ARCAICO

Modelo de gestão do lixo de Campinas é criticado

Modelo vai deixar um passivo ambiental que levará cerca de 50 anos para ser remediado

Maria Teresa Costa
03/04/2013 às 13:26.
Atualizado em 25/04/2022 às 22:04
Funcionários do Aterro Delta A orientam caminhões carregados de lixo que chegam para despejo de detritos: mil toneladas por dia (Leandro Ferreira/ AAN )

Funcionários do Aterro Delta A orientam caminhões carregados de lixo que chegam para despejo de detritos: mil toneladas por dia (Leandro Ferreira/ AAN )

O modelo de gestão do lixo produzido em Campinas tem de acabar porque, além de arcaico, vai deixar um passivo ambiental que levará cerca de 50 anos para ser remediado, disse o empresário e ambientalista José Furtado, que integra a Comissão de Controle de Poluição e Gestão dos Resíduos do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comdema).

Segundo ele, mesmo que a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) autorize a Prefeitura a aumentar em dez metros a altura do lixo, e com isso ganhe mais um ano de operação do Aterro Delta A, dificilmente em menos de um ano e meio teria condições de pôr outro sistema em operação. Para ele, o aterro tem que acabar o quanto antes.

A licença de operação do aterro vence em 30 de abril e a Prefeitura está tentando autorização para aumentar em dez metros a altura do maciço de resíduos para poder operar por mais um ano. Se a autorização não sair, o lixo será encaminhado para outra cidade. Campinas recolhe mil toneladas de lixo por dia.

“Estamos diante de uma situação crítica, cuja solução vem sendo postergada nos últimos anos e que fatalmente vai levar a Prefeitura a buscar uma solução externa até que consiga mudar o modelo de gestão e implantar um sistema de resíduos sólidos com sustentabilidade”, disse Furtado.

Isso significa ter um modelo em que o aterro não deixa de existir, mas que para ele só sejam encaminhados os materiais que não são passíveis de reciclagem como produtos de higiene íntima, fraldas, espelhos, fitas adesivas, além de fezes de animais entre outros.

Esses materiais representam de 10% a 15% do lixo total que vai para o aterro. Se apenas eles forem aterrados, ocuparão menos espaço e ampliarão em dez vezes a vida útil do aterro. “Poderemos ter um local que receba o lixo por 80 anos”, afirmou.

Da forma como está, disse, além de criar um passivo ambiental, a cidade está deixando de aproveitar a matéria-prima do lixo na reciclagem, na produção de energia.

“Mas estamos com a perspectiva de ter que cuidar desse aterro pelos próximos 30 a 50 anos”, afirmou.

A alternativa que a Prefeitura vinha trabalhando era usar uma área ao lado do Delta para um novo aterro, dentro de conceitos ambientais. Mas, além de não ter conseguido ainda a licença ambiental, também não é dona da terra.

Atualmente a Prefeitura prepara uma licitação para um contrato de um ano para coleta e deposição do lixo para poder estruturar uma parceria público-privada para toda a cadeia do lixo.

Reciclagem

A bióloga Maria de Fátima, da Pró-Ambiente Assessoria Ambiental, disse que a Prefeitura tem que partir rapidamente para outro modelo de gestão, onde o aterro sanitário é usado apenas em último caso, para receber o que não pode ser reciclado. Mas a cidade precisa, segundo ela, ter uma política de reciclagem, o que em Campinas é pífia — atinge apenas 2% dos resíduos.

“O entulho da construção civil tem que ser beneficiado e hoje a usina de Campinas trabalha de forma precária. O material orgânico tem que ir para compostagem ou ser queimado para gerar energia. Aterro só em último caso, para evitar o que ocorre hoje. A cidade tem um volume imenso de lixo e não tem outro local para levar.”

Não é o local, mas o modelo de gestão que tem que ser repensado porque, disse, o atual está falido.

Para o presidente do Comdema, Rafael Moya, o Delta foi construído fora das especificações e o prolongamento da vida útil vai aumentar os danos ambientais.

“O Comdema insiste em um plano municipal de resíduos sólidos e estamos vendo que a Prefeitura, de novo, vai fazer uma licitação sem que o plano exista”, afirmou.

Para ele, a forma como o lixo da cidade é tratado é do passado e, embora o aterro de Campinas ainda tenha uma operação razoável, já está na hora de reduzir o volume de lixo que é levado para o sistema. “Isso se faz mudando a gestão, investindo em reciclagem, em produção de energia, em compostagem ou estaremos, brevemente, com um dos maiores passivos do Estado”, afirmou.

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