DEPREDAÇÃO

Memória exposta ao vandalismo em Campinas

Reportagem constata danos e pichações nos monumentos instalados no Centro de Campinas

Fábio Trindade
15/04/2013 às 08:09.
Atualizado em 25/04/2022 às 20:30
MONUMENTO A RUY BARBOSA - A homenagem está na tradicional Praça Carlos Gomes, no Centro, com pichações em cima do nome e na base da estrutura (Fotos: Janaína Maciel/Especial para a AAN)

MONUMENTO A RUY BARBOSA - A homenagem está na tradicional Praça Carlos Gomes, no Centro, com pichações em cima do nome e na base da estrutura (Fotos: Janaína Maciel/Especial para a AAN)

A falta de interesse pela preservação e o desconhecimento das representações históricas são as principais causas apontadas por especialistas para explicar um grave problema urbano: a pichação. Os monumentos públicos de Campinas são, frequentemente, alvos de vandalismo, tanto que o mausoléu de Carlos Gomes, na praça Bento Quirino, marco zero da cidade, amanheceu anteontem com a inscrição do nome de uma facção criminosa. O caso é apenas um exemplo da exposição das esculturas instaladas no Centro à depredação.

A reportagem visitou esses importantes monumentos ontem e constatou o descaso, não só com o objeto, mas à memória da cidade. A começar pela própria praça que abriga o túmulo de granito do maestro. No local, a figura de Bento Quirino possui diversas pichações, além de estar riscada e suja. “Essa praça sofre com o vandalismo. As pessoas sobem na estátua do Bento Quirino, sentam no colo dele. Não têm respeito algum. E com a figura do Carlos Gomes é a mesma coisa. O problema é que a GM passa por aqui, vê um monte de gente no cercadinho do monumento, e não faz nada”, diz um taxista que tem ponto fixo na praça há 23 anos.

Perto dali, no Largo das Andorinhas, na Avenida Anchieta, a obra em concreto aparente do escultor Lélio Coluccini, que possui em sua parte frontal uma figura coroada de mulher em bronze, segurando o brasão de Campinas, também está avariada. A figura que representa a Princesa do Oeste está limpa, mas “as costas” do monumento possuem diversas pichações e alguns cantos quebrados.

Basta atravessar a rua e seguir um pouco mais à direita para ter outros exemplos. Na esquina da avenida com a Rua General Osório, há um busto intacto, porém é preciso conhecer a história de Campinas para saber quem é. No pilar de sustentação, deveria constar a inscrição “Ao Padre Anchieta Campinas”, porém, a única palavra inteira é Anchieta. E, em frente, na tradicional Praça Carlos Gomes, há inscrições rabiscadas no monumento a Ruy Barbosa, com pichação sobre o nome.

“Alguns falam em atitudes repressivas, que devem existir, claro, porque é um crime. Mas muitas vezes, estamos falando de moleques que normalmente estão envolvidos apenas nesse crime, não tem mais nada. Então imagina você jogá-los numa penitenciária por isso. É capaz dele sair mais criminoso”, explica o secretário de Cultura, Ney Carrasco.

Por isso, para ele, no que envolve a pasta, é preciso ser feita uma política cultural de médio e longo prazo. “A partir do momento que o sujeito tem mais formação, mais educação, ele começa a entender mais. Normalmente, os pichadores fazem parte de comunidades menos favorecidas, então o poder público tem que fazer um trabalho social nessas comunidades, melhorar a vida por lá, porque isso afeta a cultura e a educação também.”

Limpeza

O secretário de Serviços Públicos, o agrônomo Ernesto Dimas Paulella, informou que, em janeiro, foi montada uma equipe de manutenção para cuidar dos monumentos. “Era um serviço que não existia de forma regular. Ele é formado por um caminhão com jato de alta pressão de água, três funcionários e produtos para a limpeza, incluindo uma resina indicada pelo próprio Condepacc (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas). É algo diário, das 22h às 6h. Só que a pichação não sai fácil, porque a maioria dos monumentos são de granito ou de mármore, ou seja, bastante porosos.”

A equipe recebeu uma ordem específica para visitar hoje o mausoléu de Carlos Gomes para avaliar que ação deve ser tomada. “Já vamos começar a tratar o ocorrido. Mas isso precisa de uma ação mais efetiva, de policiamento, de punição.”

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por