Falta de informação e de visualização dos locais credenciados são os principais empecilhos para a compra do bilhete; assim, abrem-se brechas para que flanelinhas invadam as ruas
No Centro, por exemplo, em oito locais avaliados, somente três estavam com o banner que indica a venda de estacionamento rotativo visível ( Dominique Torquato/ AAN)
Motoristas que procuram pontos de vendas autorizados de Zona Azul, em Campinas, relatam que a falta de informação e de visualização dos locais credenciados são os principais empecilhos para a compra do bilhete. Dessa maneira, segundo os usuários, abrem-se brechas para que flanelinhas "invadam" as ruas e ofereçam a vaga com a hora cobrada o dobro do valor real - prática que o Correio vem denunciando há duas semanas. Nesse período, a polícia já deteve aproximadamente 20 pessoas por "comercialização" do espaço em solo público e exercício ilegal da atividade.A reportagem percorreu alguns locais onde os comércios aparecem no site da Empresa Municipal de Desenvolvimento (Emdec) como credenciados para a venda de bilhete de Zona Azul, mas nem todos facilitam a vida dos motoristas. No Centro, por exemplo, em oito locais avaliados, somente três estavam com o banner que indica a venda de estacionamento rotativo visível. Conforme divulgado na seção Zona Azul do site da Emdec, ao todo são 112 pontos comerciais credenciados. Somente na região central, conforme informa a empresa, são 94 pontos e os demais credenciados ficam na região do Bosque (2 pontos), Cambuí (9), Vila Itapura (2), Botafogo (1) e Guanabara (4). Nesse último bairro, o gerente de vendas Thiago Vicentin, de 28 anos, descobriu que o café na Rua Tiradentes vendia bilhete de Zona Azul após perguntar para outra pessoa que colocava o bilhete no painel."Já paguei R$ 5,00 (o preço por uma hora é R$ 3,20) para um flanelinha por facilidade, e por não encontrar um ponto por perto. Mas hoje resolvi comprar e me indicaram aqui", disse. O local tem um banner visível na entrada, mas uma das atendentes confessa que poucos vêem o banner, e vão ao local por que já sabem se tratar de ponto credenciado. Da mesma maneira acontece em uma banca de jornais na Rua Thomaz Alves. Na segunda-feira (25), o local estava sem banner de identificação, mas uma das atendentes informou que iria repor a identificação que havia ficado no carro."Em Campinas já deveria ter pessoas credenciadas andando pelas ruas, assim como tem em Sorocaba, Itú e outras cidades. O flanelinha se aproveita dessa brecha para faturar", acredita o cabeleireiro Robson Rodrigues Reis, de 38 anos. Ele comprava o bilhete Zona Azul na banca da Thomaz Alves, e disse que chegou até o local por indicação.Um projeto municipal para regularizar a profissão de flanelinhas e oferecer curso profissionalizantes aos trabalhadores em Campinas foi parar no "arquivo morto" da Prefeitura. A Administração alega que o plano, lançado em 2012, é inconstitucional, pois o município não pode legislar sobre profissões. Há dois anos ex-secretário de Trabalho e Renda, Jaírson Canário, tentou retomar o cadastro dos guardadores de carros e cerca de 60 flanelinhas chegaram a ser cadastrados no programa, que não foi regulamentado por decreto. Em nota, a Emdec informou que fornece a todos os credenciados um banner de 40 cm x 70 cm e um adesivo de 30 cm x 20 cm para que anunciem que são pontos de venda do cartão da Zona Azul. "A orientação aos comerciantes é que posicionem o material da forma mais visível possível". Entretanto, a Emdec não informou se realiza fiscalização nesses pontos para se ter a garantia de que os comércios estejam colocando o banner ou adesivo em locais visíveis.Apesar de informar que a relação dos locais credenciados pode ser consultada pelo site (www.emdec.com.br) ou por telefone (19) 3772-1517), a empresa também não relacionou se há novos pontos ou a extinção de alguns ao longo dos anos. A parada em uma vaga sem a colocação da Zona Azul é considerada infração leve (três pontos), com multa de R$ 53,20, ficando o veículo sujeito a guincho.Retranca: Com medo da polícia flanelinhas "terceirizam" pontosCom a recente detenção de flanelinhas em pontos denunciados pela população, através do Correio, alguns profissionais "passaram o ponto" para que terceiros cuidem do local até a imagem deles serem "esquecidas" pelas autoridades. Ontem, em dois locais a reportagem encontrou novos flanelinhas na velha função de cobrar pela vaga pública.Na Rua Barata Ribeiro, no Guanabara, após a detenção do rapaz que impedia com que motoristas, principalmente mulheres, parassem em vagas sem lhe dar R$ 6,00, um novo homem pode ser visto "trabalhando" no trecho da rua que fica entre a Avenida Barão de Itapura e a Rua Tiradentes.Na manhã desta segunda (25) ele desempenhava a mesma função que o colega, e segundo alguns motoristas o novo flanelinha é amigo daquele que foi detido. "Ele deve estar com medo de ser pego pela polícia de novo" , disse o funcionário de um escritório, que não quis revelar o nome. Novo "funcionário" , mas com a velha prática de colocar a Zona Azul do cliente pela fresta da janela e sob o valor de R$ 5,00.Outro flagrante de "terceirização" do ponto ocorre na Rua Thomaz Alves, onde um rapaz que se apresentou como Márcio, e estava no lugar de Gilson, aquele que alugava a área pública para estacionamento de motos por R$ 50,00 por mês. "Eu sou contra essa cobrança, mas meu colega pediu para ficar aqui enquanto ‘esquecem’ dele", disse. Mas apesar de "ser contra" a cobrança, fez as contas e disse que leva aproximadamente R$ 40 por dia. Porém não fixa preço, apenas recebe de bom grado a quantia que o dono da moto der à ele.Na sexta-feira passada, uma operação envolvendo as polícias Civil e Militar, a Guarda Municipal e a Emdec deteve 12 flanelinhas na região central e Guanabara. As detenções surtiram efeitos, e em alguns pontos estão livres de cobranças irregulares, como nas ruas General Osório, Boaventura do Amaral e Thomas Alves (trecho da Anchieta até a Luzitana). Todos os flanelinhas detidos são fotografados, assinam termo circunstanciado de ocorrência (TCO) e são liberados. As autoridades informaram que as operações para coibir a cobrança ilegal deve continuar.