INQUÉRITO CIVIL

MP investiga denúncia de irregularidade em contrato firmado pela Câmara

Valor do acordo feito com a Fundação Instituto de Administração (FIA) para projeto de reestruturação administrativa do Legislativo e antecipação de 30% do montante serão apurados

Luiz Felipe Leite/[email protected]
30/04/2025 às 10:16.
Atualizado em 30/04/2025 às 11:31
Procurado para falar sobre o assunto, o presidente da Câmara, Luiz Rossini (Republicanos), não quis dar entrevista, mas rebateu, via nota oficial, que tenha havido qualquer irregularidade na contratação da consultoria (Cãmara Municipal de Campinas)

Procurado para falar sobre o assunto, o presidente da Câmara, Luiz Rossini (Republicanos), não quis dar entrevista, mas rebateu, via nota oficial, que tenha havido qualquer irregularidade na contratação da consultoria (Cãmara Municipal de Campinas)

O Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) investiga irregularidade no contrato feito pela Câmara de Campinas com uma empresa, contratada para um projeto de reestruturação administrativa do Legislativo local. No inquérito civil em andamento, consta que a suspeita dos promotores é de que tenha acontecido um direcionamento na contratação da Fundação Instituto de Administração (FIA) para a realização do serviço, além da prática de preços maiores aos normalmente cobrados no mercado e com pagamento antecipado sem justificativa legal. O valor do contrato supera os R$ 2,2 milhões, R$ 960 mil acima do preço cobrado por outra empresa do mesmo segmento. A Mesa Diretora e o secretário-geral da casa, Linconl Carlos dos Santos, ambos em nota, negaram qualquer tipo de irregularidade.

A abertura da apuração foi motivada por uma denúncia anônima, colocando em dúvidas a contratação da FIA por meio de uma dispensa de licitação, o valor do acordo feito com a Câmara de Campinas e o fato de 30% do pagamento total do contrato ter sido antecipado pelo Legislativo. O denunciante alegou que o projeto de reestruturação seria necessário para aumentar o número de cargos comissionados nos gabinetes dos 33 vereadores, da presidência e de outros setores. A reclamação feita ao MP também diz que funções e poderes dos servidores efetivos seriam transferidos para os funcionários comissionados.

O vereador Luiz Rossini (Republicanos), presidente da Câmara, foi procurado para se manifestar sobre o assunto. A posição dele sobre o tema foi respondida por meio de uma nota, assinada pela Mesa Diretora do legislativo. Nela foi rebatida qualquer possibilidade de irregularidade na contratação, afirmando que há a previsão da dispensa de licitação no caso de instituições brasileiras “que desfrutem de inegável reputação ética e profissional, capaz de apoiar, captar e executar atividades de ensino, pesquisa, extensão, desenvolvimento institucional, científico e tecnológico e estímulo à inovação”.

A Mesa Diretora frisou que o valor do contrato é inferior a todos os contratos apresentados pela FIA, além do fato de que a antecipação do pagamento é possível desde que resulte em economia de recursos ou quando for indispensável para a prestação do serviço. “A medida resultou em vantagem econômica na ordem de 15% do montante antecipado sem que tal antecipação implicasse na assunção de maior risco para o ente público”, pontuou.

O comando da Câmara de Campinas explicou que a atual estrutura administrativa é de 2014, ocasião em que também foi feita a contratação de uma consultoria externa. “Passada uma década, uma remodelagem institucional se mostra necessária para acompanhar a transformação, inclusive tecnológica, a fim de manter a eficiência, o atendimento e o planejamento dos serviços públicos disponibilizados para a população.”

A Mesa Diretora da casa, ainda em nota, defendeu a contratação da FIA e ressaltou a importância da empresa criada em 1980 por professores do Departamento de Administração da Universidade de São Paulo (USP), e disse que a Câmara de Campinas está disposta para colaborar com qualquer investigação sobre o assunto. “Assim, a referida contratação foi precedida de regular processo administrativo acessível a qualquer cidadão pelo rito da Lei de Acesso à Informação, o contrato foi publicado em diário oficial e disponibilizado no Portal da Transparência e todos os atos administrativos praticados no curso do expediente que precedeu a contratação foram devidamente motivados e fundamentados.”

O secretário-geral da Câmara foi citado na denúncia anônima ao MP como o responsável por articular a contratação da FIA e da proposta de reestruturação. Foi afirmado que ele teria utilizado contatos pessoais com a empresa para direcionar o contato. Também em nota, Linconl Carlos dos Santos negou as acusações e as classificou como “mera especulação, sem respaldo em fatos concretos”. 

Ele esclareceu que o processo está sendo tratado com a máxima lisura e transparência e que em nenhum momento houve qualquer atuação indevida ou direcionamento da parte dele, sendo o processo conduzido de forma técnica e dentro dos princípios da legalidade e da transparência. “Especificamente quanto à diferença de valores entre as propostas analisadas, destaco que a disparidade alegada não faz jus à realidade, pois, dentre as opções apresentadas, houve instituição que ofertou proposta com valor superior ao da contratada. A escolha da FIA se deu com base em seu reconhecido know-how e expertise consolidada na realização de projetos de reestruturação administrativa, destacando-se perante as demais fundações consultadas”, encerrou.

A Fundação Instituto de Administração foi procurada no início da noite de ontem para se posicionar sobre o inquérito, mas não houve retorno até o fechamento desta edição.

Siga o perfil do Correio Popular no Instagram.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por