Na primeira ação de combate à doença do ano, realizada em bairros da região Sudoeste, agentes não conseguiram vistoriar metade das residências
Antes do início do mutirão, agentes traçam o esquema de trabalho: iniciativa ocorrerá quinzenalmente em Campinas com o objetivo de eliminar os criadouros do mosquito Aedes aegypti, vetor que transmite a dengue (Rodrigo Zanotto)
A vendedora Amanda Lopes, de 26 anos, e o marido dela, estão entre os moradores da do bairro Santo Antônio, no distrito do Ouro Verde, em Campinas, que se recusam a deixar os agentes de saúde a fazer a vistoria no quintal de casa para ver se há criadouros do mosquito Aedes aegypti, vetor que transmite a dengue. Ela alega que na sua residência não há plantas no quintal e nem caixa d'água, já que o abastecimento vem direto da rua. Apesar disso, a mulher ser a favor do mutirão de combate à doença, realizado no sábado (6) pela Prefeitura em bairros da região Sudoeste. "Acho importante o trabalho de fiscalização", disse.
De acordo com a coordenadora de Vigilância Sanitária, Daiane Moreto, o índice de rejeição em toda a cidade no ano passado chegou a 50,3%, enquanto no ano anterior foi de 46,9%. Em outros termos, um em cada dois imóveis da cidade não tem como ser inspecionado para verificar a existência de criadouros do mosquito transmissor da dengue. Nesse percentual estão incluídos os moradores que não permitem a entrada do agente, imóveis fechados e falta de um responsável maior de idade na residência para autorizar a vistoria.
No mutirão realizado no sábado (6), as equipes registraram um índice de rejeição também em torno de 50% nos quatro bairros visitados: o próprio Jardim Santo Antônio e os DICs II, IV e V. Por isso, a Secretaria de Saúde anunciou que voltará a realizar ações nos locais, bem como no Jardim Eulina.
A ação de sábado (6) mobilizou pelo menos 100 funcionários da Secretaria de Saúde, incluindo agentes da empresa contratada para visitar imóveis e eliminar criadouros do mosquito, além de duas equipes da Secretaria de Serviços Públicos. Foram usados dois veículos da Defesa Civil, um carro de som da Sanasa, dois cata-trecos e dois caminhões para recolhimento de materiais descartados irregularmente.
A expectativa era visitar entre seis mil a sete mil imóveis. O balanço geral da operação será divulgado amanhã. "É muito importante as pessoas autorizarem a presença do agente de saúde dentro das casas e também fazer uma vigilância. As famílias precisam nos ajudar a verificar dentro dos quintais se há água parada em algum recipiente que possa ser usado como criadouro pelo mosquito da dengue, visto que 80% dos casos de proliferação acontecem dentro das residências e nos quintais. Por isso, a colaboração da população é fundamental", argumentou o prefeito Dário Saadi, que acompanhou parte das atividades do mutirão.
Esse tipo de ação será realizado a cada 15 dias em bairros que serão definidos de acordo com a situação epidemiológica. No boletim divulgado pela Vigilância Sanitária da última semana, nove bairros estão em situação de alerta para a dengue: o Botafogo, Jardim Santa Mônica, Parque Floresta, o San Diego, o Parque Oziel, o Monte Cristo, Parque Universitário de Viracopos, Jardim Ouro Verde e Vila União. O próximo trabalho está agendado para o dia 20.
"É importantíssimo que a população compreenda a importância e o significado dessas ações de controle de criadouro, pois são para evitar que o mosquito nasça, procrie e infeste. Assim, prevenimos a dengue, a zika e o chikungunya", frisou Daiane Moreto, coordenadora de Vigilância Sanitária. Em 2023 foram registrados 11.011 casos de dengue em Campinas, segundo dados parciais divulgados na última sexta-feira. Três pessoas morreram em decorrência da doença.
Em 2019, o marido da doméstica Maria Nazaré, de 42 anos, foi contaminado pelo mosquito enquanto trabalhava em uma obra na região do Taquaral. Reinaldo Rodrigues dos Santos ficou muito mal. "Eu sempre deixo os agentes entrarem em casa, pois eles têm um olhar técnico da situação, pois meu marido deixa os equipamentos de trabalho no quintal e para a gente pode estar sem problemas, mas os agentes podem trazer informações úteis", disse Maria, que mora no Residencial Santos Dumont e foi uma das moradores que abriu o portão para os agentes.
A dona de casa Maria Giseuda de Souza Andrade, de 58 anos, também permitiu a entrada dos agentes. Durante a vistoria, o funcionário da saúde encontrou um vaso com água em seu interior. Maria Giseuda disse que havia trocado a água havia uma semana, mas o agente a aconselhou a fazer a troca pelo menos duas vezes por semana, além de passar uma bucha na raiz da planta para remover os ovinhos do mosquito. "Já tive dengue e foi terrível. Eu sabia que tinha que trocar a água, mas cada vez que recebemos os agentes, aprendemos algo de novo", justificou a dona de casa.
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