CAMPINAS

Moradores de rua usam cadeados em escritórios abandonados

Com 10 mortes nos últimos três meses, sendo que seis desses óbitos na região da rodoviária, muitos passaram a dormir em grandes grupos naquelas imediações

Gustavo Abdel
gustavo.abdel@rac.com.br
28/06/2015 às 05:00.
Atualizado em 28/04/2022 às 15:55

Cadeados foram colocados em quatro dos escritórios pelos moradores de rua que se abrigam no espaço ( César Rodrigues/ AAN)

Para se protegerem da violência e do frio, algumas pessoas em situação de rua encontraram nos escritórios abandonados do antigo complexo ferroviário, no bairro Botafogo, amplos espaços para montarem suas moradias e viverem debaixo de um teto, mesmo que em meio a muita sujeira. Quatro das sete salas que ficam bem em frente à entrada e saída dos ônibus do Terminal Rodoviário Ramos de Azevedo e do terminal metropolitano estão trancadas com cadeados, colocados pelos próprios moradores.Com 10 mortes de moradores de rua nos últimos três meses, sendo que seis desses óbitos na região da rodoviária, muitas pessoas que vivem nessas condições passaram a dormir em grandes grupos naquelas imediações. Somente na região da rodoviária, é possível observar diversas “malocas” (agrupamentos de pessoas em uma determinada região). Na entrada do Terminal Metropolitano Prefeito Magalhães Teixeira dormem ao menos oito moradores de rua. Em frente ao Samim (Serviço de Atendimento ao Migrante, Itinerante e Mendicante), mais de 15 moradores passam a noite na calçada.Mesas, cadeiras, varal com peças de roupa e restos de alimentos são encontrados em duas salas trancadas. Nas demais com cadeados, colchões e mochilas dividem espaço com montanhas de roupas. A reportagem observou há uma semana a movimentação de pessoas em situação de rua no local. Na quinta-feira viu um morador entrando em uma das salas e logo saiu, com uma coberta enrolada ao corpo. Na sexta-feira, porém, o local estava novamente vazio e com os cadeados nas portas.De acordo com usuários do transporte público que aguardam diariamente os ônibus na plataforma do terminal metropolitano, é comum ver os moradores entrando nos “quartos”. “Outro dia vi um senhor entrando com um cachorro. Sempre que espero o ônibus vejo a movimentação, mas dá medo por que tem muito drogado no meio”, disse a atendente Regiane Castro de Sousa, de 21 anos.No restante dos salões, abandonados há aproximadamente 15 anos, os usuários de crack transformaram os espaços em lixões. Ratos são vistos com frequência atravessando a rua e chegando até o terminal metropolitano. A calçada onde ficam as salas é usada por milhares de usuários do transporte, que usam a via para se locomover até o Centro.A Guarda Municipal informou através da assessoria que tem feito ronda constantemente naquela região. De acordo com a Secretaria de Cidadania, Assistência e Inclusão Social, a Operação Inverno ocorre todos os anos, de 1° de maio até 30 de setembro, com o objetivo de acolher as pessoas em situação de rua e suprir as necessidades imediatas ao facilitar o acesso emergencial aos bens e serviços da rede pública municipal. O Serviço de Orientação Social (SOS) Rua, que normalmente atua das 8h às 22 horas, durante esta operação, amplia o horário de abordagem até às 24h, de segunda a sexta-feira, com plantões aos fins de semana e feriados das 18h às 24 horas.O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) informou que recebeu o complexo ferroviário de Campinas no final do ano de 2013. No mesmo ano o Dnit assinou um termo de cessão de uso com a Empresa Municipal de Desenvolvimento do Município de Campinas (Emdec), que tinha como objetivo de atender às necessidades imediatas da empresa municipal e demais órgãos da Prefeitura, bem como dar guarda e preservar os galpões e espaços. “A definição final de destinação da área ainda depende do projeto do trem de alta velocidade, que tem o complexo de Campinas como possível estação e pátio de operação. Existe, também, um projeto da Prefeitura de Campinas para transformar a área em espaço cultural e parque, onde irão fazer a preservação de todos os galpões”, informou o departamento nacional.

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