Controlada pelos bandidos por celular durante 36 horas, mulher nem pensou em ligar para a filha
Uma médica de 53 anos de Campinas foi vítima do golpe do falso sequestro e entregou aos criminosos cerca de R$ 200 mil. Ela foi controlada pelos bandidos durante 36 horas, a partir de ligações telefônicas que davam ordens sobre como agir. A vítima só parou de transferir dinheiro para os ladrões depois que a Polícia Civil foi avisada e conseguiu localizá-la em uma agência bancária, dentro da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ninguém foi preso. O caso é investigado pelo Setor de Homicídio e Proteção à Pessoa (SHPP) e Delegacia de Investigações Gerais (DIG). A médica trabalha na rede pública e vive sozinha em Barão Geraldo. Ela tem uma filha de 23 anos, que mora e estuda em outra cidade. Por volta das 21h do domingo, a mulher recebeu uma ligação de um número privado que anunciava o sequestro da filha e exigia que ela não avisasse ninguém sobre o suposto crime, inclusive a polícia. Em nenhum momento, a vítima pensou em ligar para a filha. A mulher foi orientada pelos bandidos a não atender ligações, somente dos supostos sequestradores, que entrariam em contato por intermédio de números privados. Eles fizeram 100 ligações para a médica e falaram com ela por mais de 330 minutos (quase seis horas), entre a noite de domingo e início da tarde de terça-feira. “Eles a obrigaram a sair de casa e ficar perambulando pela cidade de carro. A vítima chegou a se hospedar em um hotel em Piracicaba, tudo com ordens dos falsos sequestradores”, disse o delegado do SHPP, Rui Flávio Pegolo. A médica passou por Hortolândia e outras cidades da região. Foi obrigada a dar a senha da conta bancária e depois fazer transferências para contas abertas em nomes falsos, que logo em seguida eram canceladas. “Como ela tinha plantão nos hospitais, durante esse período, os funcionários ligaram no celular dela, mas ela não atendia por causa da orientação dos bandidos. Então o pessoal entrou em contato com a filha para saber o que tinha acontecido. A filha avisou o pai, que mora em Campinas, e como ele não a encontro, procurou o 7º Distrito e registrou boletim de ocorrência de desaparecimento”, contou Pegolo. O comunicado foi feito no final da manhã da terça-feira. A partir de um sistema de inteligência, a polícia conseguiu rastrear e, juntamente com a Guarda Municipal e o Garra, localizaram a vítima em uma agência bancária, dentro do campus da Unicamp. Ela tinha acabado de fazer uma transferência de R$ 58 mil e negou que estava sendo vítima de um suposto sequestro. “Ela estava em estado de choque. Como os criminosos tiveram acesso ao que ela tinha na conta bancária, a manipularam com ameaças. Mesmo com a abordagem dos policiais, a vítima alegou que estava fazendo negociações de compra. Ela só descobriu que era golpe quando chegou aqui na delegacia e a colocamos em contato com a filha”, disse o delegado. “No caso da médica, foi tamanha a persuasão dos bandidos que ela nem tentou ligar para a filha. Há muitas tentativas de extorsão e elas têm que ser registradas, para que a polícia tente rastrear esses autores. E difícil chegar aos autores? É difícil pois eles se valem de documentos falsos, adquirem celulares com chips diferentes, abrem conta com documentos falsos, mas a polícia tem como identificar eles”, frisou Pegolo. O crime foi registrado no SHPP como falso sequestro e extorsão. A partir de agora, os policiais buscam rastrear as ligações e as contas usadas pelos criminosos.