PODER FEMININO

Maioria no mercado, mulheres miram as novas conquistas

Na RMC, elas ocupam 52% dos cargos, 56% das novas vagas e buscam posições de comando

Inaê Miranda
08/03/2013 às 08:53.
Atualizado em 26/04/2022 às 01:37
Glauce Anselmo Cavali, 37 anos, Polícia Militar  (Leandro Ferreira/AAN)

Glauce Anselmo Cavali, 37 anos, Polícia Militar (Leandro Ferreira/AAN)

Elas são maioria no mercado de trabalho, nos bancos das escolas. No cenário político, estão em posições jamais ocupadas anteriormente. Depois de derrubar barreiras e vencer preconceitos, aos poucos as mulheres foram conquistando espaços ocupados exclusivamente por homens e hoje são consideradas pilares da sociedade. Em Campinas não é diferente. A figura feminina predomina no mercado de trabalho e atua em setores considerados estratégicos. Neste Dia Internacional da Mulher, celebrado hoje, elas reafirmam a posição que ocupam, mas acreditam que ainda é possível conquistar muito mais.

Dados da Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic) apontam que 56,5% do total de vagas geradas na cidade hoje são ocupadas pelas mulheres e 43,5% pelos homens. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC), 52,8% dos postos de trabalho pertencem às mulheres e 47,2% aos homens. Adriana Flosi, primeira presidente mulher da Acic nos 92 anos de associação, ressalta que os números são extremamente positivos, mas a mulher ainda não ocupa os mesmos cargos de chefia, gerência e diretoria como os homens. “Temos que avançar ainda nesse sentido, porque muito se fala, mas são necessárias ações práticas e objetivas.”

No Brasil, as mulheres já ocupam cerca de 48% dos cargos de supervisão, 64% das vagas de coordenação e 24% dos postos de presidentes e CEOs, segundo um estudo realizado pela Catho Online, site de classificados de currículos e empregos. Flosi ressalta que a Organização das Nações Unidas criou em 2010 o protocolo de sete princípios a serem seguidos nas corporações e nos governos com o objetivo de ampliar e valorizar a liderança feminina no mercado de trabalho. “Obviamente tem que ser conquistado com capacidade”, diz.

O Correio traz na edição de hoje um pouco da história de vida e das perspectivas de mulheres que romperam barreiras e hoje se destacam pelas funções estratégicas que desempenham em Campinas ou pela dedicação total a uma causa e que fazem a diferença na cidade.

GLAUCE ANSELMO CAVALI 

Aos 37 anos, 20 deles atuando dentro da Polícia Militar, a capitã Glauce Anselmo Cavali galgou vários degraus até assumir o posto que ocupa hoje. Durante a trajetória de aspirante a oficial, formada pela Academia de Polícia Militar do Barro Branco, até ser promovida ao cargo de capitão, como define a PM, ela presenciou diversas transformações dentro da própria corporação em relação à figura feminina. Inclusive uma mudança na legislação interna, que permitiu à mulher concorrer aos cargos mais altos da Polícia Militar — como comandante geral da PM ou coronel — com base exclusivamente no mérito. Mudança considerada um marco para as mulheres dentro da instituição. “Ao meu ver foi extremamente positivo, porque acabou com as limitações. Ao longo dos 20 anos foi sumindo essa ideia de que mulher só comanda mulher e homem comanda mulheres e homens, a aceitação masculina foi acontecendo.” Segundo Glauce, o reconhecimento é uma conquista diária, seja das mulheres ou dos homens. “O profissional que se empenha e faz valer o tempo dedicado ao trabalho colhe o reconhecimento.”

ILZA CARDOSO

Ilza Cardoso Barbosa, de 77 anos, abraçou a missão de melhorar a comunidade em que vive. Ela ajudou a fundar o Centro Comunitário da Criança do Parque Itajaí (Cecompi), em 1989, por onde já passaram mais de 20 mil pessoas. Atualmente, a instituição atende 150 crianças e adolescentes de 6 a 14 anos da região do Campo Grande e suas famílias. Ela conta que as lutas não foram poucas. “Atendíamos 300 pessoas no início e, como não tínhamos muita estrutura, comecei cozinhando em fogão no chão.” O amor pelo que faz e o retorno que tem da comunidade motivam Vó Ilza, como é conhecida na região do Itajaí, a continuar com sua missão. “Acho que estou viva porque gosto de atuar na área social. O trabalho é grande, mas quando a mulher é de luta ela vai até o fim. Hoje atendo os filhos das pessoas que atendi no passado e fico feliz quando encontro com eles, muitos se formaram.”

MARINA GABETTA 

A soprano lírico, Marina Gabetta, de 49 anos, que recebeu em 2009 o troféu “Staff de Ouro” como melhor cantora erudita do ano de Campinas, assumiu a Diretoria Social da Associação Brasileira Carlos Gomes de Artistas Líricos em 2012 e vem se destacando cada vez mais na arte. Ela ressalta o papel da mulher na música como inspiração e como personagem fundamental na interpretação e atuação. Ela diz que o estigma da mulher ficou preso a um passado muito remoto. “Antigamente, os maestros eram exclusivamente homens. Hoje, a Lídia (a maestrina Lígia Amádio) está aí. Não menosprezando os homens, que são grandes companheiros, colegas de trabalho, mas a mulher está se mostrando cada vez mais o eixo dessa engrenagem que é a sociedade”, afirma. Lídia reforça que as mudanças aconteceram em todos os setores. “Hoje está claro para todos e a sociedade está cada vez mais girando em torno das responsabilidades da mulher. Certamente, essas responsabilidades triplicaram, mas conseguimos passar por tudo isso com muita firmeza e competência.”

PAULA SELHI 

Depois de enfrentar a perda brutal do filho Felipe Selhi, em 2010, para a violência, Paula Selhi viu na dor a oportunidade de se engajar em uma incansável luta pela paz. Ela fundou o movimento Felipe Selhi pela Paz e Segurança, 11 dias após o assassinato do jovem, e participa de grupos de apoio a mães que também enfrentam a mesma dor. Além disso, Paula realiza palestras em escolas e igrejas e planeja, junto com o Movimento Mães na Dor, visitar em maio familiares das vítimas de Santa Maria (RS). “A forma que encontrei de retribuir a Deus a oportunidade de ter sido mãe do Felipe por 17 anos foi me voltar para o outro. Não tem recompensa maior do que servir ao próximo”, afirma. Para Paula, as mulheres criaram força e garras para derrubar barreiras, mas sem perder a doçura. “A razão existe, mas o nosso coração é capaz de muita coisa“, afirmou.

SANDRA CIOCCI FERREIRA

Professora de música e doutoranda em música de cinema pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a primeira-dama da cidade, Sandra Ciocci Ferreira, ainda encontra tempo na agenda para atuar em um projeto artístico do Grupo Primavera e para acompanhar o marido, o prefeito Jonas Donizette (PSB), nos eventos. Apesar de não ocupar nenhum cargo específico dentro da Prefeitura, ela auxilia voluntariamente nos projetos ligados à sua área na Administração atual. Ela defende que, apesar de a mulher ter conquistado espaços importantes, ainda são necessários avanços. “Seria muito bom se a gente não precisasse de uma data para se lembrarem que a gente precisa de igualdade. A própria data já mostra que a mulher ainda não tem os mesmos direitos que os homens. A Lei Maria da Penha é um exemplo de que caminhamos cerceados pela lei. As pessoas precisam ser obrigadas a entender que a mulher tem o direito à integridade moral e física. Estamos próximas de uma igualdade, mas ainda não é plena”, afirma a primeira-dama. 

RAQUEL BELLO

Engenheira eletrônica com MBA em Gerenciamento de Projetos pela Faculdade Getúlio Vargas (FGV), Raquel Bello atua em um setor ainda dominado por homens. Ela é gerente de projeto de implementação de uma nova geração de produtos na região de Campinas, na Bosch, empresa onde atua há 11 anos. O seu trabalho vai desde garantir que toda a área fabril esteja preparada para produzir até garantir o atendimento dos clientes dessa nova geração de produtos. “Vejo com naturalidade que haja maior número de homens na área porque a diferença na proporcionalidade começa já na faculdade. Mas, uma vez dentro da empresa, o bom trabalho é a principal propaganda da pessoa”, afirma. Ela pontua, no entanto, que em alguns aspectos, principalmente no comportamental, a mulher é vista com um diferencial. “Somos vistas como mais educadas, mais gentis na hora de dar um feedback.” Algumas vezes mais cobradas também. “De uma forma geral, temos que ser melhores que os homens na mesma função para ter o destaque da mesma forma e o reconhecimento acontecer”, conclui.

 

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