ENTREVISTA

Marco Eberlin afirma que existe apenas uma meta na Ponte Preta: ‘acesso, acesso ou acesso’

Presidente da Alvinegra reconhece a dificuldade de disputar a Série C, mas considera que o time tem condições de brigar para subir

Elias Aredes; Manuel Alves Filho
13/04/2025 às 13:18.
Atualizado em 13/04/2025 às 13:37

Na entrevista ao Correio, o presidente Marco Eberlin fala da importância da sua passagem pelo futebol amador de Campinas, destacando que a experiência foi fundamental para sua atuação à frente da Macaca (Ponte Preta)

Desde que assumiu a presidência da Associação Atlética Ponte Preta em 2022, Marco Antônio Eberlin tem enfrentando enormes desafios. O mais recente é reconduzir o clube à Série B do Campeonato Brasileiro. O dirigente afirma que o time foi montado com esse objetivo, e revela qual é o conceito adotado por todos na agremiação. "Não tem boa campanha. É acesso, acesso ou acesso. Se perder em casa, vai buscar fora; se perder fora, vai buscar em casa. Vamos comer o boi aos bifes, jogo a jogo, mas existe apenas uma solução, que é subir", sentencia.

Na última semana, Eberlin visitou o Correio Popular. Durante entrevista, o presidente da Alvinegra falou sobre a difícil realidade financeira do clube, que remonta ao período em que tomou posse. "O clube não tinha uniforme para jogar, não tinha bola para treinar, não tinha campo para treinar. As contas bancárias estavam bloqueadas", relata. O quadro melhorou de lá para cá, segundo ele, mas ainda é preciso avançar muito para conseguir o equilíbrio das contas. Atualmente, a dívida acumulada pela Macaca gira em torno de R$ 450 milhões.

"Estamos evoluindo. Depois de 30 anos, vamos publicar um balanço em que teremos superávit de R$ 8 milhões, resultado das vendas de jogadores. Além disso, o Departamento de Marketing da Ponte Preta nunca faturou tanto na história", assegura Eberlin, acrescentando que fez investimentos da ordem de R$ 7 milhões na manutenção e melhoria do Centro de Treinamento do Jardim Eulina e no Estádio Moisés Lucarelli. Sobre a dívida com o ex-presidente Sérgio Carnielli, Eberlin afirmou que houve redução de 40%. A seguir, acompanhe os principais pontos da entrevista concedida ao Correio.

Presidente, até que ponto a sua história no futebol amador lhe ajudou a enfrentar os desafios na Ponte Preta? 

Isso é fácil de responder. Os dois maiores dirigentes do futebol campineiro, os que ganharam mais projeção, vieram da várzea campineira. Peri Chaib, que chegou a diretor de seleções da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), e Marco Antônio Chedid, que foi diretor de futebol do Bragantino, vice-campeão brasileiro e presidente da Liga Campineira de Futebol. Isso é de grande valia. Talvez hoje não vai se conseguir formar novos valores na Liga Campineira, mas foi de suma importância. Durante 25 anos, a Liga ficou alijada da Federação. Para o dirigente que quer aprender, ali tem a Justiça Desportiva. Então, nas segundas-feiras, existiam os julgamentos dos atletas que haviam sido punidos anteriormente. Você tinha o direito de um recurso ao TJ (Tribunal de Justiça) e conseguia aprender a parte desportiva e jurídica do futebol.

Na atualidade, o senhor tem relacionamento com dirigentes que tiveram uma escola diferente da sua. Dirigentes de Corinthians, Palmeiras, São Paulo... Existe um choque de conceitos?

As pessoas que exercem essa função nesses clubes, até em outros, são profissionais contratados que fizeram cursos para aprender a trabalhar na área. Eu sou de uma época em que os diretores de futebol queriam estar no local. Eurico Miranda, Juvenal Juvêncio, Kléber Leite, Fábio Koff, Mustafá Contursi, Rodrigo Bivar, Roque Citadini, entre outros.

Em relação à Ponte Preta, que desafios foram encontrados? O senhor sempre fala de problemas gerados por administrações anteriores. O grande inimigo da Ponte Preta é a impunidade? Não faltou uma cultura de punição e de responsabilização aos autores dos atos?

Quando eu cheguei nós verificamos um valor de R$ 450 milhões de processos e impostos contra a entidade. Lógico que faltou (punição e responsabilização dos atos). Por outro lado, eu fui candidato à presidência da Ponte Preta em 2008. Naquela época eu já entendia como correto um "Plano Diretor" na Ponte Preta. Se a Ponte não se projetar para daqui a 10 ou 15 anos, ela vai ser suplantada. Eu previ isso lá em 2008. Eu assumi 16 anos depois, e o que aconteceu? Como é que a Ponte Preta pode ser moderna, se ela é medieval? É triste e humanamente é impossível você cobrar isso, não dá. Você pode cobrar de quem passou. A Ponte Preta não tem estrutura alguma para fazer frente hoje ao Novorizontino. Não tem estrutura alguma para fazer frente ao Mirassol. A Ponte tem mais camisa que todo mundo, mais tradição, vende mais, tem mais valor para agregar. Mas não tem estrutura que eles têm. Nessa revista (especial que será publicada pelo clube), eu falei: "Bom, vou cutucar o pessoal. Eu vou botar o Centro de Treinamento do Mirassol”. Então, na minha volta, eu vejo que tem que jogar com esses times, e eles estão com muito mais estrutura física e organizacional que a Ponte Preta.

O futebol campineiro está falido? 

Não digo falido, mas quase falido. Agora, eu preciso estabelecer um nível de transição para melhorar isso, porque nós temos esses exemplos que saíram de um patamar inferior para chegar onde estão agora. O Mirassol é o clube de um proprietário. Lá se ele fala: "Ó, não quero mais", é tchau. A mesma coisa o Novorizontino, que nasceu sem dívida. Esse Novorizontino existente não é aquele do passado que fez a final do Campeonato Paulista (em 1990 contra o Bragantino). O Mirassol não era um clube muito endividado. Ficou mais fácil porque eles direcionaram os investimentos para criar infraestrutura e não para (novo) estádio, como se pregou aqui na Ponte Preta. Quando esses clubes chegaram na primeira divisão já estavam com a estrutura que o Santos tem, que o Palmeiras não tinha, que a Portuguesa não tem, que o Corinthians já tinha. Precisa ter o mínimo de estrutura. A Ponte Preta não tem, ela tem um campo para treinar construído por mim, na minha época, na minha primeira passagem, em 2001. Já se passaram 24 anos. Choveu, nós vamos treinar nele. Tem estiagem? Nós vamos treinar nele. Agora, se surgir buraco, como é que você para? Eu cheguei na Ponte Preta e tinha campo de treinamento cheio de buraco, o estádio Moisés Lucarelli cheio de buraco. Eu precisei gastar R$ 350 mil para fazer uma pré-temporada fora de Campinas para poder recuperar os dois gramados. Isso não existe. Hoje uma equipe profissional tem que ter no mínimo dois campos. Eu estava acompanhando a evolução (na primeira passagem como dirigente). Eu saí, o que ocorreu? Nem um tijolo foi colocado. Nada foi feito na Ponte Preta. A gente vê aqui uma dívida de R$ 450 milhões, com todas essas dificuldades estruturais, e sem capacidade de investimento. Como é que a gente pode pensar no futuro do clube? É o que eu tô dizendo. O futuro imediato é que tem que pagar as contas na Série C. Mas nós temos que fazer um plano para frente e só pode ser feito a partir de agora.

O senhor sempre descreve a situação financeira delicada do clube. Os jogadores têm noção do tamanho do desafio que é defender a Ponte Preta nesta Série C?

Vocês vão ver. O balanço vai ser publicado daqui a pouco. Depois de 30 anos teremos superávit de R$ 8 milhões, com vendas de jogadores. O Departamento de Marketing da Ponte Preta nunca faturou tanto na história. É a quinta força do Estado, ficou comprovado neste ano. Eu consegui vender inúmeros jogadores no ano passado. E nós temos jogadores para vender. Eu tenho o Jeh, eu tenho o João Gabriel, que nós vamos ter que vender neste ano. Nós vamos vender para poder ter lastro financeiro para chegar (às finais da Série C). A Ponte Preta começa o Campeonato Brasileiro sem uma moeda de salário atrasado com funcionário desde que eu assumi. Com os atletas, nada, nada. Estamos sem dever nada para ninguém.

Vamos voltar a essa questão de olhar para o futuro. Como é que o senhor cria internamente mecanismos para evitar novos aventureiros? Como evitar a ocorrência de outras barbaridades?

Uma das situações que nasce agora e começa no segundo semestre é uma escola de conselheiros, para ensinar a pessoa a ser conselheiro. Não é ir lá e brigar para contratar tal treinador. Nós temos 300 conselheiros. O conselho tem que ser para outra coisa. Ele tem que ir lá aprender o que ele tem que cobrar, qual o orçamento do clube. É questionar: “Espera um pouco, você vai gastar tanto nisso? Não vai explodir o orçamento, não vai faltar dinheiro para o departamento amador, não vai faltar dinheiro para o departamento profissional?”. Eu sou da época em Zaiman de Brito Franco ficava num púlpito e no outro Pedro Politano ou Marcos Garcia Costa. Hoje não tem isso. Hoje o conselheiro vai lá e pergunta quantos pães são consumidos no café da manhã. Nós tínhamos um conselho diferenciado, médicos, engenheiros. Não que o de menos poder aquisitivo não possa ser (conselheiro), desde que ele aprenda. (Neste momento da entrevista, o presidente da Ponte Preta volta a falar sobre a situação que encontrou ao assumir o clube) Não tinha uniforme para jogar, não tinha bola para treinar, não tinha campo para treinar. As contas bancárias estavam bloqueadas. É tudo verdade.

Para conferir a entrevista completa assine o Correio Popular. 

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