Presos são acusados de extorquir executivo investigado por desviar e roubar combustíveis; crime era feito com intermédio de advogado
Promotores do Gaeco fazem operação em cidades da RMC (Leandro Ferreira)
Dois policiais civis foram presos nesta quinta-feira (6) em São Paulo acusados de receber propina de comerciantes que vendiam combustíveis roubados em Paulínia. Esses empresários estavam sendo investigados por esses próprios policiais. A ação deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de Campinas, também prendeu um advogado e um empresário acusados de envolvimento com o esquema criminoso. A denúncia foi feita por um comerciante que não estaria aguentando pagar a propina. O pagamento, segundo as investigações, seria intermediado pelo advogado Marcelo Henrique de Carvalho Silvestre, de Paulínia, um dos presos. Um empresário de Cosmópolis também foi alvo de mandado de prisão, mas não foi informado se ele é o comerciante que denunciou o caso. O Gaeco começou a investigar as extorsões há 45 dias, depois que a denúncia foi feita ao MP. Os dois policiais presos trabalham na Divisão de Investigações sobre Furtos, Roubos e Receptações de Veículos e Cargas (Divecar) do Departamento de Investigações Criminais (Deic) na Capital. Um terceiro policial está foragido. Os três participaram da Operação Petroleiros, que investiga os roubos de combustíveis em Paulínia praticados pelos empresários que eles passaram a extorquir. “Os relatos (da denúncia) são de que esses policiais estavam agindo de forma aterrorizante e incisiva”, informou o delegado Sander Malaspina, titular da 2ª Corregedoria de Polícia Auxiliar de Campinas. “Ao todo, foram exigidos R$ 6 milhões do grupo de comerciantes investigados. E essa é uma situação interessante porque eles podem ser condenados por roubo de combustíveis, mas, por outro lado, podem ter sido vítimas de corrupção policial”, acrescentou. A quantia que efetivamente foi paga como propina não foi divulgada. As investigações prosseguem. Petranha A operação desta quinta-feira foi denominada Petranha. “Significa história falsa, enganosa. Os policiais do Deic, sob o pretexto de combater o roubo de cargas, se aproveitaram de uma investigação para extorquir os investigados”, disse o promotor do Gaeco Daniel Zulian. “E, com isso, a sociedade acaba perdendo em duas frentes: primeiro porque policiais deixam de apurar devidamente crimes em troca de dinheiro. E, segundo, porque as pessoas que deveriam ser responsabilizadas pelos crimes investigados não o são.” Petroleiros A Operação Petroleiros foi desencadeada em Paulínia para combater o roubo de combustíveis na região. As investigações começaram no ano passado, e, em junho deste ano, quando a operação foi deflagrada, oito pessoas foram presas. Foram apreendidos também dez caminhões, duas carretas, quatro armas, computadores, dinheiro e dois bloqueadores de sinais. O esquema, segundo a polícia, movimentava por mês na região de Campinas, em média, 600 mil litros de combustível entre etanol, gasolina e óleo diesel. A operação desvendou o mistério envolvendo um trecho da Rodovia Professor Zeferino Vaz, no limite entre Paulínia e Cosmópolis, conhecido como “buraco negro”, onde os caminhões-tanques desapareciam dos sistemas de monitoramento e, horas depois, reapareciam abandonados entre 50 e 100 quilômetros do local. Durante o “sumiço”, todo combustível era descarregado. Os roubos das cargas ocorriam depois que os motoristas saíam das transportadoras rumo à entrega. Os ataques eram realizados em uma região onde existe um longo aclive, próximo ao Rio Jaguari. Para tirar os caminhões da rota do sistema de monitoramento, os criminosos usavam os bloqueadores.