Apesar de revitalizado, parque reaberto dia 1º continua vazio
Único visitante do parque, ontem, passa por uma das 40 placas de alerta espalhadas pela área (Carlos Sousa Ramos/AAN)
Apesar de revitalizado, o Lago do Café, no Taquaral, ainda causa receio aos campineiros. Poucos se arriscam a caminhar no parque, reinaugurado no dia 1º depois de ficar quatro anos fechado. À época, um funcionário do local morreu após ser picado pelo carrapato-estrela e contrair a febre maculosa. A Prefeitura afirma que a ocorrência do ácaro, principal vetor da bactéria causadora da doença, é praticamente nula no parque. Porém, o Lago tem 40 placas que informam sobre o risco de contaminação e afastam os visitantes.
O Correio esteve dois dias seguidos no Lago do Café, em horários diferentes. Na tarde de quarta-feira, a reportagem não viu ao menos um visitante no espaço, apenas funcionários que fazem a manutenção do parque. Já na manhã de ontem, enquanto o Parque Portugal tinha quantidade considerável de praticantes de exercícios, no Lago havia apenas um visitante curioso. O homem se identificou como Alexandre e disse que caminha todos os dias na Lagoa do Taquaral, mas resolveu ver como “tinha ficado o Lago do Café.”
“Eu gosto daqui, é um lugar que eu vinha muito antes de fechar. Pegava muita jabuticaba. O parque ficou bonito, mas acho que o pessoal ainda tem medo do carrapato”, disse Alexandre, que também disse não temer a febre maculosa. Os funcionários que trabalham no Lago afirmaram que durante a semana não existe movimento. “As pessoas visitam aos finais de semana, mas não é muita gente. O pico de movimento foi na inauguração”, disse o tratorista do Lago, Aroldo Borges.
Estagiário do Arquivo Público Municipal, que funciona no Palácio de Cristal, dentro do parque, Silvio Roberto Siani também disse que as pessoas não vão ao Lago do Café por medo de pegarem a febre maculosa. E os poucos que vão se assustam com as placas. Os avisos foram exigência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária para o espaço ser reaberto. “A mensagem de cuidado das placas é muito forte. E dá a entender que o local ainda está contaminado”, disse Siani.
Lagoa do Taquaral
A maioria das pessoas que o Correio abordou no Parque Portugal, localizado em frente ao Lago do Café, afirmou ter a sensação de o parque ainda estar contaminado. “Eu fico ressabiada. Tenho medo de ir lá por causa do carrapato-estrela. Está todo mundo comentando que tem receio”, disse a personal trainer Lourdes Miccoli, de 68 anos. Ela afirmou ainda que nenhum de seus alunos quer treinar no Lago. O casal Márcia e Newton Oppermann acredita que, aos poucos, as pessoas irão perder o medo de ir ao parque. “Entramos lá, mas ainda preferimos caminhar na Lagoa. Acho que houve pouca divulgação da abertura do Lago do Café”, disse Newton. Já Márcia afirmou que não se sente segura para ir ao local. “As placas assustam as pessoas.”
Propostas
A Secretaria de Cultura informou que prepara uma série de ações para incrementar as visitas ao Lago do Café. Entre as propostas estão a inauguração do Museu do Café, depois de o casarão do parque ser reformado. Outra iniciativa será a organização de uma feira de artesanato no parque, com apoio da entidade Casa do Artesanato. As duas ações serão feitas ainda este semestre.
A médio prazo, o Lago terá também uma escola de circo e um museu de artes no Palácio de Cristal, que hoje funciona como arquivo público do parque. Um projeto ambiental, da Secretaria do Verde e Desenvolvimento Sustentável, irá recompor a mata ciliar do Lago e envolverá crianças e adolescentes de escolas municipais, segundo a Administração.
A médica-veterinária do departamento de Vigilância de Saúde de Campinas, Andrea Von Zuben, explicou ainda que a possibilidade de alguém contrair a febre maculosa no Lago do Café é igual ou menor ao risco de se pegar a doença em qualquer outro parque campineiro. Segundo ela, a região de Campinas e do Rio Atibaia tem elevada ocorrência da bactéria que causa a enfermidade. No entanto, a eliminação das capivaras do parque tornaram o local seguro. “Houve uma minimização profunda do risco. Existe um acompanhamento sistemático do governo estadual e da Vigilância Sanitária municipal em relação à população de carrapatos. Ela é próxima de zero.”