Luciana Santos afirma que R$ 450 milhões podem ser liberados rapidamente
A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, visita o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais em Campinas, onde conheceu as quatro linhas de luz do Sirius, fonte de luz síncrotron brasileira (: Rodrigo Zanotto)
A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, se comprometeu na quinta-feira (30) a abrir negociações para liberar verbas que somam R$ 720 milhões para o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), único complexo de pesquisa do gênero no país, instalado em Campinas. De acordo com ela, desse montante, R$ 450 milhões podem ser negociados imediatamente com o uso de recursos oriundos do orçamento do próprio Ministério (verbas discricionárias). Os outros R$ 270 milhões dependem da aprovação de Projeto de Lei Complementar enviado na quarta-feira (29) pelo governo federal ao Congresso Nacional, que prevê o descontingenciamento de R$ 9,6 bilhões para recompor o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).
De acordo com o diretorgeral do CNPEM, Antonio José Roque, a maior fatia do montante faz parte de contrato celebrado entre o centro e o MCTI e deveria ter sido liberada no ano passado, mas não foi paga por conta do contingenciamento (bloqueio de verba) determinada pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL) para o setor de ciência e tecnologia. "Isso foi desastroso, não só para o CNPEM, mas para a ciência em todo o país", disse. Os recursos, explicou, seriam destinados para o início das obras de um quinto laboratório, o de biossegurança máxima, e continuidade de outros projetos do centro nacional. A ministra visitou na quinta-feira o complexo para conhecer os trabalhos desenvolvidos.
O CNPEM é uma organização privada sem fins lucrativos, sob a supervisão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, e reúne atualmente quatro laboratórios nacionais, o de Nanotecnologia (LNNano), Biorrenováveis (LNBR), Biociências (LNBio) e o de Luz Síncrotron (LNLS), que desenvolvem pesquisas em diversas áreas, incluindo saúde, novos materiais, energia e outras. O LNLS é considerado o mais avançado do mundo em seu segmento e é um dos três de quarta geração existentes - os outros estão instalados na Europa (Suécia e França).
Defesa dos recursos
"Nós estamos diante de um desenvolvimento de pesquisa e de busca de conhecimento único no mundo, principalmente nos projetos que estão em perspectiva. (…) Será uma junção extraordinária para que a gente entenda a física dos materiais em escala atômica e, com isso, trazer soluções diversas numa gama, num espectro gigante para a vida cotidiana da população, da agricultura, passando pela saúde, pela transição energética", destacou Luciana. A ministra criticou ainda o contingenciamento de verbas para C&T feita até 2026. "O negacionismo não só se traduziu na narrativa, mas em uma atitude concreta, que foi a redução drástica dos recursos que financiam a ciência e tecnologia no Brasil", disse.
Segundo Luciana, a PLN, além de recompor plenamente o FNDCT, ampliará os recursos previstos, que deverão passar de cerca de R$ 4 bilhões para R$ 9,6 bilhões. "Com isso, nós vamos poder dar continuidade ao nosso CNPEM, que é a joia da coroa, um centro que é tão estratégico. Com isso, vamos poder ajudar os projetos que estão em curso nesse centro de excelência", afirmou.
O complexo científico, instalado no bairro Guará, no distrito de Barão Geraldo, é responsável por diversas pesquisas inéditas no Brasil. Em 2021, por exemplo, os cientistas revelaram, pela primeira vez na América Latina, a estrutura completa do vírus mayaro, que é endêmico na Região Amazônica e causa uma doença que provoca dores musculares, dores e inchaço das articulações, febre, tontura e sensibilidade à luz, além de outros sintomas, que podem persistir por meses.
O resultado da pesquisa multidisciplinar está sendo usado no desenvolvimento de novos métodos de diagnósticos e medicamentos. O trabalho foi feito usando a criomicroscopia eletrônica, o que permitiu revelar detalhes da estrutura molecular do vírus, que é aproximadamente100 mil vezes menor que a espessura de um fio de cabelo. A febre de mayaro é transmitida para seres humanos por meio da picada de mosquitos da família Haemagogus que estejam contaminados com o vírus.
Além de visitar as estações experimentais em operação, onde atuam pesquisadores de todo Brasil e do exterior, a ministra também conheceu as quatro linhas de luz do Sirius, fonte de luz síncrotron brasileira, que estão em fase de testes e comissionamento científico e devem ser disponibilizadas em breve para a comunidade científica. Luciana viu ainda a apresentação do projeto do complexo de virologia e microbiologia, que permitirá o estudo de vírus altamente contagiosos.
Ele será integrado ao Sirius, algo inédito no mundo, e permitirá explorar interações de patógenos com células hospedeiras, possibilitando avanços no entendimento do desenvolvimento de doenças causadas por organismos contagiosos, abrindo caminhos para pesquisas de curas ou tratamentos. O CNPEM apresentou ainda o planejamento de ações para biomanufatura de fármacos, insumos farmacêuticos ativos e terapias avançadas, plataformas de biotecnologia industrial e estrutura para a fabricação de dispositivos para tecnologias quânticas, fotônica e semicondutores.
Unicamp
A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação também visitou o Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti - Caism, que na quartafeira (29) inaugurou o Centro de Treinamento e Simulação Realística em Atenção à Saúde da Mulher e do RecémNascido. A nova unidade permite o treinamento para formação de médicos e profissionais da área da saúde. Com uma área de 514 metros quadrados, ele conta com equipamentos de cirurgia e laparoscopia operados por robôs, modelos humanos que reproduzem o processo de parto e softwares que monitoram o desempenho dos estudantes durante os procedimentos.
Os investimentos no centro somam cerca de R$ 10 milhões, valor obtido por meio de emendas parlamentares propostas por deputados federais e estaduais. O Caism faz parte da área da saúde da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Esse será o centro mais bem equipado do tipo no país para a formação de profissionais da área de neonatologia antes de os alunos terem contato direto com os pacientes", explicou o superintendente do Hospital da Mulher, Luís Otávio Sarian.
Na simulação do parto, por exemplo, os modelos - mãe e bebê - podem apresentar diferentes tipos de condições e sintomas, demandando cuidados específicos. "Isso traz qualidade e segurança para a formação. Os estudantes podem ter contato com diferentes situações clínicas dos pacientes, o que aumenta as oportunidades de aprendizado", acrescentou Sarian. O centro de treinamento conta com equipamentos de realidade virtual e internet de alta velocidade, o que possibilita que os treinamentos e procedimentos sejam acompanhados e que profissionais de qualquer parte do mundo possam intervir em tempo real.
Atualmente, cerca de 1,6 mil estudantes da Unicamp já se beneficiam das instalações do Caism para sua formação. Com a nova unidade, a tendência é que mais profissionais passem pelo local. Além do Centro de Treinamento, foram inauguradas as novas instalações do Departamento de Tocoginecologia (DTG) da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e apresentadas novas etapas concluídas da reforma da área de neonatologia do Caism. Essas unidades receberam investimentos de R$ 30 milhões, também oriundos de fontes extraorçamentárias.