Falta de anestesistas suspende um em cada cinco procedimentos previstos no hospital municipal
Na Rede Mário Gatti, o estoque de contraste aplicado em exames de tomografia caiu drasticamente (Cedoc/RAC)
A falta de anestesistas está levando o Hospital Municipal Dr. Mário Gatti, em Campinas, a cancelar 20% das cirurgias que deveriam ser feitas na unidade desde o ano passado.
O problema começou depois que seis anestesistas concursados pediram exoneração para trabalhar em outros locais.
As demissões ocorreram entre setembro e dezembro do ano passado. Desde então, uma média de cem cirurgias deixaram de ser feitas todos os meses.
Para evitar que apenas uma das especialidades seja afetada pelo problema, o hospital implantou uma espécie de rodízio de trabalho entre as várias áreas médicas. Em tese, cirurgias de emergência e da oncologia têm prioridade. “Nós procuramos nos organizar para não deixar de fazer cirugias de câncer, mas já aconteceu de ter que desmarcar porque não havia anestesista”, afirmou um dos cirurgiões do hospital.
O médico contou que a falta de anestesistas vem afetando a rotina do centro cirúrgico. “Tem dia que o médico fica sem fazer nada, está ganhando para não trabalhar”, afirmou. Ele acrescentou que já houve dias em que trabalhou com a equipe reduzida pela metade. “É preciso contratar mais gente porque isso agrava o problema da espera pela cirurgia”, afirmou.
A situação complica ainda mais a vida de quem depende do Sistema Único de Saúde (SUS). A fila para alguns tipos de cirurgias chega a seis meses. Por dia, são realizadas em média de 25 intervenções cirúrgicas no hospital, sendo 20 eletivas e cinco ambulatoriais.
Para evitar o aumento da fila de espera pelas intervenções cirúrgicas, o Mário Gatti está realizando cirurgias aos sábados e mutirões .
Déficit
O Mário Gatti tem uma equipe com 32 anestesistas e, para funcionar de forma completa, precisa contratar mais seis. A administração do hospital reconhece a falta de profissionais e afirma que está tomando algumas medidas para minimizar o impacto das demissões.
Por meio da assessoria de imprensa, o hospital informou que está aumentando a carga horária de alguns profissionais, de 24 para 36 horas semanais. Três funcionários já concordaram em estender a jornada e a expectativa é de que haja mais adesões. Um concurso público aberto pela Prefeitura também prevê a contratação de cinco anestesistas. Outra medida que o hospital planeja implantar para minimizar o problema é iniciar a residência médica para a área de anestesiologista. Ainda não há previsão para que isso seja implantado.
Reincidência
Essa não é a primeira vez que a falta de anestesistas provoca a suspensão de cirurgias eletivas no maior hospital municipal de Campinas. Em setembro passado, a demissão de cinco anestesistas levou a unidade a implantar um rodízio de especialidades para a remarcação de cirurgias. Na época, o então presidente Salvador Pinheiro afirmou à reportagem que a medida foi adotada para não afetar somente uma área.