SEGURANÇA AMPLIADA

Mulheres terão companhia por vídeo em pontos de ônibus

Painéis digitais contarão com câmera noturna, microfone e conexão com a internet

Bianca Velloso/ bianca.velloso@rac.com.br
29/06/2023 às 09:22.
Atualizado em 29/06/2023 às 09:22

À noite, quando a pessoa estiver sozinha no ponto de ônibus, basta tocar na tela para iniciar uma chamada de vídeo com uma profissional da empresa (Alessandro Torres)

A Campanha Guarded Bus Stop, desenvolvida por uma agência de publicidade em parceria com uma empresa de mídia Out of Home - que oferece espaços publicitários na rua, em transportes, edifícios, pontos de ônibus, shoppings e aeroportos -, será lançada no mês de agosto em Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro. O objetivo dessa iniciativa é oferecer companhia e minimizar a sensação de insegurança das mulheres que ficam desacompanhadas nas paradas de ônibus no período da noite. O projeto foi testado em Campinas por uma semana em abril e foi instalado em cinco pontos de ônibus, oferecendo chamadas de vídeo para proporcionar companhia às mulheres quando estiverem sozinhas nos pontos. Na cidade há 1.508 painéis devidamente aprovados pela Prefeitura, entre telas digitais e estáticas.

Nessas paradas, os mobiliários urbanos (MUB’s) digitais tradicionais foram trocados por MUBs com câmera noturna, microfone e conexão com a internet. Um sensor detecta quando há apenas uma pessoa no ponto. Basta tocar na tela para iniciar uma chamada de vídeo com uma profissional da empresa. Ao longo do dia, os pontos de ônibus exibem os anúncios normalmente. Mas, de noite, quando acionados pelas mulheres, se transformam em uma ferramenta de companhia. Essa ideia ganhou prêmio em Cannes (Leão de Ouro em Mídia e Leão de Bronze Experiência de Marca). Agora a empresa de mídia busca patrocinadores para implementar o projeto. Um banco da iniciativa privada já firmou compromisso.

A atendente Jéssica Ferreira, 25 anos, anda de ônibus durante a noite quando precisa fazer hora extra no trabalho. No local onde espera a condução é escuro, o que a faz sentir medo, especialmente por estar sozinha. “Eu, sendo mulher, tenho medo de ser forçada a fazer coisas que eu não quero, ser assaltada e várias situações que a gente fica constrangida. Eu já presenciei algumas pessoas que estavam comigo serem assaltadas, isso aumentou meu medo”. Com a implantação da campanha, ela disse que se sentiria mais segura, pois teria uma pessoa para oferecer amparo. “Me sentiria bem mais segura, pensando que tem uma pessoa lá e se acontecer qualquer coisa comigo, ela vai automaticamente acionar alguém para me ajudar”. 

A recepcionista Ormesinda Maria Araújo, 72 anos, que utiliza o transporte público diariamente, disse que se sente insegura nos pontos de ônibus, especialmente quando ocorrem atrasos. “Assim, a gente fica exposta por muito tempo no ponto. Nisso eu fico desesperada, porque a insegurança é tamanha”.

Ormesinda relembrou do dia que testemunhou um assalto. “Eu vi de perto um assalto. Consegui sair sem ser notada. Mas a gente também fica com trauma, um medo. Uma vez de noite, eu fui perseguida por um homem, que me agarrou, foi terrível. Eu estava voltando do trabalho, mas não estava no ponto de ônibus, estava chegando na minha casa”.

“De noite para a mulher é mais perigoso. Ficamos vulneráveis à violência, porque as pessoas veem a gente sozinha. Além disso, as ruas são escuras, nem sempre a gente os vê. Quando percebe, a pessoa já está em cima e não conseguimos dar um jeito de nos livrar. Então tem tudo isso que incomoda e traz insegurança. A gente arrisca, porque não tem outro meio. É arriscar ou arriscar”, lamentou Ormesinda.

Com relação ao projeto, a recepcionista avaliou ser uma mudança positiva. “Seria um amparo e uma segurança. Não vamos dizer que a gente nunca vai passar por uma situação perigosa, mas eu acho que dá mais conforto e mais segurança”.

A atendente de caixa Gabriela Marcolino de Sousa, 25 anos, disse que ficar sozinha em um ponto de ônibus é ruim. “É mais perigoso de noite. As mulheres têm que andar prevenidas. Eu sinto muita insegurança”. A jovem concorda que o Guarded Bus Stop traria mais segurança e impediria a ação de criminosos, pois ela disse acreditar que a imagem de uma pessoa no painel iria inibir a ação dos bandidos.

Sonia Pereira dos Santos, 51 anos, também compartilha da sensação de medo. Ela disse que prefere esperar a condução em frente a um hotel, pois é uma região mais movimentada. “Tenho medo das pessoas daqui, porque eu nem conheço. Tenho medo de assalto. Nesse ponto eles são constantes”, revelou a balconista que já viu duas amigas serem assaltadas e isso contribuiu para aumentar o medo e insegurança. Sonia avaliou que a iniciativa da campanha pode ajuda-la e também outras pessoas no ponto de ônibus. “Eu iria me sentir mais segura e ajudaria a todos”.

A jovem Maria Eduarda da Silva Fontoura, 19 anos, contou que já utilizou o transporte público no período da noite. “Já fiquei sozinha no ponto várias vezes de noite. Dá mais medo. Às vezes a pessoa não vai fazer nada, mas a gente está ali frustrada, a pessoa passa e a gente fica com aquele medo. Tem pontos da cidade que de noite não tem movimento, às dez horas da noite não tem nada de movimento. O que dá bastante medo”, disse Maria Eduarda, que se sente mais segura em locais com movimento.

Com relação ao Guarded Bus Stop, ela projetou que seria uma boa solução para esse problema de insegurança. “Seria uma boa, porque às vezes a pessoa pensa que eu vou estar falando com alguém que pode aparecer a qualquer momento para me proteger. Ia ser legal a pessoa aparecer na tela mesmo, para mostrar que tem alguém. Eu me sentiria mais segura”.

A aposentada Maria Inês da Silva, 57 anos, confessou que se sente insegura quando precisa esperar pelo ônibus sozinha. “Pode acontecer alguma coisa até de dia. Uma pessoa passa e leva meus pertences”. Com relação à implementação de câmeras nos painéis, com possibilidade de realizar ligações por vídeo, ela avaliou que seria uma unanimidade. “Acho que qualquer um se sentiria mais seguro. Porque a gente está ali no aperto, precisou de ajuda e vai aparecer alguém. Isso já serve de consolo para a gente”.

Rosana Aparecida da Silva Vasquez, 58 anos, utiliza o transporte público ainda de madrugada para chegar ao trabalho. “Tenho muito medo, porque no ponto que eu desço sempre tem um tumulto de pessoas e marginais que dormem na rua. Eles mexem com a gente”, revelou a empregada doméstica, que já foi assaltada em um ponto de ônibus, quando estava indo para o trabalho. Rosana disse que evita sair no período da noite, porque tem medo. Ela disse que se sentiria mais protegida se pudesse ligar para alguém através do painel. “Me sentiria mais segura se pudesse acionar alguém. Seria mais segurança para a gente. É bom, muito bom. Eu gostaria”, disse entusiasmada.

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