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MPT interdita parte das obras do aeroporto de Viracopos

Serviço de concretagem de lajes em altura também foi suspenso por tempo indeterminado

Patrícia Azevedo
02/05/2013 às 07:26.
Atualizado em 25/04/2022 às 17:57
Acidente em obra de Viracopos deixa 14 operários feridos (Dominique Torquato/ AAN)

Acidente em obra de Viracopos deixa 14 operários feridos (Dominique Torquato/ AAN)

Parte da obra de ampliação do Aeroporto Internacional de Viracopos foi interditada na tarde da quarta-feira (01) pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). Além da interdição do trecho onde 14 operários ficaram feridos após o desabamento de duas lajes na noite de terça-feira, os trabalhos de concretagem de lajes, que são realizados em outras partes do canteiro, também estão suspensos por tempo indeterminado. Nove operários continuam internados, mas não correm risco e morte.

Uma força-tarefa foi montada para investigar as causas do acidente. Além das vistorias do MPT e do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), as polícias Civil e Federal farão perícias no local. Os procuradores do MPT também pediram apoio ao Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) para ajudar nas investigações.

Durante a tarde de ontem dois procuradores do Trabalho estiveram na obra. Durante duas horas e meia eles fizeram uma vistoria no local do acidente. A imprensa foi impedida de acompanhar os trabalhos.

“Não temos condições de dizer qual a causa do acidente. Agora, podemos afirmar que (os operários) não morreram porque estavam com equipamentos de proteção”, afirmou o procurador do Trabalho Silvio Beltrameli Neto.

Para se chegar ao motivo do desmoronamento serão consideradas as perícias da Polícia Civil, da Polícia Federal e do Crea. Há suspeitas de falha humana e de má qualidade do material utilizado na obra. “As causas podem não estar relacionadas à falta de segurança, mas pode ser uma falha de montagem, de execução e até da qualidade do material utilizado”, afirmou Neto.

Parte da obra foi interditada para que as equipes de investigação possam realizar as perícias. “Precisamos saber se foi uma falha técnica ou humana”, disse.

“Houve desabamento, algo cedeu. Ou foram as estruturas de apoio ou a própria laje”, disse o procurador do Trabalho Alex Ducoc Garbellini, que também participou da vistoria ontem à tarde.

Os procuradores informaram que o amontoado de vigas de alumínio, ferragens e concreto não permite saber o que cedeu primeiro. “O andaime onde estavam os trabalhadores, a laje que estava sendo concretada e a laje inferior caíram. Só não temos ideia do que caiu primeiro.”

Uma reunião do MPT com a concessionária Aeroportos Brasil Viracopos, que administra o terminal, e o consórcio Construtores Viracopos, formado pelas empresas Constran e Triunfo — responsável pelas obras — estava marcada para o próximo dia 9 para tratar sobre o acidente de março que matou um operário. O encontro deve ser adiado por causa da nova investigação que apura o acidente da última terça-feira.

Os delegados Maristela Nader e Gilberto Salles, que é o titular da delegacia localizada no aeroporto, trabalharam no local do acidente até as 5h de ontem. Além dos peritos tradicionais, eles solicitaram a presença de um especialista em engenharia para analisar o local onde o acidente aconteceu. O boletim de ocorrência foi registrado como lesão corporal culposa.

Medo

De acordo com o secretário-geral do sindicato que representa os operários, Francisco Aparecido Silva, os trabalhadores da obra estão com medo de voltar ao trabalho. “Cada vez que acontece um acidente como esse, eles ficam mais tensos. Estão com medo de trabalhar.”

“A laje não estava sendo construída da forma que deveria, senão não teria desmoronado. Recebemos todos os dias de quatro a cinco denúncias sobre falta de segurança. Os operários reclamam que são pressionados a fazer o serviço de qualquer jeito”, afirmou Silva.

O sindicalista disse que os trabalhadores estão fazendo horas extras diariamente e chegam a encarar uma jornada de trabalho de até dez horas. “Eles dizem que estão sendo pressionados para agilizar a obra e por causa disso muitos procedimentos não são feitos da forma que deveria. Há dois turnos trabalhando até as três da manhã todos os dias e nós ouvimos dizer que eles querem implantar mais um turno para que a obra seja tocada durante 24 horas seguidas porque o prazo de entrega é maio de 2014”, disse o secretário.

Um dos operários que trabalham no local e não quis ter a identidade revelada confirma as denúncias de que os funcionários são pressionados. “O pessoal reclama muito que tem que correr com as coisas e que a qualidade fica prejudicada”, afirmou. Ele disse ainda que a empresa fornece os equipamentos de proteção individual.

Apesar de esse ser o segundo grave acidente em pouco mais de um mês, a concessionária Aeroportos Brasil Viracopos e o Consórcio Construtor Viracopos (CCV) negam que os operários trabalhem sem segurança. “A segurança é total. Vamos tomar as providências para identificar o que aconteceu. Somente depois de avaliar tudo é que iremos nos pronunciar. Seria especulação e muita irresponsabilidade da minha parte falar algo”, afirmou o diretor de engenharia da concessionária, Gustavo Müssnich.

Durante a tarde de ontem a reportagem tentou entrar em contato com a concessionária do aeroporto para falar sobre as denúncias do sindicato, mas não obteve retorno.

Nove vítimas continuam internadas

Dos 14 operários feridos no acidente ontem, nove continuam internados. O mais grave está no Hospital Dr. Mário Gatti com fraturas no tórax e braço. Ele chegou a ficar cerca de 40 minutos pendurado por um cinto de segurança à espera de socorro. Além dele, outros três operários também estão internados no Mário Gatti. Segundo a assessoria de imprensa da Prefeitura, o estado de saúde deles inspira cuidados, mas nenhum dos quatro corre risco de morte.

Três trabalhadores foram levados ao Hospital Ouro Verde e até o final da noite de ontem continuavam em observação. A vítima atendida no Hospital Celso Pierro, que sofreu fratura na mandíbula, deve receber alta hoje.

A nona vítima que continua internada está em observação no Hospital de Clínicas da Unicamp e também deve receber alta hoje. Os 14 operários feridos no acidente estavam em um andaime que cedeu e caiu sobre duas lajes no canteiro de obras do Píer C do Aeroporto de Viracopos, onde será o novo terminal de passageiros. A construção não suportou o peso e também desabou. A altura da queda, segundo a concessionária Aeroportos Brasil Viracopos, foi de aproximadamente dez metros.

*Felipe Tonon/AAN

(Colaborou Adriana Leite/AAN)

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