Grupo Primavera tem quase 4 décadas confeccionando esperança com responsabilidade ambienta
Artesã da entidade, Lúcia Machado Lourenço alinhava sonhos há cerca de dez anos em uma jornada incansável de dedicação, que em muitos dias começa às 7h e só termina às 21h (Lizandra Perobelli/Especial para a AAN)
O Grupo Primavera é uma organização social civil, que há 36 anos presta assistência a crianças e adolescentes do Jardim São Marcos, centro de uma das regiões mais vulneráveis de Campinas. Todo mundo conhece, aquelas bonecas de pano, que se tornaram febre na cidade e ganharam até um estande de vendas no elegante Galleria Shopping. O que pouca gente sabe, é que a entidade se transformou em referência de eficiência e sustentabilidade. Os tecidos usados atualmente para a confecção das roupinhas das bonecas são todos de reaproveitamento. Até 2015, o grupo já recolhia, por toda a cidade, os retalhos usados como matéria-prima no ateliê de costura. Atualmente, no entanto, o pano das roupinhas é doado por uma empresa paulistana, que atua no segmento de promoção de eventos. A Tes Cenografia envia a cada mês cerca de 260 quilos de tecidos de poliéster à entidade. São peças e tiras que sobram da montagem de cenários. As saias e as camisas em miniatura, que vestem bonecos e bonecas, ganharam uma profusão imensa de cores e tonalidades. Até tiras estampadas são aproveitadas, em combinações caprichadas. Há tecido suficiente até para a fabricação extra de bonecas, atendendo ao pedido de grandes empresas, que as distribuem como presentes a clientes, fornecedores e funcionários, durante as festas de confraternização. E também há pano sobrando para a confecção de colchas, toalhas e almofadas. Pouco? Até a batina do diácono do bairro foi fabricado com o tecido sintético. As funcionárias contratadas há um tempão para a produção das bonecas já não dão conta do recado. A artesã Lúcia Lourenço as monta há dez anos. A costureira Rosemary Fernandes Voltarelli arremata barras e prega botões há 20 ano. Tem dia que as duas ficam ali no ateliê das 7h às 21h. Para resolver a sobrecarga, os moradores do próprio bairro começaram a aparecer na sede do grupo e a trabalhar de forma voluntária. Até batina O casal Aristides e Vanda Tavares da Silva sempre trabalhou nos eventos da Paróquia São Marcos Evangelista. Lá no Grupo Primavera, os dois começaram a confeccionar toalhas usadas nas mesas da quermesse. Todas com o Oxford de poliéster reaproveitado. O diácono, Fábio Fernandes, encomendou a batina. Branquinha, bonita que só vendo. “Só não é de tecido reciclado a estola”, divertiu-se Vanda, falando da elegante cobertura da casula dos padres. Mas as famílias do bairro também levam vantagem com a reciclagem. O tecido serve para fazer colchas para cama. As peças são confeccionadas pelas próprias meninas atendidas pelo grupo. A coordenação do trabalho é de outra voluntária, Vanilda Avelino. Ela já formou cinco costureiras, e começa a orientar mais cinco neste ano. “Ao mesmo tempo que aprende o ofício, a aluna ajuda as famílias pobres do bairro. É muito bom trabalhar assim”, pondera. Os artigos com tecido reaproveitado estão por toda a cidade. Até as urnas improvisadas para o recebimento de tíquetes do Programa Nota Fiscal Paulista são envolvidas, dentro dos supermercados, com os panos coloridos. “Aqui não se perde nada”, afirma a Denise Podolski, que cuida do setor de marketing e relacionamento do grupo.