feira (10), de acordo com balanço divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde.

A operação de guerra iniciada na quinta-feira (11) envolve uma equipe multisetorial, com a participação de 37 agentes de saúde, 37 militares do Exército, Defesa Civil, Guarda Municipal, funcionários para mutirão de limpeza e uso de três drones para sobrevoar imóveis e ajudar a identificar possíveis criadouros do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya. A previsão era de que as equipes visitem cerca de 4 mil imóveis entre quinta-feira sexta-feira de manhã, quando termina essa etapa. Uma nova incursão nessa região está programada para o próximo dia 20, um sábado. 

DIFICULDADES

Parte dos moradores continua resistindo a permitir a vistoria de suas casas por agentes de saúde, apesar do avanço da dengue. Em meia hora, uma das equipes de saúde foi proibida de vistoriar dois imóveis na Rua Sebastião Alves. Em um deles, um homem justificou que a filha era funcionária pública e não deixava acumular água. Em outro, o morador não deu nenhuma justificativa, mas o sobrevoo feito com drone pela Defesa Civil constatou a presença no quintal de barris destampados e com água, que podem servir de criadouro para o mosquito transmissor da doença.

O equipamento foi usado após alerta feito por vizinhos da existência dos tonéis. Nos casos de negativa de acesso, os proprietários são notificados a procurar a Vigilância Sanitária em dez dias para agendar a vistoria in loco. Se o dono não tomar a iniciativa, outras medidas poderão se adotadas, mas não foram divulgadas quais. Apesar das dificuldades de acesso, o prefeito descartou a possibilitar de multar o proprietário do imóvel, medida que já foi usada em outros governos de Campinas. "São milhares, milhares e milhares de casas em Campinas, não dá para ficar punindo todo mundo. O que a gente quer é conscientizar a população", argumentou Dário Saadi.

A entrada à revelia, com o apoio de chaveiro e da Guarda Municipal, está prevista apenas em imóveis fechados, sem sinal de presença de moradores, ou abandonados, medida respaldada em decisão judicial de 2020, proferida nos autos do processo judicial n.º 1005810-97.2014.8.26.0114, da 1ª Vara da Fazenda Pública de Campinas. Além do número de casos de dengue, a região do Jardim Eulina foi escolhida para o início da operação de guerra porque no mutirão anterior realizado no bairro, em 16 de dezembro, 57% dos imóveis deixaram de ser vistoriados porque estavam fechados, desocupados ou porque o acesso foi impedido por parte dos moradores.

"Essa ação grande, que estamos chamando de operação de guerra, que envolve várias secretárias, Defesa Civil, Guarda Municipal e Exército, é para tentar baixar essa tendência, que são moradores que não permitem a entrada dos agentes de saúde ou são imóveis realmente fechados", acrescentou Daniela Krutinsky. De acordo com ela, 80% dos criadouros do Aedes aegypti estão dentro das residências.

APELO

Segundo balanço da Prefeitura, de janeiro a 18 de dezembro de 2023, foram visitados 1.189.733 imóveis em Campinas, sendo identificados criadouros em 85.302, o correspondente a 7,17% - um em cada 15. Entre os pontos encontrados com larvas do mosquito, 72% estavam em vasos e pratos de flores e plantas, latas, garrafas, baldes e materiais de construção.

Dário Saadi reforçou o apelo para que a população participe voluntariamente da operação e permita a vistoria domiciliar. "É importante tentar conscientizar a população para permitir a entrada dos profissionais de saúde. Se não permitir, fica complicado", afirmou o prefeito. "Eu entendo que a população tenha medo de algum assalto, de roubo. Mas, tendo a presença da Guarda Municipal, da Emdec, do Exército, dos agentes de saúde, não é para ter preocupação. Ninguém quer vasculhar, punir as famílias. A gente quer orientar as famílias aonde pode estar acontecendo a proliferação do mosquito", insistiu.

A manicure Benedita Donizete da Rocha Oliveira apoiou a ação contra a dengue realizada no Jardim Eulina. A filha dela, que foi diagnosticada com dengue esta semana, mora a poucos metros de um imóvel fechado onde o uso de drone localizou lixo acumulado no quintal. "Ela passou muito mal, foi para o hospital com dor de cabeça, febre. Foi feia a coisa", afirmou a mãe.

Para Benedita de Oliveira, "é bom divulgar a operação porque muitas pessoas não deixaram os agentes entrar nas casas. A gente precisa se cuidar". A dona de casa Dirce Gava Barbosa tomou a iniciativa de chamar as equipes para vistoriar a sua casa porque teria que sair no final da manhã. "Meu marido está muito preocupado. Ele perdeu o sossego", disse. Ela explicou que a reação é em virtude de um vizinho ter contraído dengue e ter passado mal entre o final de dezembro e o começo deste mês.

"Eu não deixo água parada em garrafas ou vaso de flores", disse outra moradora, Maria de Souza Benedette, após receber visita da equipe da saúde. A dona de casa afirmou estar preocupada com o avanço da dengue no bairro e defendeu a ação dos agentes de saúde. "É importante essa operação e o apoio das pessoas. Tem muitos casos no bairro", pontuou a bancária Laura Evaristo de Faria.

A prima dela, que mora próximo de sua casa, teve dengue há poucos dias. "Ela ficou bem mal", contou Laura. A Prefeitura pretende realizar a ação em outros bairros de Campinas, que serão definidos a partir da avaliação feita pela Secretaria Municipal de Saúde. No sábado passado (6), a Administração fez o primeiro mutirão de 2024 em sete bairros: Jardim Santo Antônio, DICs 3, 4 e 5, além de trechos dos bairros DIC 6, Jardim Rosalina e Jardim Santos Dumont.

O boletim divulgado na segunda-feira (8) pela Secretaria de Saúde apontou que, além do Eulina, mais oito bairros estão em alerta por causa da dengue, uma vez que apresentam elevado risco de transmissão ou em virtude de casos confirmados e suspeitos da doença. Estão na lista o Centro, Botafogo, Vila Itapura, Jardim Novo Maracanã, Parque da Fazenda, Vila Vitória, Parque Aeroporto e Recanto do Sol I.

Há risco de dengue grave quando uma pessoa é infectada por um tipo diferente ao anterior. Para acabar com a proliferação do mosquito é preciso evitar qualquer acúmulo de água, principalmente em latas, pneus, pratos de plantas, lajes, calhas e outros objetos. É importante, também, vedar a caixa d'água e manter fechados vasos sanitários inutilizados.

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