NATUREZA

Natureza pulsa no Parque Ecológico de Campinas

Parque Ecológico é um celeiro de animais do campo e da Mata Atlântica

Cecília Polycarpo e Edu Fortes
09/06/2013 às 12:44.
Atualizado em 25/04/2022 às 12:53

O cabeça-seca anda calmamente na água rasa da lagoa antes de dar o bote na presa escolhida. Em uma das ilhas, o arisco ratão-do-banhado também sai para caçar, enquanto o calango toma, tranquilamente, sol em uma pedra no meio do campo. Do alto, o gavião carijó observa todo movimento e, como um segurança vigilante, emite sinais de alerta para toda floresta quando algum estranho invade o habitat.

A menos de cinco quilômetros do Centro de Campinas, a natureza pulsa. O Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim, na região Leste, é um celeiro de animais do campo e da Mata Atlântica. Em passeio de apenas uma hora pelas trilhas da área verde, é possível ver dezenas de espécies nativas. O Correio esteve no local e flagrou sanhaços, anus brancos e pretos, corujas-buraqueiras, gaviões-carijós, saguis, biguás, marias faceiras, joões-de-barro e maguaris, entre outros bichos. A beleza da fauna e da flora é tão exuberante que se sobrepõe ao mau estado de conservação e as falhas de infraestrutura da área verde.

O lago na entrada do parque é habitat ideal para garças, patos e mamíferos roedores, que vivem nas porções de terra cercadas de água. As aves aquáticas costumam caçar nas primeiras horas da manhã e no fim da tarde. No período, é possível ver o balé dos pássaros para atrair as presas. O cabeça-seca, por exemplo, observa o peixe pelo lago e abre a asa para “cercar” sua refeição. O ratão-do-banhado também come peixes, mas, menos exigente, também aceita raízes, plantas aquáticas e grãos.

O prado é área das aves de rapinas. O gavião-carcará e o gavião-carijó disputam os filhotes de pequenos mamíferos e anfíbios. E são nos troncos retorcidos das árvores baixas do campos que se agrupam os anus-brancos e pretos, biguás e a pomba asa branca. Já na mata, às sombras das árvores, se refrescam os pequenos pássaros, como as andorinhas e a lavadeira-mascarada.

O Parque Ecológico tem mais de um milhão de metros quadrados, porém, mais de 50% de sua extensão hoje é descampada. O fragmento de floresta, que é área de proteção ambiental, não tem mais ligações com outras matas do município. “O parque acabou ficando isolado, cercado de condomínios fechados. Isso causa certo desequilíbrio ambiental, como a proliferação de capivaras, por exemplo. A onça, principal predador do roedor, hoje é rara na região”, explicou a bióloga Lilian Renata Sikoski, que pretende fazer um levantamento das espécies nativas remanescentes no local.

Ainda assim o parque preserva muito de sua flora e fauna original, segundo a especialista. “É uma pena que a área sofra com a falta de manutenção, porque é um dos locais com mais diversidade de animais de Campinas” , explicou Lilian. No final de maio, o governador Geraldo Alckmin concedeu por 99 anos toda a área do parque à Prefeitura de Campinas, mas a Administração informou que, por enquanto, o Estado ainda é responsável pela manutenção. A Administração também prepara licitação para construir o Teatro de Ópera Carlos Gomes no local.

“Não acredito que a obra vá afugentar as espécies. É importante que o parque tenha chamarizes como o teatro, para despertar o interesse da população para o local. Isso ajuda na manutenção da infraestrutura do parque como um todo”, disse o biólogo Gustavo Henrique Lopes Garcia. No entanto, alguns cuidados devem ser tomados, como evitar superfícies de vidro espalhado na arquitetura do prédio. “O espelho engana o animal. Eles não conseguem distinguir a imagem do mundo real, e muitas vezes se machucam ao tentar caçar”, explicou.

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