LEVANTAMENTO DA SERASA

Metade dos brasileiros está mais otimista com as finanças pessoais

Pesquisa nacional, que também ouviu moradores da região de Campinas, indica que 47% estão mais seguros no controle dos recursos

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
24/09/2023 às 10:46.
Atualizado em 24/09/2023 às 10:46
Carreta do projeto Serasa na Estrada ficou durante dez dias do mês de setembro em Campinas; população recebeu R$ 26,2 milhões em descontos nos 6,7 mil acordos de negociações de dívidas, o que é um exemplo da disposição das pessoas em quitar as suas pendências financeiras (Alessandro Torres)

Carreta do projeto Serasa na Estrada ficou durante dez dias do mês de setembro em Campinas; população recebeu R$ 26,2 milhões em descontos nos 6,7 mil acordos de negociações de dívidas, o que é um exemplo da disposição das pessoas em quitar as suas pendências financeiras (Alessandro Torres)

Um em cada dois consumidores está mais otimista com as finanças e pouco mais de dois em cada cinco estão mais seguros em relação ao próprio dinheiro. É o que revela a pesquisa inédita realizada pela Serasa em parceria com a Opinion Box, que aponta que 53% relataram aumento no otimismo em relação aos últimos anos, enquanto 47% apontaram elevação na segurança no controle dos recursos. O levantamento, que aponta outras tendências de consumo, foi feito em todo o país, ouvindo também moradores da região de Campinas.

O aposentado Rogério André Flausino, que tem dívidas de R$ 18 mil acumuladas há três anos, comemora a renegociação que conseguiu com desconto de 75% e parcelamento para quitação. Os débitos o impediam de conseguir fazer novas compras no crédito ou fazer financiamentos para tentar colocar a vida em dia. Com isso, ficava impedido de trocar os eletrodomésticos que precisa ou até obter recursos extras para pagar as dívidas.

“Com a renegociação, as parcelas vão caber na minha renda. É só fazer um esforcinho para garantir o pagamento”, afirmou. Para conseguir se planejar para pagar a dívidas, Flausino fez as contas, avaliou o gastos pessoais e fixos da casa e fez uma proposta que cabia no bolso. “Quem paga dívida nesse país é o pobre”, completou o aposentado.

HÁBITOS

De acordo com a pesquisa, 70% das pessoas parcelam as compras e 38% usam cartões de crédito de terceiros nessa operação. Esses dois fatores fizeram com que dona de casa Marina Siqueira entrasse na lista de inadimplentes da Serasa.

“Um financiamento e algumas compras foram minhas, mas também têm dívidas porque emprestei o cartão para os filhos”, relatou. As contas estão atrasadas há quatro anos e a consumidora diz não ter uma avaliação do total. Apesar dessa situação, ela está procurando levantar o montante para se preparar para pagá-lo. A pesquisa da Serasa apontou que 35% dos entrevistados têm como principal objetivo pagar as dívidas e 21% limpar o nome. Para isso, 48% pretendem recorrer a empréstimo pessoal e 21% ao crédito consignado.

Um dos termômetros da disposição de quitar as dívidas por parte dos inadimplentes foram as 5.614 pessoas atendidas e 6.717 acordos de negociações de dívidas feitas durante os dez dias que o caminhão da empresa de análise de crédito esteve em Campinas este mês. No total, os acordos fechados durante o projeto Serasa na Estrada resultaram em R$ 26,2 milhões em descontos à população da região, segundo balanço divulgado.

A média da dívida de cada devedor de Campinas é de R$ 6,1 mil, valor 45,23% superior à média brasileira, que é de R$ 4,2 mil.

Uma das beneficiadas pela passagem do caminhão pela cidade foi a costureira Cideni Gomes dos Santos, que conseguiu renegociar sua dívida de R$ 4 mil com um banco por R$ 240 parcelados em três vezes. “A dívida era uma coisa que estava me incomodando, pois não dá para fazer nada, mas agora vou poder ajudar meu filho a comprar um carro. Estou muito contente”, disse.

EDUCAÇÃO FINANCEIRA

Para fugir das armadilhas das dívidas, 56% dos entrevistados da pesquisa divulgada pela Serasa apontam que fazem o controle mensal das finanças e 31% passaram por cursos de educação financeira para aprender a ter maior controle. Para a gerente da Serasa, Amanda Castro, as pessoas “precisam aprender educação financeira e não gastar mais do que ganham” para conseguir evitar as contas atrasadas.

“Elas também têm que guardar um pouco, fazer uma poupança para cobrir as despesas extras que surgem”, completou. A pesquisa mostra que 21% dos entrevistados dizem que já gastaram mais do que pretendiam no mês, 20% têm o hábito de renegociar o pagamento de alguma dívida, enquanto outros 20% parcelam a fatura do cartão de crédito.

O levantamento mostra que 85% das pessoas dizem ter passado por situações de desequilíbrio financeiro nos últimos 12 meses. “A prática de sempre parcelar as compras pode ser uma armadilha porque abusar dos parcelamentos é sempre uma via rápida para o descontrole. O consumidor acaba não avaliando se ele realmente tem necessidade daquele produto e como ficará sua situação financeira futura ao comprá-lo” alertou o economista e educador financeiro Cristiano Corrêa.

Ele ressaltou ainda que os juros do cartão de créditos são os mais altos do país. Um levantamento divulgado pelo Banco Central em junho aponta que chegam a 455,1% ao ano, enquanto o do cheque especial das pessoas físicas está em 130,7%, contra os 59,6% dos empréstimos bancários.

EM ALTA

Apesar de haver a intenção por parte da população em pagar as contas em atraso, e o programa federal Desenrola Brasil, que também prevê renegociação de dívidas, a inadimplência segue em alta na Região Metropolitana de Campinas (RMC). Em julho, ela atingiu o recorde de 1,1 milhão de devedores, número proporcional à população de Campinas, de acordo com balanço mensal divulgado pela Serasa.

O total representa um aumento de 4,29% em comparação ao mesmo mês de 2022, quando era de 1,06 milhão. Ou seja, ocorreram as inclusões de 36.426 consumidores no período, média de 3.035 por mês ou 1 a cada 15 minutos. O montante da dívida também é recorde e atingiu R$ 6,47 bilhões em julho, O número de devedores de Campinas no cadastro da empresa de análise de crédito é de 434.321, com os débitos somando R$ 2,65 bilhões.

Para a gerente da Serasa, Amanda Castro, o aumento está associado ao fato de as pessoas estarem usando o cartão de crédito para cobrir despesas básicas, como alimentação, o que se traduz em compras em supermercados. O Mapa da Inadimplência da empresa mostra que as dívidas com bancos e cartões são a principal fonte de débitos em atraso, com participação de 29,54% do total. Em segundo lugar aparecem as utilities (23,94%), que são contas básicas como de água, luz e gás. A terceira posição é ocupado pelas financeiras (15,29%).

Das 20 cidades da RMC, cinco apresentaram queda no número de devedores em julho, mas com uma pequena variação, mais próxima da estabilidade: Artur Nogueira, Engenheiro Coelho, Monte Mor, Santa Bárbara d´Oeste e Santo Antônio de Posse. No Brasil, o número de devedores em julho foi de 71,4 milhões de pessoas, aumento de 5,5% em relação aos 67,63 milhões de igual mês de 2022.

Já o montante das dívidas disparou em igual período, com alta de 49,45%. Ela passou de R$ 235,2 bilhões para R$ 351,6 bilhões, de acordo com a empresa de análise de crédito. Para o administrador Elber Laranja, fundador de uma fintech de análise de crédito, o aumento está relacionado à queda do poder aquisitivo do brasileiro.

“Após três anos, a renda do brasileiro sequer retomou o nível pré-pandemia. Isso indica que, além da perda de renda e seus efeitos acumulados ao longo desses três anos, o trabalhador ainda não teve restituída de forma integral a sua já frágil capacidade de pagar pelo que compra”, disse ele, com base nos dados do “Retrato dos Rendimentos do Trabalho”, do Instituto de Pesquisa Econômica Avançada (Ipea).

Para ele, o programa de renegociação para tirar nomes da lista dos inadimplentes “não faz bem para o consumidor, não faz bem para o vendedor, não faz bem para mercado de crédito e não fará para a economia”. O administrador considera que a solução passa pela melhoria da produtividade nacional, redução do gasto público e controle da inflação.

“Nada como uma pílula mágica para dar a sensação coletiva de que algo está melhor. A pena é que seus efêmeros benefícios não pagarão a conta dos prolongados e iminentes efeitos colaterais”, afirmou Laranja.

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