CAMPO GRANDE

Médico se demite após plantão de 60 horas em PA

Durante cinco semanas, ele encarou sequências longas de plantão para evitar a desassistência na unidade

Patrícia Azevedo
27/04/2013 às 12:32.
Atualizado em 25/04/2022 às 18:33
Pronto Atendimento do Campo Grande (Cedoc RAC)

Pronto Atendimento do Campo Grande (Cedoc RAC)

Quando fez o juramento de Hipócrates, o ginecologista Cássio Arruda, de 45 anos, não poderia imaginar que teria de trabalhar horas seguidas por mais de um dia e negligenciar a família durante cinco semanas. O médico, que até há uma semana atuava como coordenador na Unidade de Pronto Atendimento do Campo Grande, chegou a trabalhar 60 horas ininterruptas para não deixar de atender a população da região,uma das mais carentes da cidade. E não ganhava hora extra ou qualquer tipo de benefício extra para trabalhar por dias seguidos.

“Por uma questão ética, civil e criminal, o médico responsável pelo serviço de saúde tem que assumir o plantão quando não tem ninguém para assumir. Se eu for embora para casa sabendo que não há médico, estou infringindo a lei e a ética da minha profissão”, explica.

Arruda acumulava as funções de pronto-socorrista e coordenador. “Como recebi pelos dois, atingi o teto que a Prefeitura paga. Então, não poderia receber mais nada, nem hora extra, adicional por insalubridade ou descanso remunerado”, conta.

Durante cinco semanas, ele encarou sequências longas de plantão para evitar a desassistência na unidade. Chegou a trabalhar 36, 48 e até 60 horas seguidas, mas cansou. No dia 18 de março pediu a exoneração do cargo de coordenador para se dedicar apenas aos plantões. No dia 17 de abril deixou de responder pela coordenação da unidade. “A situação vem se arrastando desde a gestão passada, mas piorou com as demissões do convênio com o Cândido Ferreira. Não aguentei, vou fazer agora os meus plantões”, diz.

Arruda disse que por várias vezes pediu ajuda à Secretaria de Saúde, mas não teve resposta. “É uma situação que se arrasta desde a gestão anterior, mas eu venho pedindo médicos há três anos e a situação não é resolvida. Eu estava assumindo a responsabilidade de uma situação que o Executivo não teve capacidade de resolver”, narra.

“Muitos dos médicos do PA Campo Grande eram contratados pelo Cândido. Para suprir a falta de profissionais, os médicos estão dobrando plantões e se desdobrando”, comentou o presidente do Sindicato dos Médicos, Casemiro dos Reis Júnior. Ele disse que irá cobrar da Secretaria de Saúde medidas que evitem essa situação.

A Secretaria de Saúde vem encontrando dificuldade em preencher as vagas deixadas pelas demissões dos funcionários contratados pelo Cândido. Segundo o presidente do Sindicato, isso ocorre por causa dos baixos salários oferecidos. “O salário inicial do médico para carga de 20 horas é de cerca de R$ 3,6, enquanto o piso da Federação Nacional para o mesmo período fica em R$ 10,4 mil”, explica.

O chefe de gabinete da Secretaria de Saúde, Edison Silveira, informou que do total de 200 vagas abertas em caráter de urgência, apenas 98 estão efetivamente preenchidas. Outros 30 médicos estão em processo de admissão. Ele confirmou os problemas relatados por Arruda e disse que foram situações pontuais. “São condições excepcionais. Não entendemos que tem que ser assim e estamos fazendo de tudo para remanejar as pessoas”, afirma.

Para atrair mais médicos, o governo Jonas Donizette (PSB) promete melhorar os salários dos profissionais da urgência e emergência.

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