PESQUISA FUNDAÇÃO SEADE

Mulheres da região decidem ser mães a partir de 30 anos

Secretaria de Saúde de Campinas aponta redução expressiva de gravidez na adolescência

Luis Eduardo de Sousa/ [email protected]
24/06/2023 às 09:40.
Atualizado em 24/06/2023 às 09:40
Psicóloga Jaqueline Vieira Lima, de 34 anos, decidiu se consolidar profissionalmente antes da chegada de seu primeiro filho, Thiago, de 2 anos (Kamá Ribeiro)

Psicóloga Jaqueline Vieira Lima, de 34 anos, decidiu se consolidar profissionalmente antes da chegada de seu primeiro filho, Thiago, de 2 anos (Kamá Ribeiro)

A idade média das ‘mães de primeira viagem’ na Região Administrativa (RA) de Campinas saltou de 26 para 30 anos, ou seja, as mulheres estão esperando mais tempo para engravidar. É o que indica uma pesquisa da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade). Em Campinas, dados da Secretaria Municipal de Saúde indicam o mesmo fenômeno. Enquanto em todas as faixas etárias entre 10 e 34 anos, o número de mães reduziu, na faixa acima dos 34 anos aumentou, na comparação entre as últimas duas décadas.

Em Campinas, os dados indicam ainda uma redução expressiva nos registros de gravidez na adolescência. Entre os anos de 2000 e 2010, a média de mães entre 10 e 14 anos caiu de 89,1 nascimentos por ano para 72,6 por ano, na comparação com a década que vai de 2011 a 2020. Já entre 15 e 19 anos a média reduziu de 2 mil para 1,6 mil nascimentos por ano entre as décadas. Para a coordenadora da Saúde da Mulher em Campinas, Miriam Nóbrega, a redução se dá em razão do trabalho realizado pelo poder público para prevenir a gravidez precoce. Mães que decidiram esperar mais para ter seus filhos relatam satisfação maior no convívio com os filhos e maior bagagem para lidar com os desafios impostos pela maternidade.

Conforme pesquisa da Seade, entre 2000 e 2022, a idade média das mães aumentou não só na RA de Campinas, mas em todas as regiões administrativas do Estado. Em 2000, essa idade variou de 25,0 anos, nas RAs de Registro, Itapeva e Barretos, a 26,3 anos, na RM de São Paulo. Já em 2022, o indicador oscilou de 27,7 anos, entre as RAs de Registro, Itapeva e Barretos, para pouco mais de 29 anos na RM de São Paulo. “Tal acréscimo nas idades médias da maternidade revela o novo padrão etário com relevante deslocamento para idades mais avançadas”, diz a conclusão do estudo. A pesquisa indica ainda que a natalidade no Estado teve desaceleração entre 2000 e 2022. No primeiro ano, o número registrado de nascidos vivos atingiu a marca de 700 mil, enquanto no segundo ano registrou pouco mais de 500 mil, considerando que a redução foi acontecendo ano após ano.

O comportamento reprodutivo não é homogêneo entre os municípios paulistas e a distribuição das idades médias das mães reflete essas diferenças. Em 2022, as mães residentes nos municípios situados ao sul do Estado, pertencentes às RAs de Registro e Itapeva, e em alguns dispersos pelo interior e litoral apresentaram as menores idades médias, enquanto em municípios mais ao centro e a leste, sinalizam idades mais altas. São Caetano do Sul detém a idade média das mães mais elevada (32,4 anos).

O fenômeno estadual coincide com o panorama de Campinas. Além de reduzir o número de gestações na adolescência, houve redução de nascituros adventos de mães com idade entre 20 e 34 anos. A média saiu de 11,3 mil nascimentos por ano entre 2000 e 2010 para 10,6 mil entre 2011 e 2020.

Somente na faixa etária acima dos 34 anos é que a média anual subiu na comparação entre as décadas. Foi de 1,6 mil para 2,7 mil.

A psicóloga Jaqueline Vieira Lima, de 34 anos, decidiu esperar um pouco mais para ter o primeiro filho. Mineira que vive em Campinas há 10 anos, ela conta que teve tempo para fazer as coisas que gosta, como viajar, e se consolidar profissionalmente antes da chegada do Thiago, de 2 anos.

“Eu decidi por conta de carreira, porque eu estava em um momento de ascensão, trabalhando em empresas. Também porque eu gosto muito de viajar. Foi uma junção das duas coisas”, disse. “Eu não me arrependo. Percebo que com a idade fui me tornando uma pessoa mais madura, mais responsável e percebo que isso impacta diretamente na forma que educo, tenho mais paciência”, complementou a psicóloga.

Valquíria Gonçalves, de 37 anos, tem duas filhas, a Rayssa de 11 anos e Vitória de 1 ano. Ela teve a primeira filha aos 27 anos e a segunda dez anos depois, aos 36. Para ela, se tornar mãe mais tarde foi bom, mas ela avalia que depende das circunstâncias. “Eu acho melhor, mas não tão tarde, pois perde um pouco do entrosamento com elas. A gente fica mais cansada, mais atarefada. Se for para estudar, se formar e trabalhar vale a pena. Caso contrário, melhor ter mais cedo”, contou.

A coordenadora da Saúde da Mulher em Campinas, Miriam Nóbrega, explicou que há uma tendência geral de gravidez mais tardia, mas ela atribuiu a redução também a um trabalho de prevenção realizado pela Prefeitura com mulheres mais jovens, sobretudo adolescentes. “Nós realizamos um trabalho de conscientização em parceria com as escolas, para que essas meninas saibam o impacto que um filho causa à vida delas. Além disso, estamos trazendo agora para a Saúde os contraceptivos de longa duração, como os implantes, que chegam a durar três anos. É uma política de saúde importante, pois retarda a gestação pelo menos no começo da adolescência, o que já é um ganho”, explicou Miriam.

A coordenadora disse que a gravidez antecipada geralmente está atrelada a quadros de vulnerabilidade social avançados.

A ginecologista e obstetra Isabela Simionatto explica que os riscos de engravidar em idades extremas (tanto na adolescência quanto em idades mais avançadas) são elevados. “A gravidez exige grandes mudanças físicas e psicológicas para a mulher. Gerar uma nova vida implica necessariamente em adaptações de todos os sistemas do corpo da gestante. Nitidamente a gravidez na adolescência pode trazer grandes complicações tanto maternas como fetais. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a gravidez na adolescência e toda gestação que ocorre entre 10 e 20 anos de idade, sendo que entre 10 e 15 anos são as potencialmente mais graves. Além das consequências psicossociais para a menina gestante, a gravidez precoce aumenta consideravelmente o risco de mortalidade materna visto que graves doenças podem ser mais prevalentes. Nesse contexto, podemos citar as síndromes hipertensivas gestacionais (lembrando principalmente da pré-eclâmpsia e eclampsia), diabetes gestacional, anemia, infecções urinárias e doenças sexualmente transmissíveis”, dissertou.

“Um exemplo frequentemente visto na prática clínica: um bebê de uma gestante adolescente com diagnóstico de pré-eclâmpsia evoluiu com retardo do crescimento intrauterino, sendo necessário realizar o parto prematuramente. No período pós-natal, em decorrência da prematuridade, o bebê pode evoluir ainda com graves complicações neurológicas, gastrointestinais, respiratórias, entre outras. Tais intercorrências podem trazer sequelas irreversíveis, comprometendo toda a vida da criança.

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