100 DIAS DE GOVERNO

Mário Gattinho segue no plano das intenções do governo Dario

Além do "Mário Gattinho", outras promessas feitas pelo prefeito ficaram no plano das intenções

Erick Julio/ Correio Popular
24/04/2021 às 16:38.
Atualizado em 21/03/2022 às 21:46
Hospital Metropolitano, onde seria instalado o “Mário Gattinho”: segundo a Prefeitura, unidade será implantada “quando a pandemia permitir” (Ricardo Lima/ Correio Popular)

Hospital Metropolitano, onde seria instalado o “Mário Gattinho”: segundo a Prefeitura, unidade será implantada “quando a pandemia permitir” (Ricardo Lima/ Correio Popular)

Superados os 100 dias de governo, o prefeito Dário Saadi (Republicanos) ainda tem feito a entrega de algumas obras nesta semana, que deveriam ter sido concluídas dentro do período por ele mesmo estipulado. Se há promessas cumpridas, como a abertura do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) Laudelina de Campos Melo, no distrito do Campo Grande, outras, ainda não saíram do plano das ideias. Uma meta que consta no programa de 100 dias da Prefeitura, e que não foi cumprida, é a criação da unidade pediátrica anunciada pelo então candidato com o singelo nome de "Mário Gattinho".

O hospital foi uma das principais promessas de Saadi durante a campanha, e seria implementado onde hoje funciona o Hospital Metropolitano, uma unidade de saúde privada. Durante uma transmissão online, realizada no dia 12 deste mês, o prefeito fez um balanço e falou rapidamente sobre os pontos do plano apresentado em janeiro.

Sobre o Mário Gattinho, Saadi lembrou que a intenção da Prefeitura é locar o prédio do Hospital Metropolitano para criar ali a unidade pediátrica.

Ocorre, no entanto, que os novos proprietários do hospital querem criar ali o Hospital Wakanda. A unidade, por sua vez, está sob o comando da administração municipal após uma requisição administrativa por conta da covid-19. O imbróglio jurídico deve se estender até o fim da pandemia. Na transmissão do dia 12, Saadi disse que "quando a pandemia nos permitir, nós daremos continuidade a esse processo". Ou seja, o projeto foi para as calendas.

Outra importante questão para Campinas, e que foi alvo das promessas do prefeito, é a redução na quantidade de funcionários comissionados da Prefeitura. O número de cargos em comissão foi alvo de um projeto de lei, de iniciativa do Executivo, que foi aprovado no dia 24 de março na Câmara dos Vereadores. De acordo com a administração municipal, a medida reduziu em 11% o número de assessores comissionados e vai gerar uma economia de R$ 20 milhões para os próximos quatro anos.

A redução apontada pela Prefeitura, no entanto, é questionada pela oposição no Legislativo. De acordo com a vereadora Mariana Conti (PSOL), líder da banca do partido, o projeto do Executivo não reduziu o número de comissionados. Segundo a parlamentar, a medida apenas "legalizou" cargos que deveriam ter sido extintos. "A gestão do Jonas já tinha sido condenada pelo excesso de comissionados, e ele só terminou o mandato por força de uma liminar. O projeto do Dário, na verdade, só legalizou os cargos que foram apontados como ilegais na gestão anterior. A Prefeitura só mudou a nomenclatura e critérios para legalizar a distribuição de cargos entre os aliados, que são os mesmos nas duas gestões", critica a vereadora.

Entre as obras e reformas previstas no plano está a do Mercado Municipal, conhecido como Mercadão. O prédio é um patrimônio cultural e arquitetônico de Campinas e aguarda por um processo de restauro desde o governo anterior. No plano de 100 dias, a Prefeitura aponta que "o projeto básico" foi concluído, entretanto, reconhece que o projeto de execução da obra está "em elaboração".

Para além do Mário Gattinho, dos comissionados e da reforma do Mercadão, o Correio Popular percorreu algumas das obras anunciadas no plano em diferentes pontos de Campinas. A reportagem também conversou com representantes de diferentes categorias e setores da cidade que fizeram uma análise das medidas anunciadas. A área da saúde é o setor com mais medidas no plano, o que reflete o momento da pandemia de covid-19. Segundo a Prefeitura, 53 novos médicos já estão trabalhando na rede municipal e outros 63 estão em processo de admissão. A administração municipal aponta ainda que outros 89 foram convocados, totalizando 205 médicos.

A presidente do Conselho Municipal de Saúde, Nayara Lúcia Soares de Oliveira, reconhece que a contratação de médicos é "positiva", especialmente pelo momento de crise sanitária. De acordo com ela, no entanto, a Prefeitura não cobriu o déficit de funcionários em outras categorias da saúde. Nayara revela que o Conselho fez um levantamento para dimensionar a quantidade de funcionários em cada área da saúde e constatou que faltam técnicos de enfermagem, agentes comunitários e equipe de saúde bucal.

"Sabemos que a garantia da saúde da população não é feita só pelos trabalhadores da medicina, mas sim de uma equipe multiprofissional. É preciso destacar também a falta de profissionais no que diz respeito às metas de cobertura populacional estimada pelas equipes de atenção básica. Campinas está muito abaixo da cobertura desejável", diz a presidente do Conselho, que revelou que a entidade tem recebido muitas reclamações sobre a falta de cobertura de plantões na rede de urgência e emergência. "Todos os dias recebo reclamações sobre plantões cronicamente descobertos. A Rede Mário Gatti foi criada em 2018 dizendo que haveria de enfrentar este problema, que continua tão grande como sempre foi", critica.

Entre as obras visitadas pela reportagem está a ciclovia Pirelli/Sírius, que interliga a Rua Vera Lúcia Tognollo Ággio, no Núcleo Residencial Três Estrelas, a um trecho da Avenida John Boyd Dunlop, na altura do bairro Satélite Íris. De acordo com a Prefeitura, a via, que tem uma extensão de 2,6 quilômetros, custou R$ 1,2 milhão dos recursos públicos. Se em alguns trechos a ciclovia possui infraestrutura ao redor, em outros, as condições são precárias. Ao caminhar pela ciclovia é possível notar que o trecho que cruza com a Rua José Humberto Bronca apresenta o asfalto irregular, o que coloca em risco os ciclistas.

Ainda na área de mobilidade e infraestrutura, a Prefeitura anunciou a conclusão de obras de pavimentação. Entre os locais contemplados está a Vila Vitória, na região do distrito do Ouro Verde. Ao chegar ao bairro, é possível constatar que o asfalto é novo, o que é elogiado pela população. Ao dirigir poucos metros pelas ruas do bairro, entretanto, o motorista é surpreendido com uma irregular, alta e improvisada lombada feita pelos moradores.

A desempregada Suzana da Silva, 35, conta que mora na Rua Horizonte. Ela explica que a Prefeitura fez a pavimentação, mas "não colocou nenhuma lombada". Segundo ela, foi preciso a mobilização dos moradores para evitar tragédias. "As ruas ficaram muito boas, é verdade, mas também trouxeram perigo por conta dos carros que agora passam mais rápidos. A gente percebeu que tinha um risco para as crianças e decidimos fazer as lombadas", conta Suzana.

Segundo o Plano de 100 dias da Prefeitura, foram feitas na Vila Vitória obras de pavimentação de nove quilômetros e a drenagem de 5,6 quilômetros ao custo de R$ 11,4 milhões. Nas próprias fotos da Prefeitura, é possível ver uma das lombadas improvisadas. Em entrevista ao Correio Popular, o prefeito evitou responder qual percentual do Plano de 100 dias foi cumprido. Disse somente que "muito pouco do que está no documento não foi contemplado".

Dário reconheceu, no entanto, que a criação do Mário Gattinho não foi cumprida e disse que o processo de locação do Hospital Metropolitano "está suspenso" até o fim da pandemia. Apesar do provável embate jurídico com os proprietários do imóvel, o prefeito acredita que há "segurança jurídica" para que a Prefeitura continue encampando o hospital. O político admitiu, porém, que a administração municipal estuda outros locais.

A reportagem também questionou o prefeito sobre as críticas ao projeto de lei que trata dos cargos comissionados. Ele rejeita os argumentos de que a norma sancionada não provocou redução. "A gente jamais iria afirmar algo que não tivesse acontecido. Reduzimos em 52 cargos e passamos a exigir qualificação técnica, além de estabelecer a divisão dos cargos nas secretarias. Seguimos e cumprimos a decisão judicial", assegura.

Conselheiros municipais criticam ações do período

Áreas da Saúde, Cultura e Meio Ambiente consideram desempenho fraco

A gestão de Dário Saadi superou os 100 dias e, apesar de celebrar o cumprimento das medidas anunciadas no plano, tem recebido críticas de alguns setores, especialmente da cultura e do meio ambiente. No dia 12 deste mês, o prefeito fez uma transmissão online para destacar as realizações da Prefeitura nos pouco mais de três meses em que está à frente do Palácio dos Jequitibás.

Na cultura, o plano de 100 dias trouxe três medidas: a implantação do selo amigos da cultura, que possibilita a adoção das parcerias público-privadas; a apresentação do plano de gratuidade de concertos da orquestra e o vídeo em homenagem ao compositor Zé Keti. Para Andrea Mendes, integrante do Conselho Municipal de Política Cultural, os pontos anunciados pela Prefeitura "reforçam a falta de uma política para a cultura de Campinas". De acordo com ela, o selo criado pela gestão Dário Saadi "leva à privatização de espaços públicos".

Andrea também questiona o anúncio da gratuidade dos concertos. "O plano traz a gratuidade da sinfônica, mas é algo que já acontecia. O prefeito só está dando continuidade. Além disso, como pode essa medida integrar o Plano de 100 dias, se não há possibilidade de a população usufruir dos concertos nos equipamentos públicos, diante da pandemia?", critica. Ainda sobre as medidas, a conselheira reconhece a importância da homenagem ao compositor Zé Keti, mas questiona a opção por contratar um artista de fora da cidade.

O cantor Dudu Nobre é a estrela do vídeo produzido pela Prefeitura. "Ao invés de abrir um chamamento público rápido para contratar um representante da nossa cidade, os recursos públicos foram usados para contratar outro artista. Tudo isso em um momento em que os trabalhadores da cultura passam por dificuldades diante da pandemia de covid-19", reclama.

A reportagem do Correio também conversou com Tereza Cristina Mora Penteado, secretária-geral do Conselho Gestor da Área de Proteção Ambiental de Campinas (Congeapa) e conselheira no Conselho Municipal do Meio Ambiente (Condema). De acordo com ela, a construção de novas praças é necessária, entretanto, é preciso ver se as obras, custeadas por meio de contrapartidas de empreendimentos imobiliários, "realmente atendem à questão ambiental".

"O que a Prefeitura trouxe no Plano de 100 dias nem de longe satisfaz todas as necessidades que nossa cidade tem por praças, áreas verdes e principalmente de arborização urbana. As árvores ajudam a diminuir a poluição, seguram enchentes e trazem conforto térmico nos dias mais quentes. Essa deveria ser a prioridade da Prefeitura: um estudo e inventário das árvores de Campinas", aponta Tereza.

O prefeito reconhece que a produção do vídeo deveria ter contratado algum artista da cidade. Segundo Dário, a Prefeitura vai "prestigiar os artistas locais nas futuras contratações". Sobre a ausência da questão da arborização no Plano de 100 dias, o prefeito disse que a administração está encaminhando um estudo completo e que "a questão ambiental é uma prioridade do governo". De acordo com ele, esse levantamento não entrou no plano porque não seria possível ser concluído em um prazo de 100 dias.

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