Nova direção planeja investir R$ 60 milhões em mais leitos e reforma do prédio
A centenária Maternidade de Campinas realiza aproximadamente 700 partos por mês, dos quais entre 400 e 450 são realizados pelo SUS; desde sua fundação, em12 de outubro de 1913, a instituição já foi responsável por mais de 500 mil nascimentos, número que supera as populações de Hortolândia e Sumaré juntas (Kamá Ribeiro)
Após 111 anos de história, o Hospital Maternidade de Campinas será administrado por uma nova entidade. A Sociedade Campineira de Educação e Instrução (SCEI), responsável pelo Hospital PUC-Campinas e pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, assumiu a gestão da unidade na noite de segunda-feira (27). A transição, confirmada durante uma entrevista coletiva realizada ontem à noite, inclui o controle total da administração, bem como dos ativos e assivos da instituição.
A mudança de gestão representa um marco de esperança para a Maternidade, que corria risco de fechamento. Informações de bastidores reveladas em outubro do ano passado indicavam que a entidade só conseguiria operar por, no máximo, nove meses. Sete meses depois, a transferência foi concretizada sob a justificativa de que seria impossível manter o funcionamento e sanar as dívidas, atualmente estimadas em cerca de R$ 142 milhões. "Sem um socorro, temos capacidade para permanecer em funcionamento por até nove meses", afirmou o ex-diretor Marcos Miele na época.
Sem muitas alternativas para manter as atividades e preservar a instituição centenária, a entrega à SCEI foi aceita por unanimidade em uma assembleia realizada na noite de segunda-feira. Dos 101 associados, 77 compareceram e votaram a favor da transferência. A SCEI assume a gestão do hospital com o objetivo inicial de manter o funcionamento e enfrentar a dívida elevada. Além disso, a nova administração planeja abrir novos leitos e realizar investimentos de aproximadamente R$ 60 milhões nos próximos três anos.
Principal unidade de atendimento a gestantes na metrópole, a Maternidade de Campinas realiza aproximadamente 700 partos por mês, dos quais entre 400 e 450 são realizados pelo SUS. Desde sua fundação, em 12 de outubro de 1913, a instituição já foi responsável por mais de 500 mil nascimentos, atendendo tanto moradores da cidade quanto da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Esse número supera as populações de Hortolândia e Sumaré juntas, os dois maiores municípios da região, exceto Campinas.
No entanto, há quase dois anos, a entidade filantrópica enfrenta uma recuperação judicial, sem perspectivas de resolução. Em nota enviada à reportagem, a Secretaria Municipal de Saúde avaliou a transferência de gestão como positiva, destacando que já possui uma parceria com o município através do hospital da PUC-Campinas, que também atende via SUS.
CAUSAS
Em 12 de janeiro, o Correio Popular já informava que a mantenedora do Hospital PUC-Campinas estava estudando a possibilidade de assumir a Maternidade. Na época, a Sociedade Campineira de Educação e Instrução (SCEI) declarou, por meio de sua assessoria de comunicação, que ainda avaliava a viabilidade da transferência. Quatro meses depois, após um processo de nove meses, a concretização finalmente ocorreu.
"Havia uma preocupação da Igreja com a maternidade, principalmente pelo trabalho social que a instituição presta às mães. A descontinuidade do serviço seria prejudicial à comunidade", afirmou o novo vicepresidente da instituição, Monsenhor José Eduardo Meschiatti. "Diante disso, o arcebispo nos pediu um esforço nesta questão, pois é missão da Igreja, do evangelho e da palavra de Jesus apoiar o próximo. Além disso, a SCEI já tinha a intenção de expandir seus serviços na área social, o que coincide com a manutenção da Maternidade", acrescentou.
Após o apelo, técnicos da SCEI analisaram as questões jurídicas e econômicas da Maternidade, que são delicadas. A dívida com todos os credores está atualmente em torno de R$ 142 milhões, e a entidade não consegue conter o avanço desse valor, que aumenta mensalmente. Para assumir a gestão, a SCEI exigiu a transferência completa da unidade, com todos os seus problemas. "Inicialmente, houve receio entre os associados, pois a reação humana frente ao desconhecido é, às vezes, de dúvida. O que motivou, de fato, foi a esperança de manter a instituição aberta", explicou Marcos Miele.
"As dívidas viraram uma bola de neve e a geração de caixa não foi capaz de contêlas. A maternidade não tinha condições de arcar com seu passivo e, em agosto de 2023, procurei a mantenedora da PUC-Campinas para uma gestão conjunta. Não foi o que se consolidou, mas a conclusão foi satisfatória, deixando médicos, enfermeiros e demais profissionais felizes", disse o ex-diretor da instituição, que permaneceu três anos no cargo.
As causas que levaram a Maternidade de Campinas à atual crise estão relacionadas à falta de receita suficiente para cobrir as despesas. Atualmente, um parto natural custa entre R$ 3 mil e R$ 3,5 mil, enquanto o hospital recebe cerca de R$ 2,2 mil por procedimento, resultando em uma considerável defasagem. Nos últimos anos, a unidade chegou a realizar partos por R$ 440, muito aquém do necessário. A defasagem é ainda maior quando a parturiente ou o recém-nascido exige mais tempo de internação. Segundo a antiga diretoria, a pandemia também acentuou a crise.
MUDANÇAS
De maneira geral, o funcionamento do hospital permanecerá inalterado. Segundo Meschiatti, a intenção é preservar a identidade da instituição enquanto se implementam melhorias, especialmente na estrutura, que são necessárias de imediato. A SCEI já planeja investir cerca de R$ 60 milhões nos próximos três anos, visando adequações na infraestrutura e o cumprimento dos Termos de Ajuste de Conduta (TACs) estabelecidos com o Ministério Público Estadual (MPSP). A nova mantenedora também considera a possibilidade de abrir novos leitos.
"Os dois hospitais seguirão uma abordagem complementar, cada um com sua especialidade. Não haverá alterações no nome nem na identidade da Maternidade, apenas o indicativo de que a PUC-Campinas agora é responsável pela gestão", destacou Meschiatti.
Ainda não há uma previsão precisa para a recuperação financeira, mas segundo o procurador jurídico da SCEI, André Heinemann, isso ocorrerá a longo prazo. Ele enfatizou a necessidade de negociar com os credores para estabelecer os prazos de pagamento das dívidas, antes de estimar um período mais preciso para a recuperação.
Em relação aos serviços prestados, a entidade, por ser filantrópica, é obrigada a destinar pelo menos 60% do atendimento ao SUS, o que não será alterado.
Em comunicado enviado à imprensa, a Prefeitura de Campinas celebrou a transferência de gestão e se colocou à disposição da SCEI para auxiliar no início do trabalho, especialmente nos ajustes jurídicos relacionados ao atendimento pelo SUS. Somente em 2023, a Prefeitura repassou R$ 47.300.869,12 à Maternidade.
"A Maternidade de Campinas desempenha um papel de relevância na prestação de serviços de utilidade pública para o município e a região metropolitana, tanto para o SUS quanto para o setor privado. Apesar das dificuldades financeiras enfrentadas, ela permaneceu como uma referência regional, especialmente na área de neonatologia, devido à competência da equipe de trabalho do serviço", afirmou o comunicado. No entanto, a administração informou que aguarda uma comunicação oficial da transferência por parte da SCEI.
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