EDITORIAL

Moro deixa o presidente em situação grave

Da Agência Anhanguera
25/04/2020 às 12:49.
Atualizado em 29/03/2022 às 12:53

O agora ex-ministro Sergio Moro transformou-se num dos símbolos brasileiros de combate rigoroso à corrupção sistêmica no País. Como expoente da Operação Lava Jato, em trabalho conjunto com o Ministério Público Federal (PF), enquanto membro atuante da Justiça, onde atuou por 22 anos, capitaneou o maior processo da história brasileira de enfrentamento aos crimes de colarinho branco, uma área que, historicamente, sempre foi um território livre para as mazelas e as malfeitorias. Dessa gigantesca contribuição à sociedade, nasceu o convite para integrar o governo de Jair Bolsonaro, que percebeu uma forma de também fortalecer a imagem da gestão e atender a expectativa de transformação radical na forma de fazer política no Brasil. Sergio Moro era, portanto, uma das estrelas da companhia. No início, o corpo técnico do governo federal, no primeiro escalão, exibia robustez e prestígio, o que foi se esvaindo ao longo dos meses. O episódio que desaguou na saída, ontem, de Moro fala por si. É escandalosamente grave sob todos os aspectos, pois lança uma forte suspeita sobre o presidente, afinal, o discurso de despedida do ex-ministro deixa claro o desejo de Bolsonaro de interferir politicamente na Polícia Federal (PF), quebrando o conceito de independência e autonomia que, a muito custo, a corporação construiu. Trocar o cargo de diretor-geral da instituição, sem razão técnica, desagradou Moro. Mas a publicação no Diário Oficial da exoneração de Maurício Valeixo, sem o seu consentimento, com a sua rubrica, em possível situação de falsidade ideológica, foi a gota d’água para o ex-ministro. Na coletiva, Sergio Moro tocou em pontos de extrema gravidade. Disse que o presidente admitiu que estava sim fazendo uma interferência política na troca e que desejava poder falar diretamente com os subordinados sobre inquéritos e investigações, tendo inclusive acesso a relatórios. Sabe-se que há dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) que envolvem personagens do círculo íntimo do presidente, o chamado “gabinete do ódio”, liderado por pelo menos um de seus filhos, Carlos. Um desses processos trata da investigação das Fake News e seu uso político e disparo em massa para atacar opositores e criar um ambiente de apoio bolsonarista. O outro diz respeito a quem financia e arquiteta os protestos antidemocráticos, apoiados por aliados e dos quais o presidente até já participou. O rumo adotado pelo presidente é perigoso, pois abre espaço para um isolamento cada vez mais notório, perdendo interlocução com a sociedade e criando crises atrás de crises em plena pandemia. O País precisa de estabilidade.

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