CAMPINAS

Nem concurso atrai médico para trabalhar na periferia

Apenas 13 das 42 vagas nos quatro pronto atendimentos da cidade foram preenchidas

Bruna Mozer
03/08/2013 às 05:30.
Atualizado em 25/04/2022 às 06:37

O concurso público aberto pela Prefeitura de Campinas na tentativa de resolver o déficit de médicos na rede pública não surtiu efeito. Os quatro prontos atendimentos (PA) da cidade conseguiram suprir somente 30% das vagas abertas. Dos 42 lugares nas unidades, apenas 13 foram preenchidos. A situação mais crítica é a do PA do Campo Grande, onde nenhum novo médico quis assumir uma função. Somente quatro que já trabalhavam na unidade por meio de contrato temporário deverão permanecer efetivados. No pronto atendimento, segundo informações da Secretaria de Saúde, há 15 vagas para serem preenchidas. Essa unidade com melhor infraestrutura da cidade. No entanto, por falta de profissionais, o número de consultas chega a cair de 500 por dia para cem, uma vez que os pacientes têm de ser dispensados porque não tem médicos para atendê-los. Diante do quadro, o Executivo vai iniciar, mais uma vez, as contratações temporárias.A única unidade que conseguiu preencher 100% dos lugares foi a do Centro, onde seis vagas foram ofertadas e escolhidas. No PA da Vila Padre Anchieta, dez vagas foram abertas, mas somente dois médicos optaram por essa unidade. No PA São José, na região do Jardim das Bandeiras, das 11 vagas, apenas cinco foram preenchidas. Nos prontos atendimentos, a carga horária média é de 24 semanais, que geralmente é a mais escolhida pelos profissionais. Ao todo, 243 passaram no concurso público. O balanço geral não foi divulgado, mas o secretário de Saúde, Carmino Antonio de Souza, estima que nos postinhos de saúde a adesão tenha sido maior: de 70%.No final de junho, o prefeito Jonas Donizette (PSB) anunciou a convocação dos médicos como a solução para o déficit em Campinas. Chegou a divulgar aumento no salário e melhorias nos benefícios pagos aos profissionais como forma de atrair mais interessados, principalmente nas áreas de urgência e emergência. Preocupado com o desgaste na Saúde, o prefeito contrariou o secretário e inscreveu Campinas no programa Mais Médicos, do governo federal, e poderá receber 18 médicos.Campo GrandeA reportagem esteve no PA Campo Grande na tarde de quinta-feira (1): é o dia mais crítico porque a escala de plantões é a mais deficitária, além do final de semana. A unidade estava vazia porque havia só um médico atendendo apenas os casos de emergência — situações graves em que o paciente chega dentro de uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) —, além de outros dois pediatras. Pacientes adultos que deveriam ser atendidos por clínicos eram dispensados e orientados a procurar outro PA, especificamente o do Centro, onde o quadro de médicos estava mais completo naquele dia.Os funcionários da unidade passaram praticamente o dia todo ociosos. Na grande recepção do PA, durante a tarde, cinco mães aguardavam os filhos serem consultados. Os corredores da unidade estavam vazios. Embora não seja a mais nova, esse pronto atendimento é o que possui melhor e mais moderna infraestrutura. Segundo o coordenador do PA, Marcos Firmino, a capacidade de atendimento é de 500 pessoas por dia. Mas em dias como o de quinta-feira, a demanda cai para menos de cem, inutilizando o espaço. Cansados de informar sobre a falta de médicos, os funcionários criaram um cartaz na recepção onde colocam placas móveis informando o número de profissionais todos os dias.Firmino também contrariou o número de vagas abertas informado pelo secretário. Segundo ele, se for considerar a carga horária de 24h semanais, seriam necessários 18 clínicos e sete pediatras. “Temos um bom ambiente de trabalho, mas permanece o fantasma de trabalhar em locais mais afastados. Os médicos têm medo de trabalhar em lugares distantes, longe de hospitais, UTI’s (unidade de terapia intensiva)”, disse. O pedreiro aposentado Domingos Arena, de 66 anos, morador do Parque Valença, procurou atendimento por causa de dores de estômago, mas teve de voltar para a casa. “Isso é um desgoverno. Entra prefeito e sai prefeito e tudo continua na mesma”, disse. Ele foi orientado a procurar atendimento no Centro.A técnica em farmácia Taís Nunes Cardoso, de 18 anos, estava passando mal, com problemas de pressão baixa e desistiu de procurar um médico. “Me disseram para ir procurar ajuda no Centro, mas prefiro ir embora pra casa.” Taís deixou o PA, passando mal, e tomou um ônibus para sua casa.O secretário de Saúde admite que a situação não é a ideal e afirmou que o Executivo não vai parar de tentar contratar mais médicos. Segundo ele, a abertura de vagas temporárias pode atrair mais profissionais. No final do ano, afirmou, há mais oferta de médicos. “Muitos alunos terminam a residência no segundo semestre e estão à procura de trabalho”, disse. Segundo ele, melhorias no salário e benefícios não são necessárias. “Fizemos uma análise com o RH (Recursos Humanos) e o de Campinas é altamente competitivo.”

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