PRATOS VAZIOS

'Mesa Brasil' do Sesc Campinas recebe menos doações com a crise

Sesc Campinas registra redução de 40% na entrega de gêneros no primeiro trimestre de 2021

Raquel Valli/ Correio Popular
13/04/2021 às 13:07.
Atualizado em 21/03/2022 às 22:31
Funcionários do Mesa Brasil retiram alimentos em entreposto: queda das doações prejudica atendimento de famílias em vulnerabilidade (Divulgação/ Gato Amarelo Studio)

Funcionários do Mesa Brasil retiram alimentos em entreposto: queda das doações prejudica atendimento de famílias em vulnerabilidade (Divulgação/ Gato Amarelo Studio)

As doações de pessoas físicas e jurídicas para o projeto Mesa Brasil, criado pelo Sesc em 1994 e que auxilia 74 entidades sociais em Campinas caíram 40% neste primeiro trimestre de 2021 em relação à média do volume registrado nos meses do ano passado. A redução é explicada pelo avanço da crise econômica e pela deterioração do mercado de trabalho, que avançou em direção à classe média, camada populacional que tinha certa estabilidade quanto a emprego e renda antes da pandemia de covid-19 se alastrar.

Uma das iniciativas ajudadas pelo Mesa Brasil é o projeto Há Esperança, que atende famílias carentes no Parque Oziel e moradores de rua no Centro de Campinas. "Essa situação preocupa porque a gente não sabe se vai conseguir continuar dando assistência às famílias a médio e longo prazos. A pandemia tem apertado o cinto cada vez mais. A fome não, aumentou. É menos alimento chegando na casa das pessoas carentes. É menos alimento chegando no prato que quem tem fome", afirma Robson Teixeira Gondin, coordenador do projeto do Há Esperança.

De acordo com ele, a entidade ajudava 600 pessoas no ano passado. Hoje, de 250 a 300. "O projeto Mesa Brasil é uma salvação, principalmente no momento em que estamos vivendo. Para nós, ele é de uma importância muito grande", declara Gondin. O Mesa Brasil surgiu coletando, junto a empresas parceiras, alimentos excedentes ou fora dos parâmetros de comercialização no que diz respeito à aparência, mas que ainda apresentem padrões sanitários adequados ao consumo.

Diariamente, toneladas de frutas, verduras, legumes e demais alimentos não utilizados ou não vendidos em locais como feiras, padarias, supermercados, indústrias e centrais de abastecimento que iriam parar no lixo são aproveitados pelo projeto, uma estratégia que evita o desperdício e mata a fome de milhares de necessitados. Desde 2003, o Mesa Brasil presente em todo o país e funciona como uma rede, baseada na parceria entre sociedade civil, empresariado e instituições sociais. Em Campinas, funciona há dez anos e conta atualmente com 56 doadores, sendo 35 sistemáticos e 21 eventuais. Mensalmente, arrecada 25 toneladas de alimentos e atende a 12.300 pessoas.

Devido à pandemia, a operação foi expandida e incluiu outros itens alimentícios, além de doações feitas por pessoas físicas. "Nosso objetivo é cumprir a missão de responsabilidade social, ofertando cestas de produtos não perecíveis, além dos kits de higiene pessoal e limpeza, tão necessários neste momento instável e frágil", afirma o diretor do Sesc São Paulo, Danilo Santos de Miranda. Antes da pandemia, todo o material era entregue nas entidades, que produziam refeições. Hoje as ONGs retiram as doações no Sesc, montam cestas, e as distribuem diretamente às famílias, que preparam os alimentos em casa. Para participar, qualquer pessoa ou empresa pode doar alimentos, produtos de higiene pessoal ou de limpeza.

O contato é pelo e-mail [email protected] .

Impacto

"O impacto da pandemia foi real. Ao longo de 2020, a gente teve picos grandes de arrecadação, mas no final do ano passado, a gente notou uma queda. Neste primeiro trimestre, mais ainda.

Mas, o Mesa Brasil tem como objetivo manter, minimamente, a continuação do atendimento dessas famílias que necessitam das doações, mediante a atual vulnerabilidade social que vem aumentando", afirma nutricionista Lilian Rocha, coordenadora do programa na unidade do Sesc Campinas.

O doutor em economia pela Unicamp, Saulo Abouchedid, professor de pós-graduação da Facamp, explica que, no ano passado, boa parte dos empregos que pagavam melhores salários conseguiu ser mantidas. Os programas emergenciais também ajudaram na sustentação da renda. "Mas, este ano, com o fim do auxílio emergencial e com a desaceleração da economia, houve uma queda nos empregos que pagam melhores salários, resultando na deterioração da situação econômica das classes médias, o que trouxe provocou a queda das doações", explica.

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