ADESÃO SIMBÓLICA

Motoristas por aplicativo fazem manifestação em Campinas

Eles reivindicam uma taxa mínima de R$ 10 para viagens e valor maior de repasse

Luis Eduardo de Sousa/ luis.reis@rac.com.br
16/05/2023 às 09:04.
Atualizado em 16/05/2023 às 09:04

Em Campinas, a única movimentação registrada foi em frente ao escritório da Uber, localizado na Avenida Orozimbo Maia: pelo menos 60 motoristas bloquearam a faixa esquerda da via (Alessandro Torres)

A paralisação nacional de motoristas por aplicativo anunciada para segunda-feira (15) afetou parcialmente o funcionamento da Uber e da 99 em Campinas. Embora a adesão tenha sido simbólica e não tenha contado com maioria dos motoristas, usuários relataram demora para conseguir carro, preços e cancelamentos acima do normal. Pelo lado dos motoristas, quem saiu às ruas esteve apreensivo, com medo de represálias, mas comemorou os preços elevados.

A “greve” dos motoristas foi anunciada ainda na quinta-feira da semana passada, quando ficou definido, aos que optaram por aderir, que a paralisação duraria 24h, começando as 4h da segunda-feira e se encerrando as 4h de hoje. O movimento é uma iniciativa da Federação dos Motoristas por Aplicativos do Brasil (Fembrapp), e tem como reivindicação uma taxa mínima de R$ 10 para viagens e um percentual maior no repasse para os motoristas, que reclamam de desvios de até 60% do valor cobrado pela viagem para a empresa que gerencia o aplicativo.

Em Campinas, a única movimentação registrada foi em frente ao escritório da Uber, localizado na Avenida Orozimbo Maia. Pelo menos 60 motoristas bloquearam a faixa esquerda da via e colaram adesivos na vidraça do escritório com os dizeres “motoristas pedem reajuste”, “queremos mínimo de R$ 10” e “mínimo de R$ 10 eu cancelo”. De lá, eles saíram em comboio pelas ruas da região central com destino à rodoviária, um dos principais pontos de fluxo de usuários do transporte por aplicativos na cidade.

O motorista Esdras Alves, de 39 anos, há cinco anos vive exclusivamente de transporte por aplicativos. Ele disse que apoia a manifestação, já que a reivindicação, a seu ver, é justa. No entanto, não pode parar de rodar para não afetar a renda. “Na maioria das vezes eles ficam com 40% da renda. Se você faz uma viagem de R$ 10, apenas R$ 6 ficam com o motorista, o demais vai para a empresa. Então, para você ter um lucro real tem que rodar o dia inteiro e pegando boas viagens. Se, por outro lado, você pega viagens abaixo de R$ 10, acaba não compensando. Só o gasto que você tem de combustível e o tempo que demora pra fazer a corrida, já sai perdendo”, relatou.

De acordo com Esdras, a renda mensal do motorista para uma jornada de 9h diárias beira os R$ 6 mil líquidos, valor contestado pelo também motorista Guilherme Gabriel, de 30 anos. “O pessoal fala que ganha isso, mas não é verdade. Você tem que levar em consideração os gastos como pneus, óleo, embreagem, suspensão, tudo. A maioria das viagens está na casa dos R$ 9, R$ 10. Ou seja, a margem de lucro é baixa” disse o jovem motorista, que usa o aplicativo para obter renda extra. “São raras as exceções que você obtém bons lucros. Apenas quando tem shows grandes pela cidade, eventos que atraem muita gente, aí você acaba ganhando um pouco mais”, completou.

A vendedora Thais Silva, de 31 anos, usa a Uber para ir do Jardim Pacaembu, onde mora, para a o Terminal Metropolitano, onde toma o ônibus para ir ao trabalho, no Shopping Iguatemi. O valor, que geralmente beira os R$ 8,00, estava em R$ 35,00 por volta das 6h30, contou.

A paralisação também movimentou as redes sociais. No Twitter, uma usuária publicou que o “preço da Uber em Campinas pela manhã estava mais cara que uma passagem da metrópole para São Paulo”. Em outra publicação, uma usuária parabenizou os motoristas com um print do mapa do aplicativo que mostrava grande parte da cidade na cor vermelha, que indica o “dinâmico”, quando as corridas custam mais que o normal.

De acordo com a Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), 166,5 mil motoristas de todas as empresas de aplicativos são registrados para atuar em Campinas. De acordo com a autarquia, o número é maior que a quantidade real de motoristas que circulam em Campinas, já que as empresas registram motoristas de outras localidades e não somente os que operam na cidade.

Em nota, a Emdec informou que ficou sabendo da manifestação ainda na semana passada. “A Emdec foi comunicada da manifestação pela organização do evento, via protocolo, no dia 10 de maio. Agentes da Mobilidade Urbana monitoraram a manifestação, que teve início pela Rua Fernando Costa, próximo ao Estádio Moisés Lucarelli. Cerca de 80 veículos seguiram pela Avenida José de Souza Campos (Norte-Sul), até a Avenida Orosimbo Maia, próximo à Rua Sacramento. Não foi registrado impacto no trânsito, sendo mantida a fluidez viária. Às 12h10, houve a dispersão”, informou a nota.

NACIONAL

A paralisação é de iniciativa da Federação dos Motoristas Por Aplicativos do Brasil (Fembrapp) e da Associação de Motoristas de Aplicativos de São Paulo (Amasp). As entidades calcularam que 70% dos profissionais da categoria em todo o país deveriam aderir à greve.

O presidente da Amasp, Eduardo Lima de Souza, disse que a paralisação é porque o motorista de aplicativo está recebendo o mesmo desde 2016. “Até hoje, o motorista mantém o valor das corridas ganhando a mesma coisa. O setor automobilístico aumentou suas peças, o valor do veículo, o petróleo teve aumentos consecutivos, e as empresas não acompanharam esse aumento”, explicou.

Outra reivindicação da categoria é com relação ao sistema de cobrança. “De 2019 para cá as empresas mudaram o sistema de cobrança. Antes, você saía da sua casa para ir para o seu trabalho, por exemplo, você sabia que esse valor informado seria o mesmo que você pagaria. Atualmente não é isso mais, e com isso a taxa cobrada dos motoristas também está sofrendo essa variação. As empresas reajustaram os valores das tarifas para os passageiros, mas não repassaram para os motoristas, fazendo com que o valor de uma corrida chegue até 60% de desconto de taxa. Com isso, os motoristas estão trabalhando longas horas, chegando no final do dia com o lucro muito baixo, fazendo com que ele tenha que trabalhar todos os dias”, lamentou.

Em nota, a Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec) disse que “respeita o direito de manifestação e informa que as empresas associadas mantêm abertos seus canais de comunicação com os motoristas parceiros, reafirmando a disposição para o diálogo contínuo, de forma a aprimorar a experiência de todos nas plataformas”.

A plataforma 99 informou, por meio de nota, que tem conversado com os motoristas do aplicativo e que tem programas de apoio à categoria. "Ouvindo e conversando com cerca de 2 mil motoristas todos os meses, a 99 adotou soluções permanentes para incrementar os ganhos no app: foi a primeira plataforma a oferecer a taxa garantida, que assegura aos condutores a taxa máxima semanal de até 19,99%”.

O aplicativo ainda informou que foi pioneiro em iniciativas com o Adicional Variável de Combustível, um auxílio no ganho que aumenta sempre que o combustível sobe. "Além disso, lançou outros programas como: kit gás; consórcios com taxas mais baixas para a compra de veículo; vantagens no aluguel de carros; o 99Loc, que amplia o acesso à locação de veículos e o DriverLAB, um centro de inovação criado pela 99 para fortalecer o cuidado com o motorista e a redução de seus custos operacionais."

A Uber foi procurada para comentar sobre a paralização, mas não respondeu até o fechamento desta edição. (Com informações da Agência Brasil)

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