mega-assalto

Moradores do Vida Nova voltam à rotina

Os moradores da Rua Sócrates, no Residencial Campina Verde, na região do bairro Vida Nova, ainda assustados, tentam retomar a rotina

Francisco Lima Neto
19/10/2019 às 11:19.
Atualizado em 30/03/2022 às 10:48

Os moradores da Rua Sócrates, no Residencial Campina Verde, na região do bairro Vida Nova, ainda assustados, tentam retomar a rotina, após os assaltantes do Aeroporto de Viracopos, em Campinas, terem feito reféns em duas casas e levado pânico e tensão para o local, que até então nunca tinha vivido algo do tipo. A equipe do Correio voltou ao local dos sequestros ontem e encontrou a rua tranquila, que em nada lembrava a agitação do dia anterior, quando intensa movimentação de viaturas, repórteres e curiosos mudou a rotina do pequeno residencial. Apenas restos de fitas de isolamento deixadas para trás em alguns pontos denunciavam o que tinha acontecido. Na frente da primeira casa tomada pelos assaltantes, o pedreiro Klaucenir Sanches, de 52 anos, preparava massa e cimentava o quintal da casa do irmão em um dia normal de trabalho. “A vida segue né. A gente tem que continuar trabalhando”, declarou tranquilamente. No entanto, no dia anterior a história foi bem diferente. Ele contou que os assaltantes chegaram, bateram no canto da caçamba, saíram com as armas em punho e levaram todo mundo para dentro. “Um mandou eu fechar a porta, mas eu vi que a polícia chegou. Eu abri a porta, saí e outros dois serralheiros correram para fora e ficou um lá dentro com eles”, detalhou. Naquela hora o medo tomou conta. “Passou muita coisa na cabeça da gente. Pensei que eu ia morrer, que não ia ver filho. Nunca passei por isso. Só tinha visto na televisão só”, revelou o pedreiro. O dono da casa onde dois assaltantes foram mortos, o metalúrgico Kleverson Sanches, 39, disse que a família está tentando superar. “Estamos tentando superar. Minha mulher não quer passar a noite aqui. Foi um susto tremendo. Quando ligaram para gente e contaram do tiroteio, refém, a gente entrou em pânico. Isso aqui foi extraordinário. Foi uma ação que o País inteiro está sabendo. Muita gente ligando pra saber o que ‘tava acontecendo”, falou. Segundo ele, o bairro é muito calmo e nunca acontece nada. “Ontem (anteontem) ficou todo mundo assustado, mas, hoje aparentemente normal, vida que segue. Infelizmente, a casa foi uma oportunidade de fuga. Eles acharam tudo aberto e entraram. ‘Tava sem portão. Aconteceu, extraordinário”, avaliou. Terror Os corpos dos dois assaltantes foram retirados da casa entre 18h30 e 19h. Depois disso, a casa foi liberada. “A policial me chamou e me preparou. Ela falou ‘se prepara para ver uma cena de terror’. Sendo bem sincero, a hora que eu entrei eu esperava estar pior. Não tinha nada quebrado graças a Deus. A minha preocupação era a casa estar destruída”, explicou. A única avaria foi um vidro quebrado no quarto de um dos filhos. “Tinha muito sangue. Sangue pela casa toda, eles já entraram feridos. Até aqui na sala, na cadeira, no sofá tinha sangue. Os corpos estavam um em cada quarto e aquelas poças de sangue”, relatou. Um amigo que trabalha com ele conseguiu resolver todo o problema e deixou a casa livre do sangue. Os assaltantes fizeram quatro reféns na residência. Três serralheiros, e o pedreiro, irmão de Sanches. Um outro serralheiro foi levado no caminhão da serralheria. Ele foi encontrado sem ferimentos. “Agora, a gente não sabe da moça, a gente tá preocupado com ela. A gente ainda não tem notícia de qual a situação real dela. A gente sabe que ela ‘tá no hospital, foi atingida”, falou. Na casa da mulher, de 37 anos, que foi feita refém junto com a filha de 10 meses de idade, e onde o seqüestrador foi abatido por um sniper — atirador de elite — ninguém atendeu a reportagem. A vítima foi atingida na região lombar e segue internada na UTI, em situação delicada. Silêncio A reportagem não encontrou outras pessoas na rua. As casas estavam fechadas e poucas pessoas saíram para atender a reportagem. Uma vizinha das casas que foram alvos dos assaltantes, Sonia Capelan, 61, mora naquela rua há nove anos e garante que lá é tranquilo. “’Tá todo mundo meio amedrontado, mas ‘tá normal porque o bairro sempre foi assim sossegado, graças a Deus. Nunca teve nada. Sempre foi assim, sossegadinho do jeito que você ‘tá vendo. Eu espero que volte a ser normal, que continue. Acho que ontem (anteontem) foi uma exceção”, afirmou. Ela estava dormindo quando a movimentação começou. “Quando acordei, escutei polícia, escutei tiros. Fiquei assustada. Nunca passei por isso. Eu imaginei que tivesse algum bandido fugindo e uma perseguição. E os policiais estavam querendo entrar no quintal pra ver, pensei que eles ‘tavam no quintal. Fiquei com medo”, admitiu. O mesmo medo foi sentido pela dona de casa Elaine Pereira, de 46 anos, da outra ponta da rua. “Muitos tiros, muitos tiros mesmo. Foram muitos. Pensei que fosse um assalto. Foi um tumulto, carros passando muito rápido. Na hora do tiroteio, eu fechei tudo e entrei”, contou. Ela obedeceu a orientação para ficar dentro de casa. “A gente já ‘tava sabendo do roubo no aeroporto. Já imaginei que provavelmente o pessoal ‘tava por aqui. Agora a gente ‘tá bem assustado. É complicado. A gente não esperava. É um bairro tão bom, tão tranqüilo”, concluiu.

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