A enorme raiz ficou totalmente exposta após a queda da árvore; frequentadores do parque ficaram assustados com a gravidade do acidente (Rodrigo Zanotto)
Campinas registrou a segunda morte por queda de árvore em área de lazer em 27 dias, o que levou a Prefeitura a fechar, por tempo indeterminado, os 25 parques, 11 bosques e 35 praças de esporte. A menina Isabela Tibúrcio Firmino, de 7 anos, morreu no local; Gabriele de Araújo Rodrigues, de 27 anos, ficou gravemente ferida; e uma outra criança sofreu escoriações - todas as três atingidas na terça-feira de manhã por um eucalipto que caiu no Parque Portugal, conhecido popularmente como Lagoa do Taquaral, a maior área de lazer da cidade, que recebe um público de cerca de 5 mil pessoas nos dias úteis, alcançando 25 mil nos finais de semana.
A primeira vítima fatal foi o técnico em eletrônica Guilherme da Silva de Oliveira Santos, de 36 anos, que estava em um carro que foi atingido por uma árvore do Bosque dos Jequitibás, na Rua General Marcondes Salgado, no bairro do Bosque, no dia 28 passado. Nos dois casos, a Administração atribuiu as quedas à saturação do solo, encharcado por causa das constantes chuvas.
É a quarta morte relacionada às precipitações em menos de um mês na região. Na quinta-feira passada (19), um homem morreu atingido por um raio em Indaiatuba e um idoso, de 65 anos, morador no Jardim Santa Lúcia, em Campinas, sofreu um infarto fulminante ao ver a sua residência ser invadida por um alagamento.
LAGOA
A nova morte ocorreu durante um passeio familiar no Taquaral. A queda de um eucalipto, com 15 a 20 metros de altura, com peso em torno de 560 quilos, atingiu Isabela, filha de Sérgio Firmino, pastor da Igreja Batista Monte Cristo. Gabriele, que fazia caminhada na pista interna da Lagoa, também foi atingida e levada pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Vila Padre Anchieta e, depois, transferida ao Hospital Municipal Dr. Mário Gatti, onde passou por cirurgia.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, a vítima sentia dores abdominais. O hospital informou que não estava autorizado a divulgar informações sobre a paciente. Os pais de Isabela, que estavam no local, ficaram em estado de choque e também foram encaminhados à UPA. Uma outra criança que estava no local sofreu ferimentos leves. Em uma mesa de piquenique, a poucos metros da árvore caída, ficaram os alimentos e sacolas deixadas pela família após o acidente.
O empresário Cristian Dalmas Farias relatou que passou pelo local cerca de 30 segundos antes da queda do eucalipto. "Tinha acabado de dar a minha última volta na lagoa e me preparava para ir embora quando ouvi um forte estrondo e vi a árvore caída", disse ele, que todos os dias frequenta o parque. Para o empresário, as constantes quedas de árvores recentes em Campinas criam o temor de novos acidentes.
Logo após o acidente, as pessoas que estavam no por lá foram evacuadas e o parque fechado. Foi o caso do professor de taekwondo Alberto Iha e seus alunos, que estavam no Centro de Treinamento de Lutas. "Foi uma fatalidade. Pode acontecer em qualquer lugar", observou ele. "A Prefeitura fica de mãos atadas, porque tem chovido muito e a legislação proíbe o corte de árvores", disse.
FECHAMENTO
Porém, o professor de educação física Bruno Faria, que usa o parque para suas aulas, considera que foi uma tragédia anunciada e que a Lagoa do Taquaral deveria ter sido fechada antes. "A Prefeitura está muito omissa. Na semana passada, já ocorreram duas quedas de árvores no mesmo lugar. Era para ter sido interditado", acredita. O professor disse que orientou os seus alunos a deixarem de fazer exercícios no parque por causa das constantes quedas.
Após a morte, o Comandante do 1º Subgrupamento de Bombeiros (SGB), capitão Luiz Fernando Marucci Baccin, que esteve no local, afirmou que havia orientado o fechamento de todos os parques e bosques de Campinas e que recomendou a medida para outras cidades da região. "Aparentemente, a árvore estava sadia e a queda foi provocada pela saturação das chuvas na raiz, que se soltou do solo", acredita. Para ele, essa situação se repete em outros locais, gerando risco de novas quedas de árvores e o fechamento se torna uma medida preventiva para evitar novas vítimas.
O eucalipto que caiu no Taquaral foi cortado e retirado do local no início da tarde. Amostras serão encaminhadas para análise no Instituto Biológico e Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Mesmo procedimento adotado com a figueira branca que caiu no Bosque dos Jequitibás.
O prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos) seguiu a recomendação dos bombeiros e ampliou a medida, incluindo as praças de esporte, "em razão das fortes chuvas que atingem a cidade e dos riscos de quedas de árvores". Em nota oficial, ele disse que "lamenta profundamente" o acidente de terça-feira (24), solidarizando-se com as famílias das vítimas e colocando a Administração municipal para prestar todo o auxílio necessário.
A Prefeitura de Campinas também solicitou à população que evite circular em áreas com muitas árvores. Nos parques lineares que são abertos, como o do Rio das Pedras, em Barão Geraldo, serão colocadas placas de advertência. "É preciso que as pessoas evitem caminhadas ou correr em áreas muito arborizadas. Elas devem ter cautela e consciência do perigo", disse o secretário municipal de Serviços Públicos, Ernesto Dimas Paulella.
PEDIDO DE EXTRAÇÃO
Em entrevista coletiva no Taquaral, Paulella, que é responsável pelas áreas de lazer, afirmou que a morte gerada pela queda do eucalipto foi uma "fatalidade" e que há duas semanas a Prefeitura já havia iniciado medidas de prevenção, como a poda de todas as árvores dessa espécie no entorno do parque. A medida, explica, foi uma continuação ao trabalho de poda realizado no Bosque dos Jequitibás, para aliviar o peso das árvores e evitar quedas.
Ele nega negligência diante da queda de árvores no Taquaral na semana passada e pela área de lazer não ter sido interditada antes. "As árvores são protegidas por lei e aqui é uma APP [Área de Preservação Permanente]. Nem mesmo os eucaliptos, que são árvores exóticas, naturais da Austrália, podem ser extraídos sem autorização", afirmou. Segundo o secretário, durante as fortes chuvas da semana passada, uma equipe de engenheiros agrônomos e florestais fez vistoria visual no parque e não constatou risco de novas quedas.
"O eucalipto que caiu, aparentemente, estava sadio. Não apresenta sinais de fungos ou doenças", disse Paulella. Ele reafirmou que a queda deve ter sido provocada pelo encharcamento do solo devido às chuvas, associado a um vento mais forte. A raiz da árvore, que ficou exposta, era superficial e tinha em torno de 2 metros de diâmetro.
O secretário de Serviços Públicos anunciou que vai procurar o Instituto Florestal, órgão ligado à Secretaria Estadual de Infraestrutura e Meio Ambiente, para saber sobre a possibilidade de subtração dos cerca de 2,5 mil eucaliptos existentes na Lagoa do Taquaral.
De acordo com ele, as árvores são remanescentes da fazenda que existia no local, onde a área de lazer foi inaugurada em 1970. "Algumas têm mais de 70 anos, 40 metros de altura, e podem cair por causa do envelhecimento que ocorre naturalmente", diz. Ele complementa que os eucaliptos também espantam os pequenos animais e aves.
A queda da árvore com vítima fatal surpreendeu frequentadores do parque. O empresário Márcio Cruz, que fazia caminhada no lado externo, ficou sabendo do acidente fatal ao ser abordado pela reportagem. "O Bosque [dos Jequitibás] já havia sido interditado e agora os outros", disse. "As pessoas estão me ligando, perguntando se estou bem, porque sempre caminho aqui", disse a aposentada Neide Baruchi, que se exercita na Lagoa. Na segunda-feira, a prefeitura já havia fechado a Pedreira do Chapadão após deslizamentos de pedras e terra.
O vereador Paulo Gaspar (Novo) defendeu medidas para aumentar a segurança nas áreas de lazer e verde de Campinas. Entre elas, a realização de um censo arbóreo no município e a concessão à iniciativa privada das áreas de lazer.
"Quando você concede para uma empresa cuidar, a gente sabe que é diferente. É muito mais eficiente do que o poder público, que não tem muitos recursos", defende. Para ele, o censo permitirá verificar a saúde das árvores, os cuidados que precisam e onde há déficit, para que possa ser corrigido, o que permitirá um planejamento para toda a cidade.
Já o vereador Rodrigo Luís de Barros Almeida, o Rodrigo da Farmadic União, protocolou indicação na Câmara Municipal, demandando ao Executivo a realização de um contrato emergencial, cujo objetivo seria o de aumentar as equipes para vistorias, poda e extração de árvores na cidade. Na semana passada, a Prefeitura já havia divulgado um aditamento de R$ 1.956.230,96 por ano no contrato para a realização desses serviços.
QUEDAS
De acordo com o secretário de Serviços Públicos, o levantamento fitossociológico de Campinas teve início há dois anos e atingiu 30 mil das cerca de 800 mil árvores do município, ou seja, 37,5% do total. Segundo ele, o trabalho é lento, porque a quantificação, estrutura, funcionamento, dinâmica e distribuição da vegetação tem que ser feita in loco. Cerca de 300 árvores caíram em Campinas desde a semana passada devido às chuvas.
Troncos cortados no Bosque dos Alemães, no Jardim Guanabara, mostram que árvores caíram em outras áreas de lazer além do Bosque dos Jequitibás e Lagoa do Taquaral. Nesse local, o alambrado voltado para a Rua Pereira Tangerino está danificado em alguns pontos, por terem sido atingidos pelas quedas. Moradores reclamam ainda que há vias fechadas por árvores que caíram.
"Infelizmente, tem de acontecer uma fatalidade para tomarem alguma medida", reclama a dona de casa Cleusa Matos da Silva. De acordo com ela, uma árvore caiu na Avenida Carlos Grimaldi, no Jardim Conceição, semana passada e continua bloqueando uma das pistas. "Colocaram apenas um cavalete", crítica. O fotógrafo Edivaldo Alves afirma que a mesma situação se repete na Rua Nazareno Mingoni, no Jd. do Lago. "A Emdec [Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas] apenas colocou um cavalete, mas a rua continua fechada."
Paulella afirmou que a prioridade é desbloquear todas as vias, cortando as árvores e retirando os galhos para permitir a passagem de veículos. Segundo ele, os troncos serão retirados em um segundo momento. O secretário garantiu que as reclamações de vias ainda fechadas seriam verificadas e o problema solucionado.