FISCALIZAÇÃO

'Motel' no Taquaral é desafio para Guarda Municipal

Guarda intensifica ronda contra atos sexuais cometidos à luz do dia em área de mata do parque

Luciana Félix
24/11/2013 às 08:09.
Atualizado em 24/04/2022 às 22:25

A Guarda Municipal (GM) de Campinas intensificou o patrulhamento na área de mata da Lagoa do Taquaral, próximo à entrada da Concha Acústica, após registrar uma sequência de atos obscenos no local. A área é constantemente usada por pessoas em busca de sexo casual ao ar livre. Apenas na última semana, seis homens foram levados até a delegacia para prestarem esclarecimentos. Três tiveram que assinar Termos Circunstanciais de Ocorrência (TCOs) por importunação ofensiva ao pudor e por atos obscenos cometidos na área. Um dos casos ocorreu às 8h30 e envolveu um despachante de 50 anos e um jovem de 19. Eles foram flagrados praticando sexo oral.Segundo a GM, desde que aumentou o número de rondas pela área são ao menos seis abordagens de pessoas (maioria homens) em atitudes suspeitas diariamente. Em um dos casos foram feitas 20 abordagens em uma única tarde. Nenhum dos “suspeitos” era de Campinas.O local tem cerca de 1 mil metros quadrados e fica logo após a entrada 2 do parque. A área é formada por uma mata fechada, porém com algumas trilhas usadas para os encontros sexuais. Não é de hoje que o espaço de vegetação fechada é usado para transas rápidas e até orgias. Os encontros acontecem em qualquer horário do dia ou da noite. Segundo a GM, 90% dos frequentadores são homens com idades entre 19 e 60 anos. A maior parte (dos abordados) se diz heterossexual, casado e com filhos, alguns até mostram fotos da família ao guarda como forma de negar o ato cometido. Em alguns flagrantes os guardas se depararam com médicos, professores e até pastores de igreja.Um dos casos que mais chamaram a atenção dos GMs foi quando um deles fazia a ronda no local e percebeu que uma moita estava balançando. Ele se aproximou e flagrou um senhor e um rapaz transando sem camisinha. Quando foram revistar a mochila do jovem encontraram um coquetel para tratamento de HIV. O outro homem ficou nervoso, já que tinha acabado de transar com um portador e não sabia. Ele era casado, com filhos e netos. MAIS PATRULHAMENTOPara reduzir o número desses encontros, as rondas dos GMs passaram a ser frequentes pela área e são feitas com bicicletas. A preocupação maior, segundo a GM, é preservar a área pública que é um dos mais importantes cartões-postais da cidade. “São muitos casos, temos recebido ligações de pessoas que passeiam pelo parque com crianças e percebem o que está acontecendo. Antes, quando suspeitávamos, orientávamos, agora estamos levando até a delegacia. Estamos sendo mais rígidos porque o número é muito grande de casos, muitos deles em plena luz do dia. Aqui não é lugar para isso”, afirmou chefe de equipe da GM no Taquaral, Nazareno Siécola.O LOCALNão é difícil encontrar vestígios que apontem o quanto é alta a frequência de uso do motel a céu aberto em um dos parques mais movimentados da cidade. São ao menos quatro pontos, entre troncos de madeiras caídos no chão, árvores e áreas com vegetação rasteira, que o chão está coberto por embalagens vazias e camisinhas usadas. A impressão que dá é de estar pisando em um tapete de embalagens de camisinhas. Além dos preservativos, há uma quantidade muito grande de papel higiênico e até guardanapos de papel espalhos pelo chão. Eles são usados para higiene após o ato sexual. Pelas trilhas há também camisetas e até cuecas esquecidos. Um banheiro próximo da Concha Acústica também é usado para os atos sexuais.Ainda segundo a guarda, os casos acontecem principalmente a partir das 16h30. “Mas ultimamente temos flagrado no horário de almoço. Eles sabem que estamos em cima e aproveitam esse horário, achando que paramos para almoçar, para a prática”, afirmou.Siécola disse ainda que muitos casos acontecem à noite, após o horário de fechamento do parque. “Eles pulam a grade e outros a cortam. Se é grande o movimento de dia, imagine a noite.”Os encontros acontecem sem hora marcada, segundo relato de um frequentador que pediu para não ter o nome revelado. Ele é professor, tem 35 anos, é homossexual assumido e frequenta o local há cinco anos. Ele explicou que quem costuma frequentar sabe como funciona, muitos ficam sentados nos banco, apenas de olho na movimentação e paquerando. Alguns caminham pelo trilho do bondinho ou até mesmo nas trilhas e isso já é suficiente para acontecer o convite ao ato sexual. “É na troca de olhares que acontece. Um gosta do outro e já caminham para o ponto para saber quais as preferências”, afirmou.Ele disse que frequenta o local duas vezes por semana por saber da facilidade de transar. “Bateu vontade, corro pra lá. É um sexo anônimo, não precisa saber o nome da pessoa e nem quem ela é. Todos estão ali pra isso, sem demagogia. Sei que é ilícito fazer isso lá, mas a vontade é mais forte”, afirmou. O professor disse que a mata funciona como um “paraíso” onde todos podem ser quem realmente são. “A sociedade é muito cruel com o homossexual. Muitas vezes eles, com medo de represálias das famílias e amigos, não assumem, acabam se negando. Lá é o lugar onde podem ser quem realmente são.” O jovem disse que ultimamente tem reduzido as idas por causa da ação dos GMs. “Nunca fui pego, e nem quero ser. Eles reclamam que os guardas acabam sendo preconceituosos e humilham os flagrados.”  MOVIMENTAÇÃOA reportagem esteve no local na última semana acompanhada pela guarda e percebeu a movimentação e a fuga de alguns deles do local. Logo que a GM se aproximou dois homens que conversavam próximo à entrada da mata se assustaram e afastaram-se imediatamente. Um outro percebeu a entrada da patrulha na mata e saiu correndo. Já no interior da trilha, um quarto homem que caminhava no local também se assustou e desistiu do passeio.“Muitas vezes, quando abordamos, eles dizem que estão fotografando a mata e as flores. E acham absurdo imaginarmos que estão cometendo qualquer ato ilícito. Quando falamos que os vimos eles pedem para não falarmos para a família. Eles usam o local como válvula de escape. Aqui é como se tivessem saído do armário”, diz Siécola.FLAGRADOSNa semana passada o despachante A.A.R, de 50 anos e o atendente L.H.R.D., de 19 anos, foram flagrados pela GM praticando sexo oral dentro do banheiro masculino, próximo à Concha Acústica. Os dois homens foram levados ao 1º Distrito Policial por cometerem o ato obsceno em local público. Eles disseram a polícia que entraram juntos no banheiro já que o atendente estaria passando mal. O despachante, que já havia sido abordado outras vezes pelos GMs em situações parecidas, afirmou que não conhecia o jovem. E afirmou que era casado e tinha filhos. Porém, estavam praticando sexo oral em uma das cabines do banheiro público.  SAÚDEPara a coordenadora do programa Municipal de DST/aids, Cláudia Barros, esses espaço sociais de troca que envolvem relações sempre irão existir. “Existem trabalhos de sociólgos que falam sobre esse fetiche que o risco impõe. O proibido, de poder ser pego a qualquer hora, isso alimenta esses locais. Quanto à saúde a nossa preocupação é com relação ao uso de preservativos, porque essas pessoas estão vulneráveis”, afirmou. Ela acredita que o fechamento de casas próprias para encontros do tipo acabou fomentando esses pontos. “A gente tinha espaços desses aqui em Campinas, comerciais mesmos, lugares de encontros, muitos foram fechados. A sociedade não entende e por conta da negação de direito, muitos transam escondidos por medo de sofrer preconceito. Às vezes tem uma vida com família e filhos, e faz isso escondido. E também têm os que são resolvidos e fazem por fetiche. A GM está fazendo o papel dela. Em São Paulo, por exemplo, o Trianon é conhecido por isso, está até na música do Caetano Veloso”, disse Cláudia.  PÚBLICOO casal de Sumaré que costuma passear no parque aos finais de semana afirma já ter visto um casal de homens em atitudes suspeitas no local. “Eram mais velhos e estavam empolgados. Eu estava com minha filha de 8 anos que olhou e deu risada. Imagina a situação. Não sou contra o homossexualismo, mas tem lugar”, afirmou Rosinéia Freitas Domingues. “Se fosse um casal tradicional também não veríamos com bons olhos. Aqui não é lugar de transar. Tem muitas crianças passeando e brincando”, afirmou Andrew Silva Bonácio.

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