Intervenções radicais no sistema viário de Americana transformaram a vida do motorista. Uns acham que para melhor. Outros, para pior
Intervenções radicais no sistema viário de Americana transformaram a vida do motorista. Uns acham que para melhor. Outros, para pior. A polêmica está instalada. Não existe consenso entre as partes discordantes, e o governo municipal não está disposto a retroceder. Os vereadores da cidade até organizaram uma audiência pública para debater o tema, interessados em sugerir adequações. Ninguém da Prefeitura apareceu. Para os técnicos do governo municipal, as mudanças precisam apenas ser “assimiladas” por quem dirige. É que todos os motoristas, segundo a Prefeitura, estavam acostumados a cumprir sempre o mesmo trajeto. Os críticos, no entanto, afirmam que as intervenções foram desastrosas. Reclamam de congestionamentos e risco de acidentes. O fato é que a cidade de Americana – com 230 mil habitantes e uma frota de 181 mil veículos, segundo o Detran-SP – convive com um problema histórico. A zona urbana é separada ao meio pelo Ribeirão Quilombo, e as opções de transposição se resumem a dois viadutos na região central. Diante do quadro complicado, e antigo, a Prefeitura ousou implementar uma série de ações para melhorar o fluxo no Centro, e eliminar antigos pontos estrangulados. As mudanças nitidamente melhoraram o fluxo de veículos que circulam em direção aos bairros. Em compensação, o trânsito ficou complicado para quem chega ao Centro. O que mudou A confusão se instalou quando a Prefeitura decidiu que o Viaduto Amadeu Elias teria uma única mão de direção, sentido Centro-bairro. O trânsito ficou livre, desafogado, ágil. Acontece que o todo o fluxo de veículos do sentido contrário se concentrou no outro viaduto da região central, o Centenário, que continua com as duas mãos de direção. O trânsito por lá teve seus dias de caos. Para resolver a situação, a Prefeitura decidiu aumentar para duas o número de faixas que receberiam o fluxo dos bairros. Para isso, o solo ganhou nova sinalização. As duas faixas de antes viraram três. Só que estreitas. Se dois ônibus se cruzam sobre o viaduto, por exemplo, as faixas de solo são desrespeitadas. Não há acostamento. Se um carro quebra na subida do viaduto, o trânsito para. Sem diálogo O vereador Thiago Martins (PV) protocolou um requerimento na Câmara Municipal, aprovado em peso pela Casa, marcando uma audiência pública para debater o tema. Diante de tantas queixas dos motoristas, ele queria que técnicos da Prefeitura explicassem as mudanças, e que medidas poderiam ser tomas para aliviar os novos pontos sobrecarregados. Mais de 200 pessoas tomaram o plenário no último dia 5, com propostas de adequação. Mas ninguém da Prefeitura apareceu. Naquela tarde, o secretário adjunto da Unidade de Transportes e Sistema Viário, Eraldo Camargo, informou que, por razões médicas, não poderia comparecer. Outro representante do setor que poderia dar explicações teria entrado em férias. O fato é que a audiência pública não surtiu efeito algum. “Visto o grande número de reclamações, era essencial que os órgãos competentes viessem explicar as mudanças, e falassem como a Prefeitura vai resolver os impactos”, disse Martins. Os vereadores da oposição fizeram críticas severas à Administração municipal, dizendo que a ausência dos técnicos à sessão foi um absoluto desrespeito à população. Mas até a bancada da situação aprovou em peso o requerimento, e esperava ouvir representantes do Executivo. O próprio Thiago Martins, procurado ontem pela reportagem, explicou que encaminhou todas as reclamações recebidas ao secretário adjunto Eraldo Camargo. “Executar, infelizmente, é com ele. Continuaremos cobrando e brigando por, no mínimo, provas de que o trânsito melhorou com as mudanças promovidas”, disse. ENTENDA A POLÊMICA Foram alteradas as mãos de direção das ruas D. Pedro II e Anhanguera, visando maior fluidez do trânsito na saída de Americana para Nova Odessa. A medida foi assimilada rapidamente, e diminuiu consideravelmente os pontos estrangulados da região central. A adoção de mão única no Viaduto Amadeu Elias, que passou a receber apenas o fluxo no sentido Centro-bairro, acabou com os congestionamentos no trecho. Agora, todo o trânsito que chega da movimentada Avenida Brasil flui rapidamente pela região central. Mas há um problema. O Corpo de Bombeiros, que fica praticamente no pé do Amadeu, precisa acessar o Viaduto Centenário se tiver de atender uma ocorrência no Centro. Diante da situação, a Prefeitura já admite que pode instalar uma “faixa para situações de emergência” no Amadeu. O Viaduto Ministro Ralph Biasi (o conhecido Centenário) agora tem três faixas de trânsito. Uma no sentido Centro-Bairro, duas no sentido bairro-Centro. As faixas são estreitas e o risco de acidentes é nítido. A presença de caminhões e ônibus complica a situação. Para melhorar o tráfego na Avenida Cillos, a Prefeitura bloqueou o canteiro central impedindo a conversão dos motoristas em direção à Rua das Petúnias, região da Cidade Jardim. No mesmo trecho, a Prefeitura bloqueou com enormes manilhas de concreto o tráfego de veículos pelo antigo acesso à SP-304. Os comerciantes do trecho interditado ficaram inconformados. Um posto de gasolina, por exemplo, demitiu dois terços de seus funcionários, pois o movimento de clientes despencou. Para os críticos, as mudanças custaram caro e não aliviaram o tráfego, que agora congestiona duas quadras diante, no novo acesso à SP-304.