CAMPINAS

Moradores reclamam de truculência da PM no Itatinga

População denuncia agressões policiais e ameaça manifestação na Rodovia Santos Dumont (SP-75)

Agência Anhanguera de Notícias
20/10/2013 às 12:15.
Atualizado em 26/04/2022 às 05:51
 Segundo a população, a PM está realizando revistas e removendo carros das ruas.  (Shana Maria Pereira/AAN)

Segundo a população, a PM está realizando revistas e removendo carros das ruas. (Shana Maria Pereira/AAN)

Moradores e comerciantes do Jardim Itatinga, em Campinas, reclamam da forma truculenta que a Polícia Militar (PM) tem agido no bairro após o assassinato do sargento Júnior Conejo do Prado, de 41 anos, baleado na noite de sexta-feira na região. Relatos dos moradores e dos comerciantes apontam violência, repressão e ameaças por parte dos policiais.A colombiana Rosário de Carmen, de 32 anos, que trabalha no bairro há cinco anos, acusa um policial de ter quebrado seus braços com um cassetete, além de lhe agredir, deixando vários hematomas pelo corpo. A agressão teria ocorrido na manhã de sábado, quando os policiais reviravam as casas em busca dos assassinos do sargento.Rosário contou que três policiais queriam entrar na boate Casa das Primas, onde ela trabalha, e pediram para que ela abrisse o portão, mas ela não tinha chave. Quando finalmente eles conseguiram entrar, um deles a acusou de não querer abrir o portão. “Ele me bateu muito, estou muito assustada, nunca tinha visto isso em minha vida”, disse. Ela casou-se com um brasileiro na Colômbia e mudou para o Brasil, onde teve um filho, hoje com 9 anos. O marido a abandonou quando o menino ainda era pequeno e ela passou a ganhar a vida fazendo programas. “Eu não faço programa porque quero ou gosto. Eu faço isso porque preciso. Eu crio meu filho sozinha”, disse.Neste domingo (20), Rosário deve passar por cirurgia nos braços. Ela está internada no Hospital Municipal Dr. Mário Gatti desde sábado. O advogado da colombiana, Everton Rodrigues da Cunha, informou que vai formalizar hoje a denúncia contra a PM ao consulado da Colômbia, ao Ministério Público do Estado e à Comissão dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa. “A situação dela é totalmente regular no País e a PM jamais poderia ter agido dessa forma”, disse Cunha.Nos fins de semana o Itatinga, que costuma ser muito movimentado, ficou deserto. As casas, boates e bares estavam fechados. Moradores e os poucos clientes que chegavam eram abordados por PMs. A reportagem presenciou a ação de pelo menos cinco viaturas da PM e uma da Guarda Municipal. Um caminhão-guincho recolhia carros com irregularidades. Bares e boates permaneciam fechados. Medo“De domingo o movimento é grande. A essas horas estaria tudo aberto e cheio de gente”, conta uma garota de programa que se identificou apenas como Tatiane, de 42 anos. “Cliente que não sabe e vem até aqui tem o caro abordado. Nós não podemos sair que a PM manda entrar.”O travesti A.S.M., de 36 anos, afirma que a situação é de cárcere privado. “Nós moramos aqui, mas não podemos sair para ir na padaria comprar pão que os policiais mandam voltar”, disse. “Algumas meninas moram na rua de cima mas comem aqui e ontem ficaram sem janta.”Um comerciante que não quis se identificar disse que alguns já pensam em invadir a Rodovia Santos Dumont (SP-75) e fechar as pistas. “Até quando vamos ter que ficar fechados? Precisamos trabalhar”, reclama. “Vamos queimar pneu, fazer alguma coisa”, disse. ENTENDA O CASO O crime aconteceu após o sargento Júnior Conejo do Prado, 41 anos, deixar o trabalho na base do Jardim santa Terezinha. Ele pilotava uma Hornet 600f, quando foi atingido nas costas. Ele morreu no local e os bandidos fugiram com sua moto. O caso foi registrado no 1º Distrito Policial como latrocínio, que é roubo seguido de morte. Foto: Tatiane Quadra /AAN A enfermeira Karen mostra o local onde estava o policial: morte no local O crime ocorreu por volta das 19h40, próximo a um pontilhão que dá acesso à pista. De acordo com testemunhas, dois homens em uma moto de grande porte chegaram por trás, balearam a vítima pelas costas e fugiram com a Hornet, sem roubar mais nada. A enfermeira socorrista Karen Falivene Lanaro, 36 anos, estava à caminho de casa quando viu o policial caído no chão, estacionou o carro e desceu para prestar socorro, acreditando ser um atropelamento. "Mas ele já estava morto. O tiro atingiu o ombro esquerdo e transfixou a aorta" , lembra. "Ele não estava fardado e apesar de estar com a arma na cintura, não chegou a sacá-la."Karen conta que Prado estava caído de bruços, ainda de capacete, com a mochila nas costas e a carteira caída para fora do bolso da calça. "Quando a PM chegou vimos pela foto do RG, na qual ele usava farda, que se tratava de um policial, já que nem com a carteira funcional ele estava. Foi quando eu o reconheci, já fiz alguns atendimentos com ele" , comenta. Ninguém soube dar mais detalhes sobre a ação. "Ouvi dizer que as câmeras do drive in filmaram a moto dos bandidos, que era maior que a dele, e a Hornet saindo em direção a rodovia" , diz. O Corpo e Bombeiros, Samu e viaturas da Polícia Militar foram até o local, assim como a Polícia Civil. Segundo com o boletim de ocorrência, o caso foi comunicado ao setor de Homicídios, mas de acordo com o delegado titular Rui Pegolo, as investigações ficarão à cargo da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Campinas. O órgão não confirmou a informação e ninguém deu mais detalhes sobre a apuração do crime. A arma que estava com o sargento, uma calibre 0.40 com dois carregadores, foi apreendida para perícia.Prado trabalhava na 3ª companhia do 47º Batalhão de Polícia Militar do Interior (BPMI), que fica no Jardim Santa Terezinha, próximo ao local, e estaria pelo menos há 18 anos na polícia. O corpo foi levado para a cidade de Aspásia (SP), onde o enterro estava previsto para ocorrer no sábado, às 20h. Ele deixa mulher e dois filhos pequenos.Comando diz que ações serão apuradasOO coronel Reinaldo Gomes, comandante do 47 Batalhão da Polícia Militar (BPM) disse que a morte do sargento Júnior Conejo do Prado causou indignação no batalhão e ressaltou que a orientação dada aos PMs é para que eles atuem na região em busca dos criminosos.“Os PMs foram orientados a atuar, mas tudo dentro da legalidade. Eles estão abordando as pessoas em busca de uma resposta para o crime. O que eles querem é encontrar os ladrões da motocicleta. Qualquer tipo de abuso por parte dos policiais será apurado”, informou.  Veja também Polícia quer imagens de câmeras de motéis para identificar atiradores de PM Júnior Conejo do Prado voltava para casa quando foi baleado nas costas por dois homens em uma moto Hornet 600F Policial Militar à paisana é vítima de latrocínio com tiro nas costas Junior Conejo do Prado morreu na noite desta sexta-feira, no bairro Itatinga, próximo à Rodovia Santos Dumont

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