Em entrevista exclusiva ao Correio Popular, Marcelo Silva deixou claro que se vereadores optarem pela rejeição do relatório, isso será passar a mão na cabeça de quem cometeu erros (Alessandro Torres)
A CPI da Câmara de Campinas, que apura suposta cobrança de vantagens indevidas para a manutenção de contratos de empresas terceirizadas pelo legislativo, se aproxima das conclusões após uma série de oitivas, mas sem conseguir ouvir os dois principais protagonistas das denúncias: o ex-presidente da Casa, Zé Carlos (PSB), e o ex-subsecretário de Relações Institucionais, Rafael Creato. Outro personagem importante no enredo, e o segundo a prestar depoimento à CPI, é o vereador Marcelo Silva (PSD). Ele, que foi procurado pelo denunciante - o empresário Celso Palma, do Grupo Mais, que administra a TV Câmara - falou sobre a ausência de depoimentos dos acusados de pedir propina, admitiu que faltou reação dos vereadores à versão de Creato em depoimento ao Ministério Público, quando lançou sobre os vereadores da Casa suspeitas de corrupção, e tratou a votação do relatório final como um "divisor de águas".
"É um divisor de águas. O que se tem aqui é se você quer continuar com o que era, esquemas, rachadinhas, ou se quer virar a página. Lá [NA CÂMARA]tem pessoas que são mais próximas. Eu posso falar tranquilamente que não tenho relacionamento de amizade com ninguém. São meus pares, meus colegas de trabalho, mas os vereadores mais antigos têm uma relação de amizade - acredito que até pelo tempo que eles estão na Casa, mas acho que se houver interesse em resgatar a credibilidade que está manchada por esquemas de rachadinha, falta de produção, é o momento de ter vontade de dar uma nova cara ao Legislativo."
Para Marcelo, se os vereadores optarem pela rejeição do relatório, isso será, mais uma vez, "passar a mão na cabeça dos corruptos" e uma demonstração de que os crimes saem sem punição. "Há uma exposição, mas depois as pessoas esquecem tudo o que a gente vem falando ao longo do tempo."
O vereador lembrou que foi procurado por Celso, que pedia ajuda diante da situação em que passava. "O primeiro ponto que deixo claro: se eu não fizesse nada, estaria cometendo um crime de prevaricação. Como homem público eu tinha - e tenho - o dever de auxiliá-lo, e foi isso o que fiz ao longo de alguns meses."
Marcelo não esconde sua opinião sobre o processo. "Como eu acabei me envolvendo com a história, eu não tenho dúvida de absolutamente nada".
Em outro momento, ele argumenta que quem defende que o crime de corrupção não foi concretizado está errado, pois "quando você é um homem público e pede algo, o fato de pedir já é um crime tipificado no código penal e é muito grave."
Para ele, hoje, a Casa está dividida, mas se o relatório final - que será feito pelo Major Jaime (PP) - for contundente e deixar claro quais são as irregularidades, os trechos das gravações que as comprovam, ele acredita que há possibilidade da aprovação.
"Existe essa divisão e é natural que exista. Agora, a partir do momento que você tem o relatório - e eu tenho certeza que ele será bem feito - com trechos da gravação [EXPLICITADOS]de forma clara, colocando 'olha, nesse momento existiu o pedido, com esse pedido você incorre em um crime de corrupção' acho que tem chance. Até porque, ano que vem tem eleições e quase a totalidade vai querer disputá-la, então acho que é o momento de passar uma régua e deixar a Câmara como tem que ser: transparente, cuidando do erário público e com responsabilidade."
O vereador do PSD comentou a versão dada por Rafael Creato em depoimento ao MP sobre os diálogos gravados pelo empresário Celso Palma, do Grupo Mais, e que motivaram a instalação da Operação Lambuja do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO). Creato lançou suspeitas de corrupção contra os vereadores da Casa, justificando que as conversas teriam sido motivadas por um pedido de Zé Carlos para que tentasse descobrir com o empresário que vereador estaria recebendo dinheiro por fora. Marcelo Silva admitiu que faltou uma reação dos vereadores e tratou como estranha e frágil a versão de Creato.
"Achei que faltou uma reação do conjunto de vereadores, dizendo que repudia veementemente esse fato, que é inverídico, até crime de responsabilidade, porque ele imputou um crime. Ele apenas jogou 'ah, a minha missão era descobrir e tem!'", afirmou Marcelo em referência às declarações de Creato que acreditava, mesmo sem provas, ter alguém recebendo dinheiro.
Nem Rafael Creato, que depôs apenas ao MP, nem Zé Carlos compareceram às duas oportunidades que cada um teve para esclarecer as acusações na CPI. A avaliação jurídica é a de que eles já são investigados pelo MP, que apura os mesmos fatos, e que uma obrigação de comparecimento poderia prejudicar o direito de não produzir provas contra si mesmo.
"Ele perdeu uma grande oportunidade para esclarecer a todos os pares, toda a população de Campinas, os fatos que aconteceram. A gente sabe que se ele quisesse ir, teria ido. Acho uma falta de respeito conosco e com a população, uma vez que ele está lidando com dinheiro público e, nesse caso, tem que ter muita responsabilidade", finalizou Marcelo.