ECONOMIA

Na crise, verba federal para a RMC cai 16,3%

A queda dos repasses federais coloca em xeque diversos projetos e investimentos dos municípios da região que necessitam da liberação dos recursos da União

Bruno Bacchetti
25/10/2015 às 09:19.
Atualizado em 23/04/2022 às 03:41
Protesto de servidores públicos em Americana: cidade, que vive intensa crise política e econômica (César Rodrigues)

Protesto de servidores públicos em Americana: cidade, que vive intensa crise política e econômica (César Rodrigues)

As prefeituras da Região Metropolitana de Campinas (RMC) sofrem com as dificuldades do governo federal de fechar as contas. Os repasses da União para os municípios da região caíram 16,3% neste ano em comparação com o ano passado. Segundo dados do Portal da Transparência, de janeiro a setembro de 2014 o montante transferido na RMC totalizou R$ 1,442 bilhão. No mesmo período deste ano o repasse para as 20 cidades atingiu R$ 1,207 bilhão, portanto quase R$ 240 milhões a menos. Somada a inflação oficial de 9,5% medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a retração de recursos do governo federal para a RMC chegou a 25,8%. A queda dos repasses federais coloca em xeque diversos projetos e investimentos dos municípios da região que necessitam da liberação dos recursos da União. Além de convênios para a manutenção de programas da Saúde e Educação, os valores englobam também o Fundo de Participação dos Municípios (FPM), uma das principais fontes de receita das pequenas cidades, e verba para investimento em áreas como saneamento básico, assistência social e urbanismo, entre outras. Um dos principais motivos para esse corte foi o bloqueio realizado pelo Ministério do Planejamento em maio, de gastos de R$ 69,9 bilhões aprovados pelo Congresso Nacional no Orçamento deste ano. Os repasses aos municípios e Estados foram reduzidos em R$ 10,9 bilhões. O economista Cândido Ferreira da Silva Filho, professor do curso de especialização em Gestão Pública da PUC-Campinas, afirma que a queda é reflexo da crise da economia brasileira. Para ele, a situação obriga as prefeituras a cortar gastos e fazer um trabalho político em Brasília a fim de levantar recursos. “É importante negociar em bloco para conseguir reverter isso e buscar recursos. Os municípios estão declarando apoio para a recriação da CPMF, que seria um meio de transferir dinheiro para as prefeituras. Por enquanto a única saída é rever investimentos e fazer cortes no funcionalismo para equilibrar as contas públicas. Ter que haver ajuste fiscal forte”, analisa o economista. Vivendo grave crise financeira, Americana teve a maior queda nos repasses federais neste ano. Nos nove primeiros meses de 2014, o município recebeu R$ 102,9 milhões em convênios com a União. Neste ano, foram repassados somente R$ 67,5 milhões, equivalente a uma queda de 34,3%. Sem a Certidão Negativa de Débito (CND), a Prefeitura de Americana não consegue firmar convênios para receber recursos dos governos estadual e federal. O município perdeu a certidão em novembro do ano passado, por falta de recolhimento previdenciário nos últimos anos. Ao todo, o município deve R$ 574 milhões à Previdência, mas no início deste mês obteve liminar para retomar a certidão. “Realmente é isso mesmo, não recebemos praticamente nada este ano por causa da CND. Infelizmente foi criado um fundo de pensão do município, o Ameriprev, e alguns servidores optaram por ele e outros pelo INSS. Mas o prefeito anterior não recolheu e a dívida é de R$ 150 milhões. Acertamos para pagar R$ 5 milhões por ano, em 20 anos. Com o INSS demos terrenos e a certidão deve chegar nesta semana”, explica o prefeito Omar Najar (PMDB). Ele não esconde que a falta de recursos federais e também estaduais fez muita falta, e já projeta investimentos com a retomada da CND. “Temos conversado e tão logo chegue a CND vamos viabilizar algumas coisas, como a construção de creches e unidades de saúde”, garante. Campinas Quase a metade do total de recursos federais destinados para a RMC neste ano foram para Campinas. Do total de R$ 1,207 bilhão repassados à região, R$ 439,1 milhões foram para o município, divididos principalmente entre as áreas da Saúde (R$ 226,2 milhões), Encargos Especiais (R$ 71,5 milhões), Ciência e Tecnologia (R$ 68,1 milhões) e Assistência Social (R$ 40,6 milhões). No entanto, apesar do montante expressivo que entrou nos cofres da Prefeitura de Campinas, o volume de repasses foi 21,2% inferior ao recebido até setembro do ano passado, que totalizou R$ 557 milhões. A segunda cidade que mais recebeu recursos federais foi Indaiatuba, com um total de R$ 99,5 milhões, em sua maioria do FPM (R$ 30,9 milhões), além das áreas da Saúde (R$ 35,9 milhões) e Educação (R$ 11 milhões). O valor recebido pelo município é praticamente o mesmo do ano passado, que totalizou R$ 100 milhões. As menores Nem mesmo as pequenas cidades e que não recebem valores tão elevados escaparam de uma redução brusca nos repasses da União. Em Holambra, o montante repassado registrou queda de 29,6%, caindo de R$ 12,2 milhões para R$ 8,6 milhões. Deste total, R$ 6,5 milhões são Encargos Especiais (entre eles FPM, Fundeb, Cide). Em Santo Antonio de Posse, a retração foi de 9,8%, passando de R$ 15,7 milhões para R$ 14,1 milhões. Mais da metade recebido pela cidade é do FPM (R$ 7,4 milhões). Para a Saúde foram R$ 2 milhões e mais R$ 1,5 milhão para a Assistência Social. Para Silva Filho, os pequenos municípios são os que mais sentem com a queda nos repasses, porque são mais dependentes dos recursos estadual e federal. “É lógico que os maiores municípios conseguem ter receita própria grande, e arrecadam com IPTU, ITBI e IPVA. Por isso é mais difícil para as pequenas prefeituras”, enfatiza.

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