Fernanda Mazza de Sousa inovou, ingressando num segmento extremamente masculino: consertos elétricos e hidráulicos (Diogo Zacarias/ Correio Popular)
Fernanda Amanda Mazza de Sousa criou o "Fê faz" em 2016, momento em que resolveu ter o próprio negócio. Hoje ela conhece apenas outra mulher que atua nessa área em Campinas. "Eu atendo pessoas que precisam de algum reparo em casa, seja na área da elétrica ou hidráulica, ou para a instalação de algum móvel. Esse segmento é extremamente masculino. Tive essa ideia porque não me sentia à vontade em receber um homem desconhecido em casa. Então, atendo esse público que, assim como eu, se sente mais à vontade com uma mulher por perto", afirmou.
Hoje, Fernanda tem muitos clientes e conseguiu se estabelecer no mercado. Mas o início foi complicado porque as pessoas não acreditavam que uma mulher poderia fazer esse tipo de trabalho. "Eu era vendedora. Há cinco anos, quando saí do meu antigo emprego, decidi que iria abrir a minha empresa, mas ainda não tinha ideia do que fazer. Então, percebi que toda vez que recebia um homem em casa para fazer algum tipo de reparo, era desagradável. Inclusive, fui vítima de assédio em alguns desses episódios. Naquela época, eu ainda não sabia trocar um chuveiro ou uma lâmpada. E quando solicitava o serviço de um profissional, passava por algum tipo de constrangimento", explicou.
"Acredito que todas as mulheres já passaram por isso alguma vez. Por isso, decidi me especializar na área para atender esse público. Eu resolvi ser a mulher que iria fazer a diferença nessa área repleta de homens. Fiz cursos, aprendi tudo o que precisava. Primeiro, treinei em casa, pratiquei para ganhar mais agilidade no trabalho. Troquei prateleiras, assentei azulejos. Tive que me virar sozinha. Comecei a divulgar o meu trabalho nas redes sociais, mas ninguém me chamava por eu ser mulher. As pessoas não acreditavam que eu era capaz. Meus primeiros clientes foram estudantes da Unicamp - meninas que moravam sozinhas, precisavam de ajuda e não se importavam com o fato deu ser mulher", complementa.
Hoje o público da "Fê Faz" mudou. Levou dois anos para que a empresa fosse conhecida. A Fernanda conquistou a confiança dos clientes, e passou a contar com a divulgação deles. "Já aconteceu de pessoas me ligarem porque tinham o meu cartão e perguntarem se eu era babá. O machismo está em todo lugar. Quando vou à casa da cliente, além de fazer o reparo, também explico o que aconteceu e o que é necessário para resolver o problema. É importante termos pessoas mais independentes, mulheres que coloquem a mão na massa. Hoje, me sinto acolhida, me encontrei profissionalmente", destaca.
Em meio aos desafios da carreira, ela afirma que não trocaria de profissão. O relacionamento que ela tem com os clientes é saudável, muitos se tornaram seus amigos. Esse apoio é a sua motivação. "Tenho uma troca positiva com o meu público. O reconhecimento deles é o que me faz crescer e passar pelas dificuldades. Ainda hoje, quando vou a uma loja de material de construção para comprar peças, os vendedores têm certeza que não sei o que quero comprar, ou qual a utilidade daquela ferramenta. As pessoas precisam parar de classificar a mulher como incapaz. A maioria dos meus clientes são mulheres, casais, gays e trans. Faço todos os tipos de reparos na parte estrutural da casa e na instalação de móveis. Em uma área com tantas possibilidades de atuação, conheço apenas outra mulher que trabalha com isso em Campinas. O preconceito existe. Precisamos combatê-lo para mudar essa realidade", afirma Fernanda de Souza.