Medida foi adotada em Campinas, Americana, Sumaré e Piracicaba para alimentos como arroz, feijão, óleo de soja, açúcar e leite
Quantidade de arroz (pacotes de 5kg) por consumidor está limitada em alguns supermercados de Campinas e região (Wagner Souza / AAN)
Alguns supermercados de Campinas e região decidiram limitar a quantidade de pacotes de produtos que sofreram alteração de preços frente à alta do dólar e ao descompasso na lei da oferta e da procura nestes tempos de pandemia e estiagem. A reportagem do Correio constatou ontem que esta medida foi adotada em estabelecimentos de Campinas, Americana, Sumaré e Piracicaba. A limitação de produtos ocorre principalmente nas unidades de arroz, feijão, óleo de soja, açúcar e leite. Normalmente os consumidores são informados por meio de cartazes sobre o limite de produtos por cliente. A rede Pague Menos, que tem unidades em 16 municípios na região de Campinas, limitou ontem, por exemplo, a quantidade de sacos de 5kg de arroz por consumidor. Junior Souza, gerente executivo comercial do Pague Menos, explicou que a rede comprou arroz dos fornecedores com preço 40% mais alto, mas garantiu que ainda não repassou o aumento aos consumidores. Souza disse que o limite de unidades na venda está relacionado a uma estratégia nos casos de produtos em promoção. “É comum haver limitação de produtos, principalmente quando se trata de produto em oferta. O objetivo é evitar que outros comerciantes comprem em grande volume e, depois, revendam com preços abusivos, deixando consumidores da rede sem a opção de compra”, comentou. Na rede de supermercados Savegnago, que também está com unidades em vários municípios da região, por exemplo, a reportagem verificou que havia limite de quatro unidades para a compra do arroz 5 kg de algumas marcas e para a aquisição do açúcar cristal de 5 kg de uma das marcas. No caso do leite, cada consumidor podia comprar no máximo 36 litros de uma das marcas. Preços De uma coisa o consumidor tem certeza: a compra de alimentos básicos para abastecer a casa está pesando mais no bolso dos brasileiros. O arroz teve aumento de 100% em um ano; e o feijão, dependendo do tipo, subiu mais de 30%, segundo dados da inflação oficial. O leite longa vida ficou 23% mais caro; e o óleo de soja, 19%. Os especialistas afirmam que o dólar alto faz com que muitos produtores prefiram exportar os produtos, ganhando em dólar, a vender no mercado interno. Apenas para se ter um comparativo, em agosto do ano passado, o dólar rondava os R$ 4 e atualmente passa dos R$ 5, uma valorização de 34% em seis meses. Economistas alegam que outro fator é a menor oferta de alimentos no mercado doméstico e que, por isto, os preços sobem. No caso do arroz, a situação foi agravada pela queda de 59% nas importações do produto entre março e julho deste ano. Um terceiro fator foi a pandemia por Covid-19, que mudou os hábitos de consumo dos brasileiros: com o isolamento social, houve redução no consumo de alimentos fora de casa e aumento nas compras para consumo na residência. Por último os especialistas afirmam que os países estão refazendo seus estoques de alimentos, principalmente na China, que estão comprando mais do Brasil, principalmente carnes. Em maio, por exemplo, a China comprou mais de 50% da carne bovina do Brasil, segundo a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo). A alta da carne bovina puxa também o aumento da suína e da carne de frango, que passam a ser mais consumidas como substitutas. Abras A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) justificou, em nota, que o crescimento das exportações de produtos, a alta do dólar, e a maior demanda interna, em decorrência da pandemia, provocaram a alta generalizada no preço dos alimentos básicos. A entidade informou que os principais fatores que geraram o aumento no preço do arroz, por exemplo, foram o consumo interno e a exportação para países asiáticos, que têm o grão como prato essencial. Já a alta do custo do feijão está voltada totalmente ao consumo interno, já que o grão não é tão exportado como o arroz. O feijão atingiu a sua maior alta em abril e, deste então, se manteve elevado. Segundo a Abras, o dólar alto e a demanda aquecida do mercado externo incentivaram a exportação de produtos. O Brasil começou a exportar mais, totalizando mais de 1,2 milhão de toneladas entre janeiro e julho deste ano, o dobro que verificado no mesmo período do ano passado. A Abras alega também que a margem de lucro dos supermercados está cada vez mais achatada, pois seria inviável repassar integralmente os aumentos ao consumidor final. Segundo a nota, os supermercados “estão trabalhando de forma extremamente responsável, levando segurança e tentando garantir o abastecimento ao consumidor”. Afirma, ainda, que: “os custos estão muito elevados e as margens estão extremamente reduzidas”. A Associação Paulista de Supermercados (APAS) reforçou as declarações da Abras e informou que o Índice de Preços para o Consumidor Amplo (IPCA) mostra um aumento nos preços do grupo dos alimentos. O feijão e o arroz, por exemplo, estão respectivamente com inflação acumulada em 23,1% e 21,1% em 2020. Juntando os preços de quatro produtos básicos como o arroz, feijão, leite e óleo de soja, por exemplo, há aumento acumulado médio em 18,85% no ano, número quase quatro vezes maior que o índice geral de preços dos alimentos, que está em 5%.