ESPAÇO CULTURAL INAUGURADO

'Mulheres no Correio' celebra 8 de março com evento especial para o público feminino

Mulheres de todas as idades, com suas famílias, estiveram no dia 2 de março para a comemoração antecipada da importante data; atrações divertiram, informaram e conscientizaram os presentes

Da Redação
08/03/2024 às 09:15.
Atualizado em 08/03/2024 às 09:15
Márcio Parma, ou Tachinha, foi um dos fundadores do movimento ‘Hospitalhaços’ e divertiu crianças e adultos com as ‘palhaçadas’ e os truques de mágicas (Alessandro Torres)

Márcio Parma, ou Tachinha, foi um dos fundadores do movimento ‘Hospitalhaços’ e divertiu crianças e adultos com as ‘palhaçadas’ e os truques de mágicas (Alessandro Torres)

No empreendedorismo, na cultura, na família e onde mais elas quiserem atuar, o desafio sempre será gigantesco. As mulheres estão presentes em todos os segmentos, o que faz sentido não apenas pela luta para conquistar espaços, mas também pela quantidade. Os resultados do Censo Demográfico 2022 apontam que o Brasil tem seis milhões de mulheres a mais do que homens. A população brasileira é composta por cerca de 104,5 milhões de mulheres e 98,5 milhões de homens, o que, respectivamente, corresponde a 51,5% e 48,5% da população residente no país. Apesar de conciliarem afazeres domésticos com os profissionais, serem discriminadas no mercado com salários mais baixos e menos acesso a cargos de gerência em relação aos homens, elas não desistem.

O número de mulheres donas de negócios no Brasil chegou a 10,3 milhões, segundo a pesquisa Empreendedorismo Feminino 2022, realizada pelo Sebrae com dados do IBGE. A soma de mulheres à frente de empreendimentos é recorde desde que a pesquisa começou a ser feita, em 2016. As mulheres empreendedoras que geram empregos subiram 30% de 2021 para 2022 — um salto de cerca de 300 mil donas de negócios empregadoras. Mas, no universo total, 9 em cada 10 continuam tocando seus negócios sozinhas. 

E foi nesse contexto de empreendedorismo que elas foram homenageadas de maneira antecipada, no evento “Mulheres no Correio Popular”, que aconteceu no dia 2 de março. Durante todo o dia foram realizadas várias atividades no pátio externo, no salão interno e no auditório do jornal, todas abertas e gratuitas. O clima de cultura e economia criativa foi instalado com a presença de aproximadamente 50 expositores e artesãs mostrando seus produtos artesanais, roupas, calçados e acessórios. No pátio externo foi montada uma variada praça de alimentação. Artistas percorreram o local com as mais diferentes apresentações musicais, com performances de dança, mágica, hip hop e capoeira. No auditório, profissionais utilizaram o espaço para palestras sobre filosofia, moda, nutrição e direitos da mulher.

A ideia, segundo a diretora de Marketing do Correio Popular, Aline Rodrigues, foi "homenagear o protagonismo feminino, as mulheres empreendedoras que assumem várias funções em suas atividades profissionais e pessoais". A programação variada foi um mostruário do projeto que abre as portas do espaço físico da sede do Correio Popular, na Vila Industrial, para o fomento cultural com diferentes eventos. "Campinas é uma cidade privilegiada e queremos enfatizar a cultura e o empreendedorismo local pela afinidade com o nosso negócio de difusão de informações e pela história da cidade."

VIDA DE EMPREENDEDOR

Stella Sândalo trabalha há 20 anos como empreendedora em eventos e durante a pandemia começou a criar pequenos presentes para amigos com a arte do macramê, uma espécie de tecelagem manual com fios. Gostou tanto que se especializou no “macramê de vestir”, uma tendência em roupas que vem sendo impulsionada por artistas. Foi com esta arte que ela participou do evento “Mulheres no Correio”, onde contou que “a maioria tem que assumir uma postura de Mulher Maravilha para dar conta de casa, família, negócio, mas se também não se cuidar nada funciona”. Empreender, aconselhou, “é buscar algo que consiga desenvolver. Tem que acreditar no que faz e começar a fazer com o que tem, ser criativa e buscar soluções, em vez de ficar esperando condições ideais que muitas vezes nunca acontecem”.

Foi o que fizeram duas das empreendedoras que participaram do evento, Karla Angelina e Iraciara da Costa. Elas interagiram com um público diversificado e trocaram muitas experiências com outras empreendedoras. "Eu vendo produtos feitos com tecidos importados do continente africano, desde roupas para crianças e adultos, até acessórios, mochilas, bolsas, pochetes. Foi bem legal (participar), fiz contato com uma estilista que passou aqui, conheci outras colegas. Foi bem gostoso", relatou Karla. Ao lado dela, Iraciara, artesã que produz cerâmicas vitrificadas, concordou. "Fizemos ótimos contatos, conhecemos muita gente bacana".

Início do evento contou com a inauguração do espaço cultural destinado a promover diversos tipos de eventos na sede do Correio Popular (Alessandro Torres

Início do evento contou com a inauguração do espaço cultural destinado a promover diversos tipos de eventos na sede do Correio Popular (Alessandro Torres

A ATUAÇÃO DE UMA MISS

A modelo Larissa Nunes Gomide Guerreiro, 26 anos, foi eleita Miss Campinas, no ano passado, pelo Concurso Nacional de Beleza (CNB). Ela participou do “Mulheres no Correio”, onde conversou com expositores e comentou sobre a diversidade e dinamismo do evento. Ela atua como modelo desde os seis meses de idade, mas buscou formação profissional na área de nutrição e também trabalha como nutricionista clínica. Sobre o papel de Miss, Larissa revela que é incompreendido. As redes sociais muitas vezes são cruéis com as mulheres que se dedicam à beleza, contou. “Mas acho que devemos seguir com o que sonhamos e buscar independência”, afirmou a Miss que participa de projetos sociais e que “incentiva as mulheres a buscarem seus espaços e direitos em qualquer área que goste, filtrando o que é bom e fazendo um bom trabalho para que saibam o que você é na sua essência”. 

HISTÓRIAS E FILOSOFIA PARA OS ESCOTEIROS

A turma do Grupo Escoteiro Craós, um dos mais antigos e tradicionais de Campinas, ocupou boa parte do auditório do jornal Correio Popular no dia 2 de março, quando a professora e escritora Maria Lucila Furlan Gaiotti narrou uma história de superação do livro “Os óculos do Invisível” de Bruna Tadross. A contação de história que reuniu crianças e suas famílias foi na forma de um teatro de fantoches e integrou o evento “Mulheres no Correio”, em parceria com a Fundação Logosófica de Campinas. “As histórias são partes de vidas de seres humanos, por isso tocam o coração de quem ouve. Ouvir, observar expressões, tom da voz, tato, olhar, não há conexão que resista. Todos os pais deveriam colocar em suas rotinas ler uma história para seu filho, em especial a que relate fatos de suas vidas”, aconselhou Lucila, voluntária da Fundação Logosófica.

A escoteira Livia Haddad, de 8 anos, há dois frequenta o grupo de escoteiros e comentou ter gostado dos fantoches. “A história foi muito boa”, afirmou. Amanda Albertini, mãe de três filhos, achou a experiência enriquecedora. Ela trouxe os filhos para a contação de histórias depois de ser informada sobre o evento pelo grupo de escoteiros do qual o filho mais velho participa. “Acho muito importante estimular essas atividades culturais para tirá-los das telas, e vir à sede do jornal foi muito interessante, pois foi possível ver esse mundo do jornal na sua materialidade”, comentou.

Complementando a atividade, a professora, empresária e docente de Logosofia, Vera Inês Veronese, falou aos pais sobre "a responsabilidade da mulher com o futuro da humanidade". Segundo ela, a pedagogia logosófica ensina a olhar para dentro da própria mente e entender que ela influencia outras mentes, para o bem e para mal. “Quanto melhor o pensamento dos pais e dos professores, melhores serão os pensamentos dessas crianças. Não queremos que elas sejam mais afetuosas, mais assertivas? Isso começa nos adultos”, concluiu.

Iraciara Costa (esquerda) e Karla Angelina (direita) foram duas das cerca de 50 pessoas que participaram do evento expondo e vendendo os seus produtos (Alessandro Torres)

Iraciara Costa (esquerda) e Karla Angelina (direita) foram duas das cerca de 50 pessoas que participaram do evento expondo e vendendo os seus produtos (Alessandro Torres)

CAMPINEIROS DO HIP HOP PARTICIPARÃO DE FESTIVAL INTERNACIONAL

Três dançarinos de Campinas que vão representar o Brasil no Campeonato Mundial de Hip Hop mostraram sua coreografia no evento “Mulheres no Correio”. A adolescente Julia Walter Mazzotini e seus professores Vine Hernani e Krishna Ferreira formam a equipe que conseguiu integrar a Seleção Brasileira que vai representar o país no “Campeonato Mundial de Dança Hip Hop”, evento que acontece entre 3 e 10 de agosto em Phoenix, no Arizona (EUA). Este será o maior campeonato do mundo e deve reunir cerca de 4 mil dançarinos de 55 países sob o tema: “Unindo o mundo através da dança”. Eles passaram pela seletiva brasileira que aconteceu em Santos, em setembro do ano passado.

Após se apresentar no pátio do Correio Popular, com a coreografia campeã da seletiva nacional, Krishna Ferreira comentou que foi uma experiência diferente e gratificante por ter sido feita para um público diverso e que extrapola o mundo da dança, agregando expectadores das áreas de artes e música também. “O fluxo e a energia são diferentes”, afirmou. Vine Hernani ainda acrescentou que “receber uma apreciação de um público que não é o nosso, é muito bacana. É um olhar, uma postura, um sorriso diferente. Uma palavra que vem diferente. Porque a gente está mostrando nossa arte com orgulho, qualidade, técnica para um público que não conhece. Então, de fato, a gente está oferecendo o nosso melhor para o público que não é inserido (nesse universo)”.

CAPOEIRA COLOCA CORPO, MENTE E CIDADANIA NA MESMA SINTONIA 

Quando o campineiro Osvaldo Gelain Júnior, conhecido pelo apelido de Ninja, criou o projeto “Capoeira Arteira” (2005), sua ideia era resgatar os aspectos culturais, a história e os valores da capoeira. Ele entende que essa prática é a expressão cultural mais completa que existe e, quando treinada de forma correta e em uma boa escola, pode oferecer benefícios físicos, sociais e psicológicos. Foi o que explicou antes da vivência que proporcionou no evento “Mulheres no Correio”, quando relatou que hoje leva “o projeto com atividades intergeracionais para instituições escolares e sociais, alcançando mais de 150 crianças, adolescentes e suas famílias, como recurso na formação do atleta e do cidadão, na difusão da cultura brasileira e na valorização do ser humano”. Atualmente o projeto busca parceiros para montar um espaço próprio para a prática. 

MÁGICA E HUMOR QUE AGRADARAM ADULTOS E CRIANÇAS

“O que o tijolo falou para a tijola? – Há um ciumento entre nós”. A piadinha fez um visitante abrir um grande sorriso quando foi abordado pelo Mágico-Palhaço Tachinha, que circulou caracterizado entre os espaços expositivos do evento, interagindo com os participantes ora fazendo graça, ora fazendo mágicas. Tachinha é o personagem interpretado por Márcio Parma. O artista de Campinas alegrou muita gente com seus números "close-up", aqueles em que a pessoa participa junto. Sua proposta foi “surpreender as pessoas, divertir, mas também aproximar, juntar grupos, promover trocas de maneira singela e despreocupada”. Ele foi um dos fundadores do movimento Hospitalhaços. Junto com outros artistas, ele passava seu tempo livre como voluntário animando crianças adoentadas. Márcio Parma, ou Tachinha, acredita que vem dessa experiência parte da personalidade do seu palhaço, de se preocupar com as pessoas ao redor e de tentar criar um ambiente acolhedor e agradável. “Vejo o palhaço como um meio de transformação da realidade. Durante a interação a gente ri do Tachinha, e não das pessoas que estão assistindo”, disse. 

CAIXEIRAS CONTAGIAM COM A ENERGIA DO CARIMBÓ 

O grupo popular de percussão “Caixeiras das Nascentes”, formado exclusivamente por mulheres (cerca de 50), atua em Campinas desde 2009 e fomenta a cultura popular das festas sagradas (como Junina, Congado, Reis). Parte deste grupo esteve presente no evento “Mulheres no Correio”, onde promoveu uma animada interação com o público com direito a uma apresentação do carimbó, manifestação popular feita por meio de canto e pequenos tambores conhecidos por Caixas do Divino, os xequerês de percussão - construídos com cabaças envoltas em contas – e o som das garrafas.

Por cerca de meia hora na tarde do dia 2, essas mulheres com suas saias floridas rodopiaram pelo pátio agregando adultos e crianças numa festa dançante que contagiava a todos. Em nome do grupo, Maria Cristina Bueno, a "Cris Caixeira", revelou que o intuito é justamente esse. "Fiquei muito feliz porque fomos acolhidas. É um espaço que já tem e está ampliando essa relação com a cultura popular. E onde tem cultura popular, tem felicidade. É uma característica dela, ela é de todos. Não é (apenas) uma apresentação, é uma coisa muito mais amorosa."
Autoconhecimento envolve cuidados com a saúde e o visual

A personal stylist Camila Diniz afirma que “descobrir seu estilo dentro da moda é autoconhecimento e melhoria da autoestima”. Durante sua palestra no auditório do Correio Popular no dia 2 de março, ela ensinou às mulheres presentes que “a roupa transmite seu estilo de vida, sua forma de pensar e seu coração também”. Trabalhando na área há 12 anos, ela reforça que “buscar o próprio estilo não é futilidade, mas uma grande ferramenta para a melhoria da autoestima”. 

A saúde feminina por meio dos alimentos corretos em cada fase da vida também foi foco de outra palestra gratuita no auditório, com a nutricionista campineira Stephanie Kelly, especialista em saúde da mulher. Ela explicou que “comer não significa nutrir o corpo, pois existem alimentos que ajudam a mulher durante o ciclo menstrual, outros melhoram a sensação de cansaço, e alguns nutrientes específicos vão poder ajudar muito se consumidos durante a menopausa”. Stephanie ressaltou que uma nutrição rica em antioxidantes é fundamental para mulheres, entre eles tomate, brócolis, beterraba, morango, uvas, aveia, nozes, amêndoas e feijão-preto. 

INFORMAÇÃO AJUDA A PREVENIR A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

A delegada Teresinha de Carvalho participou do evento e apresentou às mulheres presentes o conceito do Teatro da Oprimida, uma criação da delegada a partir do método criado por Augusto Boal com o Teatro do Oprimido. Teresinha montou uma palestra dinâmica sobre a violência contra a mulher e deve retornar ao espaço cultural do Correio Popular para apresentá-la a um grande público. “A ideia é transmitir conhecimento e trabalhar a prevenção da violência, porque nós envolvemos outras pessoas. Quando falamos em violência doméstica, além da mulher, que é a vítima principal, temos outras pessoas envolvidas, incluindo as crianças”, alertou. “De forma coletiva e com personagens voluntárias assumindo papéis de vítimas de uma situação violenta, essa atividade ajuda as pessoas que assistem a identificarem casos de violência doméstica ou relações abusivas”, acrescentou.

A delegada ainda revelou sua preocupação em relação ao “desmonte da família” e considera que “é importante trabalhar as causas da violência, em questões como o desemprego, o alcoolismo, o ciúme e as drogas, que são problemas que têm solução, são possíveis de curar”. Por isso, Teresinha defende um atendimento multidisciplinar do casal antes de levar o caso para a polícia. Teresinha foi a primeira Delegada da Mulher em Campinas (1988), atuou como vereadora e é professora da Academia da Polícia Civil, sempre focada na questão da violência contra a mulher. 

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