GASTO ALTO

Motoristas do Uber pagam até 50% a mais por seguros

Especialistas alertam para a necessidade de informar uso comercial na hora de contratar a apólise, para não correr o risco de não ser reembolsado

Inaê Miranda
30/07/2016 às 19:28.
Atualizado em 22/04/2022 às 23:13
Empresas de seguro ainda não sabem direito como lidar com o Uber, e enquadram a categoria como os táxis (Cedoc/RAC)

Empresas de seguro ainda não sabem direito como lidar com o Uber, e enquadram a categoria como os táxis (Cedoc/RAC)

Motoristas do Uber estão pagando até 50% mais caro para fazer o seguro dos veículos que motoristas de carros de passeio. Um levantamento feito pela ComparaOnline, que compara o preço de seguros em todo o País, revelou um aumento médio de 28% nos veículos utilizados para serviços de transporte urbano — além do Uber, o BlaBlaCar e o Cabify, entre outros. Apesar dos custos, os especialistas alertam para a necessidade de informar o uso comercial na hora de contratar o seguro, para não correr o risco de não ser reembolsado em caso de roubo, furto ou colisão. Os motoristas parceiros reclamam dos custos. Segundo a ComparaOnline, um dos carros mais utilizados na prestação desse tipo de serviço é o Corolla, que teve um aumento de 50% no preço do seguro. A variação no valor do prêmio passou de R$ 4.359,45, como veículo de passeio, para R$ 6.574,70, como veículo de trabalho. Outro veículo que registrou uma grande variação de preço foi o Sentra, da Nissan, com um aumento de 46% no preço de seu seguro, indo de R$ 4.344,95 para R$ 6.371,31. O Honda Civic e o Renault Sandero sofreram uma alteração de 16% e 8% respectivamente. Foram avaliados seis modelos. Paulo Marchetti, diretor-geral da ComparaOnline no Brasil, diz que alguns fatores explicam a elevação do seguro, entre eles o comportamento conservador das seguradoras e a falta de informação histórica. “A seguradora trabalha com dados históricos de risco de cliente. Essa coisa de carona é nova. Não tem um histórico de problema que os motoristas vão trazer. Na dúvida, algumas seguradoras enquadraram como táxi.” Algumas seguradoras sequer aceitam fazer a cobertura, conforme Marchetti. Já entre as que aceitam estão a Sulamerica Seguros, Porto Seguro e a Tókio Marine. Maurício Antunes, diretor de marketing da Bidu Corretora, explica que contratar um seguro compreensivo (com coberturas contra roubo, furto, colisão e outros) voltado para carros de passeio pode significar um prejuízo. “Caso o motorista Uber sofra uma colisão durante o período que está trabalhando com o aplicativo, a seguradora pode rejeitar a indenização, devido ao perfil de risco diverso.” Ele diz que uma pessoa que faz um uso de veículo de passeio corre riscos diferentes daquela que trabalha com o carro e roda mais tempo e com maior circulação de passageiros. Marchetti diz que discorda do aumento porque, em muitos casos, o Uber é usado como um serviço complementar da renda e, por serem donos dos veículos, os motoristas parceiros acabam tendo um cuidado maior. “Usam para carona em um tempo menor que os taxistas. Os taxistas não são constantemente avaliados como os motoristas de Uber são. Na maioria dos casos, os motoristas de Uber são os próprios donos do veículo e isso faz com que dirijam com um zelo maior.” Avisar é preciso Motorista de Uber, Fábio diz que comunicou a sua corretora de seguros sobre a atividade com o carro. “Estou pagando R$ 3 mil de seguro anual. Se eu não fosse Uber, eu ia pagar mais ou menos R$ 2,5 mil. Para evitar dor de cabeça, não quis omitir a informação e a seguradora classificou como se eu exercesse atividade comercial, não exatamente como taxistas, porque o risco do táxi é maior”, comentou. “Não mexi no meu seguro, porque estou fazendo o Uber muito pouco, depois que baixou a tarifa não está compensando e o meu carro é gastão. Estou me virando de outras maneiras”, afirmou Adriana, outra motorista do serviço. Eles preferiram não dar o nome completo. A empresa Uber comentou apenas que o seguro contra acidentes pessoais de passageiros (APP), que antes era cobrado do motorista, agora é providenciado pela Uber. “A partir de julho de 2016, o seguro APP cobrirá motoristas e usuários em cada viagem.” As coberturas em casos de acidentes são de R$ 100 mil por pessoa para morte acidental, de R$ 100 mil por pessoa para invalidez permanente total/parcial e de até R$ 5 mil por pessoa para despesas médicas. Empresa já aceita dinheiro para pagamento de viagens Desde sexta-feira, o Uber aceita o pagamento das corridas em dinheiro. A empresa trabalhava apenas com o pagamento feito por cartão de crédito. Embora não tenha previsão de quando a medida passará a valer em Campinas, a novidade não foi vista com bons olhos pelos motoristas parceiros da cidade. “Ser Uber para mim é gosto, é divertido, mas estou desistindo porque está desestimulando trabalhar”, afirmou o motorista Fábio. Ele disse que receber dinheiro pode aumentar o risco de assaltos. “A gente vai passar a ser visado. Em Campinas não estamos trabalhando com dinheiro, mas a Uber chega e joga a decisão. O pessoal está muito descontente”, afirmou. Outra medida que vem irritando os motoristas é a redução da tarifa em 20% na cidade de Campinas. A medida foi anunciada no começo de julho e já teria feito alguns motoristas desistirem de trabalhar com a plataforma. “Tem um monte de gente que nem está rodando. Com essa tarifa não compensa. Só compensa para quem tem carro 1.0 no álcool e olhe lá. Tem que estar muito necessitado mesmo. Não dá para trabalhar com essa tarifa”, afirmou Adriana. “Abaixaram o preço dizendo que vai ter mais viagem. Mas aí o gasto com o carro aumenta: mais gasolina, mais pneu”, acrescentou Fábio. Os motoristas não descartam fazer um protesto contra a redução da tarifa ainda esta semana. Sobre o pagamento em dinheiro, a Uber afirmou que nas mais de 90 cidades onde opera aceitando dinheiro, não houve diferença em relação à segurança dos usuários. “Todos os recursos de segurança da Uber continuam presentes antes, durante e depois de cada viagem, inclusive o rastreamento por GPS, a possibilidade de compartilhar as informações da viagem com familiares e amigos e o sistema de avaliação de motoristas parceiros e passageiros. Para quem preferir, ainda haverá a opção de pagar com cartão de crédito, basta selecionar esta opção no app”, afirma a empresa em nota. Em relação à redução das tarifas em Campinas, a empresa informou que o objetivo é “oferecer mais uma opção confiável e acessível para as pessoas se movimentarem pela cidade, e ao mesmo tempo oferecer aos nossos parceiros uma maneira cada vez mais eficiente de apertar um botão e gerar renda”. Segundo a Uber, os motoristas parceiros continuam ganhando a mesma porcentagem (80% para UberBLACK e 75% para UberX) do valor pago pelos usuários por cada viagem que realizam pelo aplicativo.

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