ONG internacional organiza ações para garantir recuperação do mais diversificado bioma brasileiro
Há 500 anos, vegetação ocupava 1,3 milhão de quilômetros quadrados e se esparramava pelo território equivalente a atuais 17 estados nacionais, porém atualmente restam apenas 8,5% da gleba verde originária (Divulgação)
Na época do Descobrimento, a Mata Atlântica tinha 1,3 milhão de quilômetros quadrados, e se esparramava pelo território equivalente a atuais 17 estados brasileiros. Hoje, no entanto, passados pouco mais de 500 anos, restam apenas 8,5% de vegetação remanescente. Há regiões onde a mata foi completamente dizimada, como no interior paulista. O Estado de São Paulo preserva só 16% da cobertura original, basicamente no Vale do Ribeira e em trechos esparsos do Litoral. Nos demais estados brasileiros, a situação é igualmente alarmante, ou até pior. O fato é que, no território original da Mata Atlântica, moram atualmente cerca de 170 milhões de brasileiros. No mesmo trecho, também resistem dois terços de todas as espécies ameaçadas no Brasil. O patrimônio natural, riquíssimo, tem diversidade maior que a da Amazônia, por exemplo. Mas a fauna e a flora foram desaparecendo na mesma velocidade que se ergueram as cidades. O mais preocupante é que muitas espécies são endêmicas, ou seja, só acontecem naquele bioma. Entre os animais mais ameaçados estão o mico- leão-dourado, a jaguatirica, a onça-pintada e o tamanduá-bandeira. Na flora, aos poucos desaparecem o pau-brasil, o jacarandá-da-bahia, a aroeira do sertão, o ipê, o jequitibá e a peroba. A situação dramática já chamou a atenção de organismos científicos internacionais, como a gigantesca The Nature Conservancy (TNC), com sede mundial nos Estados Unidos. que mantém ações no mundo todo para preservar e recuperar trechos degradados. No Brasil há três décadas, o grupo atua principalmente na conservação de mananciais hídricos que possam garantir segurança hídrica à população, e se sustenta com as parcerias firmadas com órgãos públicos, empresas e outras entidades ambientalistas. O porta-voz da TNC no Brasil é o engenheiro florestal Rubens Benini, que há uma década responde pelos projetos da organização para a recuperação da Mata Atlântica e das savanas centrais brasileiras. Benini, graduado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), se especializou em geoprocessamento pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar ) e, há mais de 20 anos, se dedica a programas de restauração florestal desenvolvidos por centros universitários e prefeituras. “Há estados que devastaram muito. A Bahia, por exemplo, preserva 14% da vegetação original. Em Goiás, a Mata Atlântica praticamente desapareceu. É um fenômeno que começou ainda na época da colonização portuguesa, mas que atingiu a maior supressão vegetal nos últimos duzentos anos”, declara o professor. Os trechos preservados mais significativos, além do Vale do Ribeira, estão no Espírito Santo, Norte do Paraná, e em “manchas” espalhadas por Santa Catarina e região serrana do Rio de Janeiro. Mudança cultural De acordo com Benini, no entanto, a conscientização ecológica e os investimentos ordenados conseguem reduzir o desmatamento quase zero em alguns pontos. Graças, segundo ele, a organismos como o SOS Mata Atlântica - organização não-governamental fundada há três décadas por empresários, jornalistas e ambientalistas - foi possível garantir proteção a áreas remanescentes. A mata que hoje é preservada no próprio Estado de São Paulo, diz, é um exemplo de como o trabalho funciona. No Espírito Santo, destaca, o desmatamento já acabou. Além disso, já foram recuperados 120 mil hectares da mata. O sucesso, diz, se deve a três fatores: a consciência popular; as políticas públicas para investimentos na recuperação de florestas; e o envolvimento dos lavradores. A participação do agricultor, diz, foi fundamental. “Foram criadas alternativas para que o homem do campo aumentasse a produção em algumas áreas, otimizando recursos e abandonando áreas com menor aptidão agrícola”, afirma.