Alunos da Unicamp desenvolvem projeto que alia sustentabilidade, tecnologia e economia real, o Domoticamp
Em 1600, o famoso escritor William Shakespeare escreveu “Há mais coisas entre o Céu e a Terra, do que sonha a nossa vã filosofia.” Parafraseando o autor de clássicos como Otelo, Romeu e Julieta, é possível dizer que “há mais coisas entre a sala de aula (ou a pesquisa) e o mercado de trabalho, do que pode imaginar o cidadão comum quando o assunto é unir tecnologia, engenharia civil e sustentabilidade.” Prova disso é o trabalho de Erik Caputo, Felipe Genovese e Raul Ícaro, alunos da Unicamp, criadores do projeto Domoticamp (tornando edificações inteligentes em realidades), premiados com o segundo lugar na edição 2019 do Desafio da Unicamp,em julho. O primeiro lugar foi sobre reciclagem de cartonados (utilizados nas embalagens chamadas longavida,por exemplo). Movidos pelo desejo de trazer um conceito de engenharia sustentável, acessível com foco nas residências e pequenos comércios, eles desenvolveram uma plataforma de otimização de gastos e gerenciamento unificado (em cima dos conceitos de Retrofit e tecnologia da plataforma Dojot) que, literalmente, traz o tema para dentro de casa, sem que isso seja uma ameaça de um investimento muito alto. “As pessoas querem ser sustentáveis, mas nem sempre possuem um alto valor para investimento”, garante Genovese. A proposta dos alunos – os dois primeiros estão no último ano de engenharia civil, enquanto Ícaro, formado engenheiro de teleinformática, desenvolve mestrado em internet das coisas – é usar equipamentos com melhor custo-benefício sem estar preso a uma marca, podendo buscar produtos chineses (custando em média R$ 150,00) para trazer aos imóveis antigos conceitos atuais de sustentabilidade e união com o meio-ambiente, junto com o apelo tecnológico das smarthomes. Mas, afinal, na prática, do que estamos falando? “Hoje em dia quando falamos em reforma, em renovação de um imóvel, não se trata apenas de algo estético, mas especialmente da parte de sistemas de hidráulica, elétrica, de novas redes e de todo um contexto. Pense que uma residência de 30 anos não está preparada para ter tanta gente usando a mesma internet, seja pelos notebooks, smartphones ou assistindo televisão. Então, percebemos que, principalmente em Barão Geraldo, onde temos muitas repúblicas, existia uma inspiração para nosso trabalho”, conta Genovese. Start Unir duas paixões: a engenharia civil e tecnologia. Foi este o “ponto de interrogação” que levou Felipe Genovese para uma imersão no Vale do Sílicio, em 2018. “Aí comecei a pensar em como juntar tudo isso e cuidar do meio ambiente”. A inquietação ganhou fôlego com o os colegas Raul e Eric e levou o trio a inscrever-se no Desafio da Unicamp. “Pela Primeira vez o desafio abriu para projetos ligados ao CPQD, e uma possibilidade era o uso da tecnologia Dojot, que é uma plataforma de integração de dados, muito utilizada em projetos de cidades inteligentes ou grandes obras como o Parque Tecnológico de Itaipu. Ela conecta diversos aparelhos, em plataforma única, dentro do que chamamos de “se acontecer isso, faça aquilo”, que são respostas unificadas para os diversos procedimentos”, explicam os amigos. O ponto de partida, então, seria a viabilidade do conceito para residências e comércios pequenos. “Recebemos diversos direcionamentos ao longo do desafio, não só dos professores da Unicamp _ entre eles as professoras Vanessa Gomes e Letícia Neves, arquitetas especialistas em projetos inteligentes e sustentáveis – mas de profissionais renomados como a Gabrise Maia (Marketplace – Luiza Labs) e Fabio Yuasa (CpQD)”, contam os pesquisadores. O questionamento seria provar que “além de legal” ser sustentável vale a pena. “Fizemos uma pesquisa grande e conseguimos mostrar que, usando a tecnologia, é possível ter grande retornos financeiros. Por exemplo. Uma valorização de imóvel de até 30%; ou uma economia de energia de até 50% numa residência comum e até 70% em uma loja. Edifícios comerciais conseguiram uma redução no uso de água de até 70%, isso sem falar em uma economia de aproximadamente 20% nos custos operacionais”, pondera Genovese. Green Premium Para os alunos, atualmente é impossível falar de engenharia civil e sustentabilidade sem e trazer um conceito de “práticas do bem” uma vez que, cada vez mais, é preciso conscientizar a nosso sociedade sobre a necessidade de uma nova postura ambiental, preservando o planeta, e recuperando-o de ações passadas, responsáveis pelas mudanças climáticas, por exemplo. Porém, é preciso ter cuidado para que os termos não sejam utilizados somente como estratégias de mercado. Segundo eles, sua pesquisa foi fundamentada de forma técnica para mostrar que é possível gerar eficiência com resultados de dois benefícios: economia financeira e economia de recursos. “Por isso focamos na viabilidade para residências e pequenas e médias empresas. Hoje, é comum que os grandes empreendimentos já estejam associados ao chamado Green Premium ou prêmio verde. Mas na verdade isso é ruim quando a única preocupação é a valorização do negócio e não traz efetivamente a sustentabilidade”, acredita. Plataforma dojot, do CPqD, oferece suporte Segurança, robustez e facilidade de uso para o desenvolvimento de aplicações de internet das coisas (IoT, na sigla em inglês), com foco no mercado brasileiro, e uso para como cidades inteligentes e agronegócio, são alguns dos diferenciais da plataforma aberta dojot, lançada pelo CPqD em 2017. O nome escolhido para a plataforma remete a uma prática conhecida no universo da Tecnologia da Informação - Dojo é o encontro em que programadores treinam técnicas e metodologias de desenvolvimento de software, por meio da solução de desafios. Essa prática foi associada ao conceito de IoT, cuja implantação também traz desafios e requer uma série de tecnologias que permitem a coleta, transmissão, processamento, cruzamento e análise de informações.