autismo

Mitos ajudam a alimentar preconceito

Muitas pessoas ainda acreditam que o autismo representa uma espécie de condenação sem volta e que o diagnóstico significa uma vida sem oportunidades

Das agências
07/04/2019 às 13:36.
Atualizado em 04/04/2022 às 10:41

Muitas pessoas ainda acreditam que o autismo representa uma espécie de condenação sem volta e que o diagnóstico significa uma vida sem oportunidades — e é exatamente esse tipo de desinformação e mito que alimenta o preconceito. A avaliação é do pediatra e neurologista infantil, Clay Brites. Para o especialista, o Dia Mundial da Conscientização sobre o Autismo, lembrado na última terça-feira, ajuda a sociedade a refletir melhor acerca dos avanços e, principalmente, do que ainda precisa melhorar para dar suporte amplo e transdisciplinar e esse grupo de pessoas e suas famílias. A data é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS). “Muitos casos são severos e passam essa impressão mesmo, mas a maioria, não. Ainda vemos muitos casos graves, inclusive, porque estamos assistindo a uma geração passada, em que o diagnóstico foi tardio. Espero que, com as informações recentes, a nova geração tenha outra evolução, bem mais satisfatória, e derrube muitos mitos.” Brites lembrou que o transtorno atinge 1% das crianças no mundo e leva a prejuízos na percepção e na capacidade de interação social adequada. Isso faz com que a criança com autismo perca boa parte da capacidade de interagir socialmente de forma construtiva, coerente, com reciprocidade, atenção concentrada e compartilhada. O autismo, segundo o pediatra, também pode levar a comportamentos repetitivos e interesses excessivamente restritos a determinados objetos, contextos e até pessoas. A criança diagnosticada geralmente não apresenta bom contato visual, não olha nos olhos e tem dificuldade para perceber mudanças de comportamento de grupos e de ambientes. “Essas crianças costumam ter reações corporais anormais frente a situações emocionais ou induzidas pelo grupo como, por exemplo, movimentos de mãos repetitivos. Elas têm muita dificuldade em conversar, só falam aquilo que lhes interessa — qualquer coisa induzida por terceiros ela simplesmente ignora, não dá continuidade.” “Elas têm uma hiper preferência por objetos, têm distúrbios de sensibilidade, costumam ter medos inexplicáveis ou desproporcionais ao que está acontecendo”, acrescentou. Os sintomas começam a aparecer nos primeiros três anos de vida e o ideal é que o diagnóstico seja feito o quanto antes, abrindo caminho para modelos de intervenção comportamentais ou desenvolvimentais — de preferência, abordagens que tenham fundamentação cientifica e um grande número de pesquisa com amostragem populacional significativa. “A importância está em ajudá-los a adquirir competências suficientes e a tempo de poderem ser mais funcionais e socialmente melhores adaptados nos anos mais difíceis que se seguirão, ao adentrarem na escola ou no trabalho. Nesse processo, a intervenção precoce e a oportunidade de oferecer os melhores modelos auxilia na preservação ou até no ganho de capacidade intelectual e de linguagem social verbal e não verbal.” PROFISSIONAIS ENUMERAM DEZ SINAIS QUE PODEM INDICAR O TRANSTORNO Para auxiliar pais, professores ou outros responsáveis por crianças, profissionais da Apae São Paulo, organização que atua no tratamento de deficiências intelectuais, enumeraram dez sinais de alerta que podem indicar transtorno do espectro autista. É importante salientar que apenas uma das características não é sinônimo de autismo, mas um conjunto de comportamentos é que identifica o transtorno. O material foi preparado pelos psicólogos e neuropsicólogos André Luiz de Sousa, Cindy Mourão, Regina Viana Nojoza e Luciana Mello Di Benedetto, do Ambulatório de Diagnóstico da instituição Veja abaixo os sinais de alerta: 1 - Pouco contato visual: a criança não olha quando é chamada pelo nome ou não sustenta o olhar. 2 - Não interagir com outras pessoas: essa é uma das principais características do autismo. Sorrisos e conversas são de pouco interesse de pessoas com essa condição. 3 - Bebês que não fazem jogo de imitação: os bebês começam a imitar atitudes e comportamentos por volta dos seis a oito meses de vida. Portanto, deve-se ficar atento quanto à ausência desse comportamento. 4 - Não atender quando chamado pelo nome: a criança pode parecer desatenta, sem demonstrar interesse pelo que se passa ao redor. 5 - Dificuldade em atenção compartilhada: não demonstra interesse em brincadeiras coletivas e parece não entender as brincadeiras. 6 - Atraso na fala: criança acima de dois anos que não fala palavras ou frases deve receber maior atenção. 7 - Não usar a comunicação não verbal: a criança, geralmente, não usa as mãos para indicar algo que quer. 8 - Comportamentos sensoriais incomuns: se incomoda com barulhos altos, por vezes colocando as mãos nos ouvidos, não gosta do toque e pode se irritar com abraços e carinho. 9 - Não brincar de 'faz de conta': a criança não costuma criar suas próprias histórias, não participa das brincadeiras dos colegas. Suas brincadeiras costumam ser solitárias e com partes de brinquedos, como a roda de um carrinho ou algum botão. 10 - Movimentos estereotipados: apresenta movimentos incomuns, como chacoalhar as mãos, balançar-se para frente e para trás, correr de um lado para outro, pular ou girar sem motivos aparentes. Os movimentos podem se intensificar em momentos de felicidade, tristeza ou ansiedade.

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