PERIGO SOBRE DUAS RODAS

Metade dos óbitos no trânsito envolve acidentes com motos

Hospital da Unicamp atende diariamente entre 5 e 10 motociclistas acidentados

Luis Eduardo de Sousa/ [email protected]
26/07/2023 às 09:35.
Atualizado em 26/07/2023 às 09:35
Dentre as vítimas de acidentes de trânsito envolvendo motocicletas em Campinas, 88% são do sexo masculino, sendo que 56% acabam perdendo suas vidas no local dos acidentes, enquanto 40% falecem no hospital (Kamá Ribeiro)

Dentre as vítimas de acidentes de trânsito envolvendo motocicletas em Campinas, 88% são do sexo masculino, sendo que 56% acabam perdendo suas vidas no local dos acidentes, enquanto 40% falecem no hospital (Kamá Ribeiro)

Apenas 16% da frota de veículos licenciados em 2022 em Campinas corresponde a motocicletas. No entanto, é alarmante constatar que 47% dos óbitos registrados no trânsito ocorrem em acidentes envolvendo o transporte sobre duas rodas, conforme revelado por uma pesquisa divulgada pela Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) em razão do Dia do Motociclista, comemorado na quinta-feira (27).

Os dados do estudo, que terá mais detalhes apresentados na quinta-feira, mostram que 45% dos acidentados são jovens, geralmente com menor experiência no trânsito. De acordo com o setor de traumatologia do Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), diariamente entre 5 e 10 motociclistas são atendidos na unidade hospitalar como vítimas dos acidentes.

No último sábado, um trágico acidente chamou a atenção: um rolezinho de moto com pelo menos 200 veículos terminou em tragédia na Rodovia Santos Dumont (SP-075). Nesse acidente, três pessoas perderam a vida e ao menos 30 ficaram feridas.

Visando reduzir cada vez mais a ocorrência de acidentes, a Emdec tem realizado ações de conscientização junto aos motociclistas, como a entrega de antenas corta-pipa e orientação nos semáforos.

De acordo com o Departamento Estadual de Trânsito (Detran), a frota de motocicletas na metrópole cresceu em 16,6% entre 2015 e 2023. No primeiro ano, eram registradas 98 mil motos, contra 117,5 mil no segundo ano. Além disso, o Detran informa que, dos 245.120 veículos licenciados em 2022 na cidade, 38.402 eram motocicletas, enquanto 194,5 mil eram automóveis, 7,6 mil eram caminhões e 4,5 mil eram utilitários.

O chefe da traumatologia do Hospital das Clínicas (HC), Dr. Gustavo Fraga, destaca que a instituição recebe uma média diária de 5 a 10 acidentados, com números que tendem a ser mais elevados nas sextas e sábados à noite. Ele ressalta que a maior parte desses acidentes poderia ser evitada.

"Apesar de parecer pouco, ter uma média de 10 acidentes por dia apenas no HC, que é um hospital afastado da região central, é significativo. Felizmente, se é possível dizer assim, a menor parte dos casos requer internação e geralmente envolve ralados, fraturas nas extremidades (braços e pernas) e trauma craniano", enfatiza o médico.

O Dr. Gustavo Fraga acrescenta que, quando há lesões hemorrágicas e impactos severos no crânio, as vítimas geralmente têm desfechos fatais.

Os dados do Painel Infosiga, que acompanha os registros de acidentes em todo o Estado, revelam que Campinas já registrou 30 mortes relacionadas a acidentes com motocicletas este ano. Em todo o ano passado, foram 68 mortes, enquanto em 2021 foram 65 e em 2020 foram 48.

Neste ano, dentre as vítimas, 88% são do sexo masculino, e 56% acabam perdendo suas vidas no local dos acidentes, enquanto 40% falecem no hospital.

O chefe da traumatologia, Dr. Gustavo Fraga, compara andar de motocicleta a brincar de roleta russa em termos de segurança. Ele ressalta que muitas pessoas são atraídas pela adrenalina e pela sensação de liberdade proporcionada pelas motos, mas frequentemente se esquecem dos inúmeros riscos envolvidos. Fraga enfatiza a importância de conscientizar os jovens sobre esses perigos e solicita ações por parte da Emdec e da imprensa para esse fim.

O motofretista Carlos Barbosa Sobrinho, de 56 anos, tem 15 anos de experiência sobre duas rodas e desde 2017 já sofreu seis acidentes (Alessandro Torres)

O motofretista Carlos Barbosa Sobrinho, de 56 anos, tem 15 anos de experiência sobre duas rodas e desde 2017 já sofreu seis acidentes (Alessandro Torres)

Carlos Barbosa Sobrinho, motofretista de 56 anos, com 15 anos de experiência na metrópole, sofreu seis acidentes desde 2017. Ele atribui essas adversidades a uma piora na formação dos motoristas mais jovens, incluindo os motociclistas, resultando em acidentes evitáveis. "O trânsito está ficando mais caótico e difícil a cada dia. Na mesma direção, sinto que os motoristas estão cada vez menos preparados, desrespeitando sinalizações básicas, como a seta, ou sem noções básicas de trânsito mesmo. Logo, a situação tende a ficar cada vez pior", comenta.

No último acidente em Campinas, o motoboy colidiu com um veículo que parou repentinamente na Rodovia Anhanguera (SP-330). Devido aos acidentes frequentes, Barbosa, que é um profissional autônomo, acumulou quase dois anos fora das ruas, o que resultou em perda de renda.

MUDANÇAS

Na quinta-feira, a Emdec realizará abordagens educativas em áreas de espera de motos, nos cruzamentos de diferentes pontos da cidade, com o objetivo de conscientizar os motociclistas sobre os perigos envolvendo o transporte sobre duas rodas.

Durante a ação, a equipe de educação da Emdec distribuirá folhetos informativos e fornecerá orientações aos condutores de motos sobre fatores de risco, como o excesso de velocidade e a combinação de álcool com a direção. Além disso, serão enfatizados o uso correto do capacete e o respeito à sinalização de trânsito.

Nas últimas duas semanas, a responsável pelo trânsito também distribuiu antenas corta-pipa e folhetos informativos para os motociclistas, totalizando a entrega de 650 antenas.

Campinas tem implementado áreas de espera nos semáforos para os motociclistas, totalizando mais de 42 áreas em diferentes pontos da cidade, especialmente onde há maior fluxo de veículos. Essa medida visa isolar os motociclistas dos demais veículos, evitando colisões na abertura do semáforo, já que as motos costumam sair com maior agilidade quando a sinalização fica verde.

ROLEZINHO

O "rolê" que resultou em três mortes e deixou mais de 30 feridos no sábado ainda tem consequências. Na terça-feira (25), o Correio Popular apurou que pelo menos 16 jovens estão internados no Hospital Ouro Verde, com estado de saúde moderado. Além disso, o Hospital das Clínicas da Unicamp continua atendendo uma jovem em estado grave. 

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