EM BARÃO GERALDO

MP investigará possível ação nazista após discussão em bar de Campinas

Funcionário negro foi alvo de homens com coletes do MotoClube Abutres

Do Correio Popular
10/05/2022 às 08:37.
Atualizado em 10/05/2022 às 08:37
Fachada do Bar do Ademir, no distrito de Barão Geraldo, onde ocorreu toda a ação de intimidação do funcionário pelos três homens que estavam armados (Ricardo Lima)

Fachada do Bar do Ademir, no distrito de Barão Geraldo, onde ocorreu toda a ação de intimidação do funcionário pelos três homens que estavam armados (Ricardo Lima)

O Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP), por meio da Promotoria de Justiça de Direitos Humanos de Campinas, instaurou procedimento para apurar dano moral coletivo em decorrência de ato de racismo registrado em um bar na região de Barão Geraldo, na noite da última sexta-feira (6), em Campinas. Na ocasião, um homem branco teria imitado um macaco para um funcionário negro e imigrante. 

Em nota, o MP informou que os suspeitos já foram identificados e a promotoria investiga a possível atuação de grupo neonazista.

O caso ocorreu na noite de sexta-feira no bar do Ademir. Segundo o dono do estabelecimento, que pediu para não ter o nome divulgado, três indivíduos, com coletes do MotoClube Abutres, estacionaram dentro de um carro, próximo ao bar, e chamaram um dos funcionários.

O trabalhador é negro, imigrante de Guiné Bissau, e se mudou recentemente ao Brasil para estudar na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), fazendo um ‘bico’ no local esporadicamente. Como o funcionário não atendeu aos pedidos, de acordo com o proprietário do bar, o trio saiu do veículo. 

“Um deles estava armado, outro com uma faca, e começaram a discussão. Eu estava dentro do bar e me chamaram. Assim que cheguei, um deles me apontou a arma e me ameaçou, dizendo que se eu defendesse o funcionário ‘eu ia ver’”, conta, sobre a intimidação. 

O dono do estabelecimento relatou ainda que o homem que segurava a arma desferiu dois socos nele com a outra mão. “Fiquei paralisado”, lembra. “É um bar tranquilo... e aí ele me agrediu e ficou me ameaçando”.

Na sequência, um dos homens teria efetuado disparos para o alto e, antes de sair do local, segundo o dono do bar, imitou um macaco para o funcionário. “Foram direto nele. Queriam levar ele e não havia motivo para isso. Falavam que ‘eram autoridades’ e que ele [funcionário] tinha que ir com eles, chegando a puxá-lo pelo braço”.

No total, segundo testemunhas, foram três disparos para o alto até os homens irem embora. Eles foram para Paulínia, onde uma briga foi registrada em outro bar e um deles foi preso. A Polícia Militar foi acionada e o bar fechado. Houve uma grande dispersão entre os clientes.

Ato terrorista

A advogada Juliana Correa Morelli, que testemunhou a ação, disse que foi a primeira vez que testemunhou algo assim no local. “Percebemos claramente que aquilo era, de alguma forma, um ato terrorista político, porque jamais presenciei qualquer problema desses neste bar. Frequentamos ele há anos e nunca vimos nada acontecer, nenhuma briga, nada”, garantiu. 

Procurada, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP) não respondeu até o horário de fechamento desta reportagem se o suspeito continua preso e se outras pessoas foram identificadas. 

Um boletim de ocorrências on-line foi registrado no sábado e outro ontem (9), no Distrito Policial de Barão Geraldo. O caso foi registrado como disparo de arma de fogo, lesão corporal e ameaça. A perícia também esteve no local, porém, não localizou resquícios das armas. 

O funcionário, vítima do trio, de acordo com o dono do estabelecimento, ficou assustado. “Hoje ele está bem, mas ficou bem apavorado no dia. Isso mexe com o psicológico. O que a gente espera agora é que a justiça seja feita.”

Abutres

O Departamento Jurídico do Abutres MotoClube emitiu uma nota, em que garantiu não compactuar “com qualquer forma de discriminação, especialmente racial, mas também xenofóbica, sexista, condição social ou qualquer forma de segregação (...) O Abutre’s MC - Raça em Extinção reitera seu compromisso com a igualdade e fraternidade entre todas as pessoas”, diz trecho. 

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