População desconfia que menino de 9 anos faz os arremessos de janela de prédio
Moradores do bairro São Bernardo, em Campinas, estão convivendo com uma situação um tanto quanto inusitada. Uma chuva de bolinhas de gude tem atingido um quarteirão inteiro do bairro. O evento curioso intriga e irrita os moradores. De acordo com eles, um menino de 9 anos, morador em um prédio distante cerca de 200 metros das casas atingidas, seria o autor dos disparos. Ele utilizaria um estilingue ou uma arma de Paintball para lançar as bolinhas.
A brincadeira tem causado prejuízos aos moradores e donos de comércios da região. Vidros e telhas quebradas, carros amassados e relatos de bolinhas atingindo pessoas são frequentes. Dois boletins de ocorrência (BOs) já foram registrados no 2o. Distrito Policial (DP), que investiga o caso. Agora, os moradores querem promover um abaixo-assinado para processar o condomínio e até tentar a expulsão da família do garoto do prédio.
A chuva de bolinhas começou há cerca de três meses e, segundo Caroline Zanotto Escobar, de 29 anos, que trabalha na lanchonete de sua mãe, na Rua Paulo Lacerda, os objetos arremessados causam transtornos aos clientes. “Já quebrou vidro de carro, já acertou criança. Esses dias tinha um homem comendo um pastel e foi atingido por uma bolinha”, disse.
Quando a brincadeira de mau gosto começou, a família de Caroline, que mora na rua de trás, acreditou se tratar de uma situação pessoal. “Antes era só de madrugada, mas agora é toda hora”, contou a operadora de caixa.
Ela mostrou a sacada do apartamento, localizado a cerca de 200 metros do estabelecimento. É de lá que o menino estaria arremessando as bolas. “A gente já viu de onde vem as bolinhas, mas quando tem uma movimentação aqui na rua, que a gente fica olhando para lá, eles param”, disse.
Na tarde de ontem, minutos antes da reportagem chegar ao local, os moradores afirmaram que uma chuva de bolinhas tinha acabado de acontecer. Durante todo o período em que a equipe do Correio permaneceu na região, nenhuma bolinha foi arremessada.
Caroline foi uma das moradoras que registrou boletim de ocorrência após ter o vidro de seu carro quebrado. “Gastei mais de R$ 500,00 pra trocar o vidro. Na minha casa tem vidro quebrado, é um absurdo”, protestou.
Ela afirmou que o garoto de apenas 9 anos estaria recebendo a ajuda de um adulto, que ela não sabe se é pai ou tio do menor.
Outros moradores que convivem com a situação inusitada mostraram o tamanho do problema. “Olha quanta bolinha. Sem contar as que estão em cima do meu telhado. Não tem como dormir. É um horror”, disse a auxiliar de cozinha Heloísa Mitiko Xilaiama, de 54 anos, que mostrou uma pequena bacia com dezenas de bolinhas recolhidas em seu quintal. “Moro há 40 anos aqui e nunca vi nada parecido.”
O aposentado Paulo Raboni, de 69 anos, que trabalha em uma empresa de vistoria de carros na Rua Paulo Lacerda, também coleciona bolinhas que atingiram seu estabelecimento. “Eu acho isso uma falta de educação. Porque parece que é uma criança que está fazendo isso, mas o pai tem que fazer alguma coisa. Se é filho meu fazendo isso já ia levar castigo”.
Ele também teve o carro atingido por uma bolinha e mostrou a lataria amassada. “Se acerta a cabeça de alguém vai machucar. E se pega no olho, então, pode cegar uma pessoa”, alertou.
Prejuízos
“Cai de monte”, disse a aposentada Doralice Aparecida Evaristo, de 73 anos, que mostrou os vidros quebrados em uma janela da casa, atingidos pelas bolas. “É todo dia catando bolinha”, contou. Na garagem da casa, um pedaço de tecido foi estendido sobre o carro para proteger o veículo da chuva de gude.
Em uma oficina mecânica na Avenida das Amoreiras o prejuízo está no teto. As bolinhas fizeram várias perfurações nas telhas de amianto, que precisaram ser consertadas. O empresário Fábio Beline, de 28 anos, contou que por pouco não teve um prejuízo de R$ 4 mil. Isso porque, em um domingo, uma das bolinhas perfurou uma telha que fica bem acima de um equipamento de alinhamento. Naquele dia choveu e a água escorreu para a parte elétrica. “Quase queimou o equipamento. Só vimos que estava molhado na segunda-feira.”
Beline contou que há duas semanas registrou boletim de ocorrência e acionou a Polícia Militar. O pai e o avô da criança que estaria causando o problema foram chamados, mas eles teriam negado.
Depois da queixa, o empresário relatou que os ataques aumentaram. “Por enquanto são danos materiais, mas e se machuca alguém?”, indagou. Para Beline, pela distância entre os prédios e as casas atingidas, as bolinhas são arremessadas através de um estilingue profissional ou uma arma de pressão, utilizada na prática de Paintball. “A gente só quer trabalhar em paz”, pediu.
Se a chuva de bolinhas persistir, os moradores pretendem promover um abaixo-assinado e processar o condomínio, além de pedir a expulsão dos moradores do prédio. “Não queremos causar problemas à família dessa criança, mas é uma questão de conscientização”, disse Fábio.
De acordo com a Polícia Civil, o caso está sendo investigado pelo 2o. DP, que deverá ouvir moradores e o síndico do condomínio. A reportagem esteve no prédio, mas o síndico não foi encontrado para comentar o caso.