INDÚSTRIA RMC

Mais animados. E mais preocupados

Pesquisa mostra empresários dispostos a investir - e também com medo da desindustrialização

Adriana Leite
23/05/2013 às 10:30.
Atualizado em 25/04/2022 às 14:53

Na semana de comemoração do Dia da Indústria, celebrado em 25 de maio, os números da sondagem industrial do mês de abril divergem do discurso pessimista dos representantes do setor na região de Campinas.

Estudo apresentado ontem pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) mostra que os empresários estão mais dispostos a investir e elevaram a ocupação da capacidade produtiva.

Entretanto, dirigentes da entidade reclamam da situação crítica do segmento, que estaria perdendo competitividade ano a ano. Especialistas afirmam que hoje o maior risco é a desindustrialização em curso no País (do qual a região de Campinas não está imune), que está dizimando o parque industrial nacional.

O problema que afeta todas as cadeias produtivas é caracterizado pelo aumento das importações de bens acabados ou de bens intermediários e o fim da fabricação local de diversos itens.

Dados da balança comercial da Região Metropolitana de Campinas (RMC) do primeiro trimestre deste ano reforçaram o processo que lentamente vem reduzindo a produção e cortando postos de trabalho: as importações de bens de consumo aumentaram 38,1%, ao mesmo tempo em que houve uma queda de 8% das compras de bens de capital, usados para ampliar a produção nas fábricas.

A pesquisa apontou ainda que as importações de bens intermediários - acessórios para bens de capital e insumos industriais elaborados - tiveram uma alta de 13,3%.

Só da Argentina, o Brasil importou 262% mais no acumulado até março deste ano na comparação com o mesmo período do ano passado, ao passo que as exportações caíram 26,9% no mesmo período.

O saldo da balança ficou negativo em US$ 655 milhões e apresentou um avanço de 43,7% frente a março de 2012. Os números preocupam os representantes do Ciesp, que sentem a pressão dos concorrentes internacionais sobre o mercado nacional e a desindustrialização crescendo na região.

O coordenador do Centro de Pesquisas Econômicas da Faculdades de Campinas (Facamp), Rodrigo Sabbatini, afirmou que a desindustrialização do parque nacional é a maior preocupação para o setor hoje.

“O processo está acontecendo lentamente e é generalizado, atingindo várias cadeias produtivas. Os empresários estão optando por apenas finalizar os produtos ou comprá-los já prontos de outros países simplesmente colocar a sua marca aqui. No Brasil, as condições internas favorecem a disputa de mercado por grupos internacionais, e a queda dos preços em dólar também estimula as importações”, disse.

Sabbatini comentou que reverter esse processo é difícil, mas reconhece que o governo vem lançando mão de medidas para fomentar o crescimento dos elos de cadeias produtivas de ao menos alguns segmentos.

“O Inovar-Auto, por exemplo, está promovendo a reindustrialização da cadeia automotiva. O governo promoveu desonerações para quem deixasse de importar e comprasse insumos no mercado interno. O resultado foi um aumento de 30% na produção do setor. Mas é algo localizado. Programas como esse devem se estender a outras cadeias”, salientou.

Ele pontuou que governos, empresários e entidades devem promover ações que fortaleçam a indústria nacional.

Sondagem

Sabbatini comentou que a sondagem industrial de abril apresentou números que sinalizaram para uma retomada das atividades industriais na região.

“Há uma pequena melhora em relação aos primeiros meses do ano passado. Houve um aumento da utilização da capacidade instalada e uma redução dos estoques. Mais empresários responderam que houve uma elevação das vendas em abril. Eles também se mostraram mais dispostos a investir na produção”, comentou.

Embora o cenário seja um pouco mais animador, o economista afirmou que a indústria ainda está em compasso de espera. “Os indícios que temos são de, no máximo, uma tentativa de recuperação”, disse.

Segundo ele, as empresas começaram a sentir os benefícios da redução do custo da energia elétrica e para boa parte dos consultados na pesquisa a taxa de câmbio não afetou os negócios “nem de forma positiva, nem negativa”.

Entretanto, a alta dos juros preocupa o setor, que vê na medida uma sinalização de que o governo vai enfrentar a inflação com novas elevações da Selic.

Entraves

Menos otimista do que permitiriam os números da sondagem, o diretor-titular do Ciesp-Campinas, José Nunes Filho, voltou a criticar fatores que considera os grandes entraves para a expansão da indústria: alta carga tributária, custo elevado da mão de obra, logística deficitária, juros elevados e gastos públicos descontrolados.

“O Brasil não se recupera se não houver uma retomada da economia mundial. Continuaremos crescendo de 4% a 5% ao ano, bem abaixo de outros países emergentes”, comentou.

Nunes Filho afirmou que o diálogo com ogoverno melhorou, mas que as medidas ainda estão longe de atender às necessidades do setor.

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