MEMÓRIA

Mestra do giz, da lousa, dos causos...

Professora vira atração principal na agenda de encontros de ex-alunos do D. João Nery

Rogério Verzignasse
rogerio.verzignasse@rac.com.br
10/06/2018 às 09:41.
Atualizado em 28/04/2022 às 12:15

A professora Edercy rodeada pelos antigos alunos do Dom Nery (Arquivo Pessoal)

Quando a professora Edercy se apontou, no comecinho de 1990 — ela tinha 48 anos de idade. Não deixou o trabalho. Seguiu dando aulas de redação em casa, para garantir uma rendinha mais digna. O tempo foi passando, passando, e aquela senhora — que nem pensava em ficar parada no tempo — se meteu com a informática. Começou a trocar e-mails, postar fotos e, um belo dia, foi apresentada ao Facebook. Se apaixonou pelas redes sociais e conseguiu adicionar nada menos que mil amigos. Todos antigos alunos das escolas onde ela lecionou. Bom, o papo virtual com a turma rendeu um almoço no restaurante do Shopping D. Pedro, lá no começo da década. Aí veio outro, e outro, e outro. A dona Edercy Flores de Oliveira, hoje com 76 anos de idade, já perdeu a conta de quantos encontros “protagonizou”. E dos bares onde se reuniu com a galera. Detalhe: cada encontro aparece um “aluninho” novo. Todo mundo doido para reencontrar a professora. Matar a saudade da lousa, das prosas, das brigas, dos causos. Ah, moderninha a dona. Ela fala do laptop, do iPad, das postagens… Está virtualmente ligada com todo mundo. E lembra nome por nome, história por história. A trajetória Edercy nasceu em São Paulo, em 1942. Seus ancestrais eram importantes produtores rurais lá pelas bandas de Ribeirão Bonito. Mas a crise do café fez a família perder a fortuna. E ela nunca viveu na roça. Ela só tem na memória a imagem dos casarões dos barões, ali na região da Avenida Paulista. Cenário que, de alguma forma, remetia ao passado glorioso do clã. Desde sempre ela quis ser professora. Tinha “vocação inerente” à profissão, diz, quando entrou pelos portões do Colégio Progresso. Teve grandes professoras, como a mestra Amélia Pires Palermo. E fala emocionada de um tempo em que estava doente e, acamada, fazia em casa as lições da escola, trazidas pelas próprias mães dos amiguinhos. As pessoas se ajudavam, fala. Aos 18 anos, ela começou o curso de Letras na Universidade Católica de Campinas. Lecionou no Senac, Villagellin, Colégio Imaculada, Culto à Ciência. Concursada, lecionou em escola pública de Pedregulho e no Colégio Emílio Romi, em Santa Bárbara, antes de desembarcar de novo em Campinas e fazer carreira na Escola Estadual D. João Nery. Bom, sabe Deus pra quantos alunos ela lecionou. O fato é a dona nunca perdeu o carisma. Tá, tá. Dizem que ela era séria, brava, exigente. Mas também carinhosa, solícita, atenciosa. E foi a turma do D. Nery quem organizou o primeiro encontro. “Eu nunca precisei pedir carona. Os alunos sempre estão na minha porta”, fala Edercy. “Há gente que casou, que separou, que casou de novo, que tem filhos. É uma emoção a cada encontro.” Ah, a mestra não cita o nome de ninguém. Acha que é desrespeito com todos os outros. E não tem esse ou aquele preferido. “No último encontro, um aluno que reprovei na 6ª série me presenteou com lindas flores”, afirma. “Foi lindo trabalhar como professora. É lindo ser lembrada.” 

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