LUTO

Morre aos 75 anos o jornalista Roberto Godoy

Um dos profissionais de imprensa mais respeitados do Brasil faleceu na sexta-feira após uma parada cardíaca

Da Redação
31/03/2024 às 09:39.
Atualizado em 31/03/2024 às 09:39
Roberto de Godoy Marques Filho venceu o Prêmio Esso, o principal do jornalismo brasileiro, em 1971: ‘a liberdade de imprensa é, ainda, o maior dos prêmios que o jornalista pode ganhar’ (Gabriela Biló - Estadão Conteúdo)

Roberto de Godoy Marques Filho venceu o Prêmio Esso, o principal do jornalismo brasileiro, em 1971: ‘a liberdade de imprensa é, ainda, o maior dos prêmios que o jornalista pode ganhar’ (Gabriela Biló - Estadão Conteúdo)

Um dos mais brilhantes e respeitados jornalistas de sua geração, Roberto Godoy morreu na última sexta-feira, 29, aos 75 anos, de uma parada cardíaca. O maior especialista em assuntos de Defesa da imprensa brasileira tratava um câncer e, nos últimos meses, lutou contra a doença com apoio da família sem perder a coragem, a lucidez, o bom humor e o otimismo, marcas que sempre o acompanharam. Roberto de Godoy Marques Filho nasceu em 18 de janeiro de 1949 em Campinas. Começou a trabalhar cedo no Correio Popular, jornal da família na cidade, do qual seus pais eram sócios minoritários. Desde muito jovem, teve reconhecimento. Ganhou em sequência três prêmios jornalísticos do Centro das Indústrias (Ciesp Campinas), em 1969, 1970 e 1971. No final de 1971, venceu o principal prêmio do jornalismo brasileiro, o Esso, com a reportagem "Nasce o primeiro computador da América Latina", publicada no Correio Popular e no Estadão. Era o tempo da censura de imprensa, do AI-5. E afirmou: "A liberdade de imprensa é, ainda, o maior dos prêmios que o jornalista pode ganhar". O velório e o sepultamento ocorreram no sábado (30) no Cemitério Parque Flamboyant, em Campinas.

Foi contratado pelo Estadão como chefe da Sucursal de Campinas. Numa época em que assinatura do autor de um texto era rara, o nome Roberto Godoy aparecia com frequência em várias páginas do jornal, com reportagens de destaque. Muitas tratavam de avanços tecnológicos em diversas áreas: medicina, agricultura, energia, comunicação. "Esalq vai usar energia nuclear no agro"; "Laser, revolução na comunicação"; "ITA faz coração artificial"; "Unicamp terá centro de engenharia genética"; "Geisel vê o Xingu da Embraer"; "Vai nascer o primeiro brasileiro de proveta", que lhe daria importante prêmio Pelas manchetes era possível perceber o faro de Godoy para encontrar notícias verdadeiramente importantes. Mas não descuidava de contar histórias de sua região, que começava a crescer alucinadamente na década de 70. Muitas reportagens tratavam dessa expansão, mas outras contavam histórias do interior ainda rural, como na premiada série intitulada "A Região Bragantina Estagnada". Seu texto claro, bem construído e cheio de informações, convidava à leitura.

Foi no final da década de 70 que, para além de um repórter brilhante e premiado, começaria a carreira de um dos maiores repórteres de segurança, armas e guerras do Brasil e do mundo. Numa entrevista para a revista Imprensa de junho de 2012, Godoy contou que essa trajetória começou graças ao então editorchefe do jornal, Miguel Jorge (que anos mais tarde seria executivo da indústria automobilística e ministro de Lula). O chefe pediu para ele dar uma fuçada na indústria de segurança brasileira, escondida debaixo das burocracias e censuras militares.

Descobriu que a área era cheia de notícias e um trabalho de muita competência lhe abriu as portas para chefes militares, executivos da indústria de armas e aviões. Tornou-se a referência de informação.

"Não basta ser competente, tem de ter sorte", disse à revista. "Ao contrário do que se imagina, eu não tenho coleção de maquetes, de blindados, nada disso. Nunca tive. O assunto nunca foi meu hobby, mas é fascinante".

Na década de 80, espalhou notícias sobre a crescente indústria de armas, da Embraer, do setor de tecnologia e da Esalq/Embrapa no agro. Eram dele os maiores furos (nome que no jargão jornalístico significa a notícia em primeira mão) nestas áreas. Na década de 90, deixou o Grupo Estado para voltar a dirigir o Correio Popular de Campinas, para ser diretor de redação do jornal. Sob sua batuta a publicação viveu um período de destaque em coberturas jornalísticas. Tornou a colaborar com o Estadão em 1999 e em 2000 estava de volta ao corpo da redação do jornal da capital. Voltava para praticar o ofício que fez questão de espalhar, seja como repórter e chefe no Correio Popular, chefe da Sucursal de Campinas e editor na Agência Estado e, mais tarde, como um repórter especial de várias áreas do Estadão. Participou das coberturas, de modo remoto, de todas as guerras pelo mundo a partir dos anos 80: revoluções na América Central, Guerra das Malvinas, Guerra no Golfo, conflitos no Oriente Médio, na antiga União Soviética. Mas aceitara o convite para, em paralelo, escrever sobre a programação da TV a cabo. Era "O Fiscal da TV Paga".

Quando os jornais tiveram de se adaptar à era digital, Godoy não se intimidou com a necessidade de buscar outros meios de divulgar informações. Foi um dos primeiros astros da TV Estadão. Não só levando no novo canal do tradicional jornal suas informações sobre defesa, armas e guerras, mas comandando programas de entrevistas em diversos assuntos. Na rádio Eldorado, do Grupo Estado, participava sempre falando sobre assuntos relacionados à Defesa e tinha um podcast semanal, O Estado de Alerta.

O prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), lamentou a morte do jornalista campineiro. “Godoy era um amigo de longa data. À família, meus profundos sentimentos de pesar. Perde a imprensa brasileira com a morte desse brilhante profissional.” (com Estadão Conteúdo)

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